PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Aquele dia em Nazaré
As
grandes assembléias foram os momentos importantes do povo de Deus. Nelas
tomaram-se decisões e assumiu-se a aliança. Na celebração de hoje ouvimos a
narração da assembléia solene no tempo de Neemias. É uma cena forte que nos
ensina. O Livro Santo é trazido, aberto diante de todos, lido, explicado e
ouvido com respeito (Ne
8,2-10). Jesus também inicia seu ministério em uma pequena assembléia na
sinagoga de Nazaré. Era um bom leitor de sua comunidade. Ele abre o Livro com
solenidade e proclama a Palavra de Deus para sua vida. Por isso diz: “Hoje se
cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4,21). Na vida de
Jesus a atitude fundamental era deixar-se conduzir pelo Espírito: “Jesus voltou
para a Galiléia, com a força do Espírito ... e ensinava em suas sinagogas”. Lucas
conhece o início desta caminhada a partir das testemunhas oculares e ministros
da Palavra (Lc 1,2),
Jesus assume sua missão sob ação do Espírito. Esta missão foi descrita por
Isaias: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a
unção para anunciar a Boa Nova aos pobres. Enviou-me para proclamar a
libertação dos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os
oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor” (Is 61,1-2;Lc 4,18-19). Estas palavras
resumem a missão que lhe foi conferida pelo Pai no Espírito. O texto de Isaias anuncia
que a missão do futuro Messias será a libertação total. Com o Messias teremos
os bens espirituais e temporais. Jesus acentua que esta boa-nova começa com
ele. Naquele dia realiza-se a profecia. Nele! Quando o Espírito de Deus vem
sobre nós, dá-nos a mesma missão de Jesus, pois somos parte de seu Corpo. Também
vivemos sob o Espírito que nos forma em um único corpo e unido à missão do
Jesus, pois bebemos com Ele do mesmo Espírito. A missão da Igreja é a mesma de
Jesus até à cruz. É mais fácil nos preocuparmos com panos e ritos do que com a
missão de Jesus.
No hoje de nossa vida
A liturgia de hoje não contempla
só a beleza da cena de Jesus em Nazaré, mas também a beleza da comunidade
reunida em nossa igreja. Ela é também ungida pelo Espírito. Ela é o HOJE de
Deus e tem a mesma missão de Jesus. Esta comunidade está unida a Cristo, pois é
seu corpo. Somos membros Dele e membros uns dos outros. Os membros, mesmo sendo
muitos, formam um só corpo. Cada um individualmente é membro deste corpo. A
assembléia, Corpo de Cristo, ungida pelo Espírito, se une a sua missão
libertadora. A celebração da comunidade é uma assembléia. Diz a carta aos
Hebreus: “Não abandoneis a nossas assembléias, como alguns costumam fazer” (Hb10,24). Não se
trata de uma devoção ou obrigação, mas
do Hoje de Deus.
Ano da Graça do Senhor
Há um
convite na celebração de hoje: Viver sob a unção que recebemos do Espírito
Santo, abrir o Livro Santo para refazer em nós a missão que Jesus assume para
si: “Anunciar a boa nova aos pobres, realizar todo o tipo de libertação e
anunciar o tempo da graça” (Lc
4,18-19). Em cada liturgia temos a abertura do livro
para proclamar os desígnios de Deus que são sempre os mesmos de Jesus, mas
sempre novos. Se a comunidade não assume a atitude libertadora de Jesus, os
necessitados não conhecerão o tempo da graça, isto é, a libertação dos males e
a vida abundante trazida por Jesus.
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