segunda-feira, 22 de maio de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “Ressuscitou ao terceiro dia”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
1885. O Senhor ressuscitou...
            Ao ouvirmos os discursos dos apóstolos depois de Pentecostes, sentimos o desejo ardente desses homens simples de transmitir a certeza da Ressurreição de Jesus. Eles afirmam com segurança: “Nós O vimos”, “Ele Se pôs no meio de nós”. Querem transmitir sua experiência de terem vivido com Ele uma normalidade de vida: “Nós que comemos e bebemos com Ele depois que ressuscitou dos mortos” (At 10,41). O vigor deste anúncio vem da certeza da experiência pessoal. Não se tratou de um defunto que voltou, mas alguém que morreu e passou à vida ressuscitada. Seu corpo não conheceu a corrupção. A morte não O dominou. Lázaro morreu e voltou à vida. Mas depois morreu de novo. Os próprios dirigentes do povo, sumos sacerdotes, reconheceram a Ressurreição, tanto que pagaram aos soldados para que dissessem que “enquanto dormiam, os discípulos vieram e roubaram o corpo” (Mt 28,11-15). S. Agostinho diz: “Se estavam dormindo, como souberam que foram os discípulos”? Os discípulos eram muito simples para inventar essa história. Eles mesmos, como dizem os discípulos de Emaús, já tinham por encerrada a “temporada” de Jesus. A Ressurreição é um fato totalmente novo e o princípio de uma vida completamente nova. Não se trata somente de um fato histórico, mas de um fato que dá início a um mundo novo. Mas não mudou nada na história do mundo, podemos dizer. Esse fato vai além da história, pois penetra na eternidade. Justamente aqui é que se justifica a força dos apóstolos que entenderam sua dimensão divina. Deus ressuscitou Jesus (At 10,40).
1886. Creio na Ressurreição
            Rezamos na profissão de fé que cremos que Jesus ressuscitou. Mas não passa muito de uma afirmação de fé que não interfere em nossa vida. No catolicismo ocidental passamos por um tempo difícil. Depois da formação do cristianismo ocidental houve a decadência do império romano e a invasão dos povos novos que vieram de longe, chamados de bárbaros. Não tinham a tradição e outra formação. Foram necessários séculos para que fossem formados na cultura ocidental. Houve um distanciamento da cultura e da formação cristã. Pelos inícios do segundo milênio, deu-se muito valor aos aspectos humanos da vida de Cristo, de Maria e dos Santos. A Ressurreição, que é mais difícil de explicar, ficou como uma doutrina mais distante. Não influenciava a vida concreta das pessoas. A partir dos tempos da renovação que culmina no Vaticano II, deu-se maior valor a esse dado fundamental de nossa fé, colocando-o como fundamento e gerador da vida cristã.
1887. Vivemos a partir da Ressurreição

            Será um processo muito longo passar de uma religiosidade somente devocional para uma fé fundada na consciência da Ressurreição como centro da vida cristã. Ela não elimina a devoção e, na verdade, a torna sólida. O sentimento participa da entrega de fé, mas só o sentimento não é capaz de sustentar a vida cristã. A fé na Ressurreição nos une a Cristo em sua passagem (Páscoa) da morte para a Vida. Esta passagem, a fazemos como os discípulos fizeram, como lemos no evangelho e nas cartas de S. João: Vivendo o mandamento novo do amor. Nele fazemos a passagem da morte para a vida, isto é, saímos de nós mesmos como Cristo saiu de Si e fez a passagem para o Pai dando-se aos irmãos. Supera-se o individualismo de uma fé voltada para si, para uma fé fortalecida pelo amor. “Sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos” (1Jo 3,14). Essa é a Páscoa do discípulo. É a morte que dá vida. 

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