Encontrei misericórdia
A liturgia da Palavra deste
domingo é uma síntese da condição humana marcada pela fragilidade e pelo pecado
como vemos na parábola da ovelha extraviada, da moeda perdida, do povo pecador
que faz um bezerro de ouro e de um apóstolo que confessa sua antiga situação de
pecador. Por outro lado, é uma demonstração estupenda de um Deus misericordioso
que acolhe, perdoa e restaura. Este é o retrato do Pai que Jesus apresenta
nesta parábola. Assim, Ele agiu e ensinou a agir. Paulo, em sua trajetória
espiritual, faz a passagem de uma fé que o levava a perseguir os que acreditavam
em Jesus para uma experiência profunda da misericórdia de Deus. As leituras
deste domingo então centradas no binômio pecado do homem e misericórdia de
Deus. O povo no deserto fez um bezerro de ouro. Deus se irritou e quis
destruí-lo. Moisés lembrou a Deus seu compromisso de aliança. Deus perdoou. A ovelha
que se extraviou é procurada com carinho. E, depois de encontrada, é carregada
nos ombros. Jesus centraliza todo seu ensinamento na misericórdia porque ela é
a atitude do Pai para com os que se arrependem e voltam.
Misericórdia é
atitude de vida
A parábola de Jesus da ovelha
perdida e reencontrada é uma resposta às críticas dos fariseus que acusavam
Jesus de se misturar com os pecadores fazendo-se igual a eles. Tomar a refeição juntos é se igualar. Jesus
então responde com a parábola. Como os fariseus, nossas comunidades correm o
risco de se organizarem só para os que são bons e já “estão salvos”. Tudo o que
fazemos é para os que já têm tudo. É o momento, e Papa Francisco insiste nesse
ponto, de sairmos ao encontro dos necessitados mostrando através de nossas
atitudes, a misericórdia de Deus. As exigências que fazemos ao povo simples e
aos pecadores (difícil saber quem é o pecador, se eles ou nós), demonstram
claramente que não entendemos a mensagem de Jesus. Deste modo a Igreja perde o
sentido de sua missão. Padres, bispos e pessoas de responsabilidade na
comunidade que não têm misericórdia, devem se lembrar que eles também precisam
dela, pois todos somos pecadores e Deus é misericordioso para com todos. É bom
que as pessoas sintam através, das pessoas da Igreja, a misericórdia que ela
tem como missão.
Buscando as
ovelhas
Mais ainda: Jesus não só acolhe, como vai
procurar as ovelhas perdidas pelos penhascos do mal. A misericórdia não é só um
sentimento, mas uma atitude de vida e um modo de Deus agir. Jesus diz: “Eu vim
buscar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Temos a
experiência de uma religião que recebe os que vêm e não vamos atrás dos que não
vêm. Isso deixou as massas simples e pobres no abandono e vítimas de
espertos. A religião se concentrou nos
centros da cidade, que na verdade não têm uma população religiosa. Por estarem
bem na vida, não precisam de Deus. Pior ainda quando querem dominar a instituição
religiosa a seu favor. É o momento de buscar não uma ovelhinha perdida, mas
rebanhos inteiros. As igrejas se esvaziam. É preciso mudar os métodos pastorais
para ir ao encontro e a pôr-se a serviços dessas populações. Jesus era
criticado por misturar-se com os pecadores. Essa busca dos pobres e dos
fragilizados pelo pecado deve envolver toda a comunidade, não somente os
“padres”. Esses também devem fazer essa opção, e mais que os outros. Toda a
comunidade é responsável para que a missão de Jesus chegue a todos. Isso é a santidade que vai nos salvar.
Leituras: Êxodo 32,7-11.13-14; Salmo 50; 1Timóteo 1,12-17; Lucas 15,1-32
1.
Jesus se mistura com os pecadores para
levar-lhes a misericórdia do Pai. A Palavra nos mostra a fragilidade e a
misericórdia de Deus para com os pecadores.
2.
Misericórdia
é uma atitude. É fundamental acolher os necessitados. Temos rebanhos inteiros
perdidos.
3.
Jesus
não só acolhe como vai também atrás das ovelhas perdidas. Isso deve ser um
método pastoral.
Sujando-se para limpar
Essa é a atitude de Jesus quando
é criticado por se misturar com os pecadores e fazer refeição com eles. Fazer
refeição significa fazer-se igual. Jesus explica que essa é a atitude de Deus
Pai ao enviá-lo ao mundo. Não veio para cuidar de ovelhas gordas e sadias, mas
para buscar as perdidas.
Em sua encarnação Ele se misturou
com nossa humanidade falha e toda lambuzada pelos males que carregamos. Isso
não o fez menor. Ele veio buscar os pecadores. Conta então
a parábola da ovelha perdida. Uma ovelha perdida está totalmente perdida, pois
é um animal frágil e sozinho não se resolve. É como uma moeda de prata, ou
dizemos, uma jóia. Se não vamos atrás, é certo que ela não vai nos procurar. É
preciso ir buscar o que estava perdido. Os perdidos somos nós. Ele nos procurou
de todos os modos.
O povo de Deus no deserto fez um
bezerro de ouro porque Moisés já havia tempo que subira a montanha para falar
com Deus e não voltava. O povo se perdeu na idolatria. Moisés intercede pelo
povo para que não seja condenado nem destruído.
Paulo não era um distante de Deus.
Não era malvado, mas perseguia a Igreja de Deus. Não queria saber de Jesus. E
Jesus foi atrás dele. A graça misericordiosa de Deus sempre é maior. Essa parábola da ovelha perdida é uma lição para nós. O método pastoral das comunidades e das paróquias é sempre cuidar das gordinhas e deixar ao lobo as que se extraviaram. O que se faz pelos “pecadores”, pelos “pobres”? Não nos misturamos. Não sujamos as mãos pelos necessitados. Por isso tanta gente perdeu o rumo da Igreja.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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