O
Ano Litúrgico é uma grande escola para conhecermos Jesus, sua missão e os
caminhos pelos quais corresponder ao Deus que se revelou. As celebrações têm um
aspecto especular, isto é, são um espelho para nos vermos e ajustar nossos
caminhos. Os primeiros cristãos, principalmente os de origem judaica, e eram
muitos, colocavam-se diante do problema: Se Deus escolheu um povo para ser o
depositário das promessas, das alianças, por que agora os pagãos entram em pé
de igualdade na comunidade cristã? Jesus ensina que o Reino é aberto a todos os
povos e igualmente aos judeus. Os judeus não perdem seu passado. Paulo é claro;
“A eles pertence a adoção filial, a glória... e dos quais descende Cristo
segundo a carne” (Rm
9,1-5). E diz também: “Israel ficou endurecido” (Rm 11,7).Os judeus não foram
recusados. Ao tronco da oliveira doméstica foi enxertada a oliveira selvagem.
Se esta floresceu, quanto mais florescerá o ramo natural (16-36). O ensinamento
de Jesus não se dirige ao povo, mas aos chefes que eram os responsáveis a quem
Deus confiou o povo. Nesta parábola podem, sobretudo os que têm alguma
responsabilidade sobre o povo, seja religiosa, civil ou social, fazer um exame
de consciência, pois a eles ela se dirige.
Deus quer os frutos
A
profecia de Isaias mostra o desencanto de Deus contra a falta de correspondência
a seu plano. A parábola ensina que a vinha é o povo. Deus cuidou dela com tanto
carinho e, quando veio buscar os frutos, só encontrou uvas azedas que são o
sangue derramado e a injustiça. O texto da parábola é uma síntese da história
do povo e de suas contínuas recusas. Ela é feita para os chefes do povo, que, tendo
a responsabilidade sobre ele não o levou a produzir frutos para Deus. Os
profetas foram mortos por cobrarem esses frutos. Deus mandou Jesus, o Filho,
que veio anunciar a vontade de Deus. Também Ele foi morto e fora da vinha, isto
é, fora das portas da cidade. Ele, que foi recusado, tornou a pedra angular do
novo edifício. É Ele quem deu a Deus os resultados da vinha. O povo produzirá
frutos. A vinha não é devastada, mas tem outro responsável que a faz produzir
frutos para Deus.
O Reino vos será tirado
Deus
fez muito por seu povo e agora faz por nós que recebemos a herança de Deus.
Deus é fiel. Se formos infiéis, Ele pode confiar a outros o cuidado de sua
plantação. Deus se comprometeu em fazer sua parte. Mas, se a Igreja e a
sociedade, nas pessoas de seus responsáveis, a quem Deus seu povo e seu Reino,
repetirem o que fizeram os chefes dos judeus, seremos todos excluídos. Muitas vezes
nos questionamos sobre a fuga de tantos da Igreja. Temos as seitas, o ateímo, o
laicismo e outros nomes. Será que não estamos obstruindo o plano de Deus com
leis, costumes, políticas religiosas, filosofias que pouco tem a ver com o
Evangelho? A vinha será dada a outros que possam produzir para Deus. Daremos um
testemunho melhor se formos mais coerentes. O que podemos fazer para corresponder
aos compromissos que Deus fez para conosco? O que esta Palavra nos questiona?
Paulo dizendo: “Praticai o que aprendestes e recebestes de mim ou que de mim
vistes e ouvistes” (Fl
4,9). Quando nos reunimos, é preciso ouvir o que Deus tem a nos dizer. A
celebração não é só uma oração, mas um questionamento e uma missão.
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