PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA |
1885.
O Senhor ressuscitou...
Ao
ouvirmos os discursos dos apóstolos depois de Pentecostes, sentimos o desejo
ardente desses homens simples de transmitir a certeza da Ressurreição de Jesus.
Eles afirmam com segurança: “Nós O vimos”, “Ele Se pôs no meio de nós”. Querem
transmitir sua experiência de terem vivido com Ele uma normalidade de vida:
“Nós que comemos e bebemos com Ele depois que ressuscitou dos mortos” (At 10,41). O vigor
deste anúncio vem da certeza da experiência pessoal. Não se tratou de um
defunto que voltou, mas alguém que morreu e passou à vida ressuscitada. Seu
corpo não conheceu a corrupção. A morte não O dominou. Lázaro morreu e voltou à
vida. Mas depois morreu de novo. Os próprios dirigentes do povo, sumos sacerdotes,
reconheceram a Ressurreição, tanto que pagaram aos soldados para que dissessem
que “enquanto dormiam, os discípulos vieram e roubaram o corpo” (Mt 28,11-15). S.
Agostinho diz: “Se estavam dormindo, como souberam que foram os discípulos”? Os
discípulos eram muito simples para inventar essa história. Eles mesmos, como dizem
os discípulos de Emaús, já tinham por encerrada a “temporada” de Jesus. A
Ressurreição é um fato totalmente novo e o princípio de uma vida completamente
nova. Não se trata somente de um fato histórico, mas de um fato que dá início a
um mundo novo. Mas não mudou nada na história do mundo, podemos dizer. Esse
fato vai além da história, pois penetra na eternidade. Justamente aqui é que se
justifica a força dos apóstolos que entenderam sua dimensão divina. Deus
ressuscitou Jesus (At
10,40).
1886.
Creio na Ressurreição
Rezamos
na profissão de fé que cremos que Jesus ressuscitou. Mas não passa muito de uma
afirmação de fé que não interfere em nossa vida. No catolicismo ocidental
passamos por um tempo difícil. Depois da formação do cristianismo ocidental
houve a decadência do império romano e a invasão dos povos novos que vieram de
longe, chamados de bárbaros. Não tinham a tradição e outra formação. Foram
necessários séculos para que fossem formados na cultura ocidental. Houve um
distanciamento da cultura e da formação cristã. Pelos inícios do segundo
milênio, deu-se muito valor aos aspectos humanos da vida de Cristo, de Maria e
dos Santos. A Ressurreição, que é mais difícil de explicar, ficou como uma
doutrina mais distante. Não influenciava a vida concreta das pessoas. A partir
dos tempos da renovação que culmina no Vaticano II, deu-se maior valor a esse
dado fundamental de nossa fé, colocando-o como fundamento e gerador da vida
cristã.
1887.
Vivemos
a partir da Ressurreição
Será um processo muito longo passar
de uma religiosidade somente devocional para uma fé fundada na consciência da
Ressurreição como centro da vida cristã. Ela não elimina a devoção e, na
verdade, a torna sólida. O sentimento participa da entrega de fé, mas só o
sentimento não é capaz de sustentar a vida cristã. A fé na Ressurreição nos une
a Cristo em sua passagem (Páscoa) da morte para a Vida. Esta passagem, a
fazemos como os discípulos fizeram, como lemos no evangelho e nas cartas de S.
João: Vivendo o mandamento novo do amor. Nele fazemos a passagem da morte para
a vida, isto é, saímos de nós mesmos como Cristo saiu de Si e fez a passagem
para o Pai dando-se aos irmãos. Supera-se o individualismo de uma fé voltada
para si, para uma fé fortalecida pelo amor. “Sabemos que passamos da morte para
a vida porque amamos os irmãos” (1Jo 3,14). Essa é a Páscoa do discípulo. É a morte que dá vida.
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