sábado, 10 de setembro de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Hoje nasceu um Salvador”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
O povo viu uma grande luz
               “Quando o mistério é muito grande a gente não ousa desobedecer!” Escreve Saint-Éxupéry, no Pequeno Príncipe. Ali, no presépio, está o pequeno príncipe que ousou obedecer ao Pai e se fez pequenino. Eu me sinto perdido quando tenho que falar ou escrever sobre o Natal. Parece que não chego a perceber a grandeza do momento. Quando fui a Belém, na gruta do nascimento, vendo aquela estrela de ouro no chão e escrito em volta “aqui o Verbo se fez carne”, fiquei sem palavras. A única coisa que podia fazer era lembrar de todos que faziam parte de minha vida. Talvez este seja o único modo de reagir diante do mistério. O que cerca o nascimento de Jesus são os olhares silenciosos, mas brilhantes: os olhos de Maria, José, dos pastores, dos Magos. Viram a grande luz! Aquela mesma luz que viram os sofredores na noite da dor na Galiléia (Is 9,1); Noite dos pastores brilharam os Anjos cantando (Lc 2,9.13-14). S. Leão Magno, ao escrever as orações para o Natal fala da luz: “Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz...”. A luz traz a alegria, como a dos ceifadores após a colheita (2), dos libertados da guerra da opressão (3). Tudo porque nasceu o Menino; Ele é o príncipe da paz (5). A luz nos faz buscar um novo modo de vida porque a graça de Deus se manifestou (Tt 2,11-12). Essa luz invade o mundo, como rezamos no prefácio: “No mistério da encarnação de vosso Filho, nova luz da vossa glória brilhou para nós”. Essa luz é o Filho de Deus: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram ofuscá-la” (Jo 1,4-5). A fé é acolher Jesus. É o que fazemos na noite de Natal, vendo a humanidade, vejamos a divindade que não vemos (prefácio).
Por que nascer assim
               Por que nascer assim tão pobre? O presépio é bonito. Tentemos ver o que era a realidade: Um restinho de gente, deitado num cocho, animais, simplicidade. Para nós é miséria. Melhor ouro. E que diferença faz para Deus? Deus o fez assim para que não houvesse nenhum obstáculo ao acolhimento. Nasceu do mundo dos pobres que eram quase a totalidade. Foi alistado como cidadão do mundo, no grande império romano, na Judéia. Jesus de Nazaré foi fichado como filho de José e Maria. ‘Como é o nome de seu filho’? Perguntaram: José respondeu: “Jesus!” Oculto o Filho de Deus no véu da carne. Jesus está na fila dos carentes de respeito, de vida, de amor. Ele veio para queimar as botas de assalto do inimigo do homem e queimar as roupas manchadas de sangue de tantas feridas (Is 9,4).
Como são belos os pés que anunciam a paz!

               Os pastores foram acordados pela luz e animados pelos cantos de Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens e mulheres por ele amados” (Lc 2,14). O Natal tem o sabor da paz e da amizade, da alegria, da troca de presente. Foi o que Deus fez conosco: “Acolhei, ó Deus, a oferenda da festa de  hoje, na qual o céu e a terra trocam os seus dons, e dai-nos participar da divindade daquele que uniu a vós nossa humanidade” (oração das oferendas). Estamos em paz com Deus. A liturgia etiópica canta: “O que vamos oferecer-vos? O céu deu a estrela; os anjos, seu canto; a terra, a gruta; os pastores, seus dons; os magos seus presentes. E nós: Nos oferecemos uma Virgem Mãe”. Com Ela entendemos o Natal e anunciamos a paz. Na liturgia de hoje, façamos parte do Natal com nosso coração.

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