PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Servo sofredor
Lemos no profeta Isaias os “Cânticos do Servo de Javé”. São poemas que nos trazem a imagem
misteriosa de um servidor de Deus, sofredor, que dá sua vida pelo povo. É uma
grande missão que cumpre até à entrega total (Is 50,4-7). Esse Servo é
identificado com Cristo que entra na Cidade Santa com o esplendor de um rei,
como Davi. Ele é manso e pacífico como o Servo. A cena da entrada em Jerusalém é
significativa no tempo da Paixão de Cristo; Ele vem, e é acolhido por parte do
povo que canta “hosana” . Quer dizer: Salva-nos. É reconhecido como o Filho de
Davi em sua realeza. Mas, na mente de Jesus, seu trono é a cruz, sua coroa é de
espinhos, seu manto é o sangue, sua glória é ser elevado da terra, crucificado.
Ele se oferece ao Pai para que o mundo se abra a Seu amor. Ele mostra até onde
vai esse amor. O sofrimento do Cristo vai além das dores. Ele sofre o peso de
todos os pecados do universo. Dentro dele fervem dois sentimentos: acolhimento
do Pai que perdoa, e a recusa da humanidade. Quando abrem seu lado com a lança,
está aberto o caminho para que todo homem possa beber nas fontes da salvação (Is
12,3). Ali, o tentador, pela boca das pessoas, lhe diz novamente: “Se és o
Filho de Deus...” - “Que Deus o salve, se o ama!”. O Domingo de Ramos resume em
si todo o mistério pascal de glória e cruz, que acontecerá no Tríduo Sacro. Não
são dois acontecimentos que se opõem, mas um fato único que mostra que a glória
do Cristo é sua vida doada ao Pai na obediência.
Ele era mesmo o Filho de Deus
Os diversos sinais (milagres) que refletimos nessa
Quaresma, levam à profissão de fé do miraculado: Jesus pergunta: “Crês no Filho
do Homem?” Ele responde: “Creio” (Jo 9,35.38). Mateus anota: “O oficial e os
soldados ... ao notarem o que havia acontecido, ficaram com muito medo e
disseram: ‘Ele era mesmo Filho de Deus”’ (Mt 27,54). Sua fé é a profissão de fé
de toda humanidade que reconhece e acolhe a “visita que Deus faz a seu povo”. Jesus, em sua morte, esvaziou-se totalmente,
como nos escreve Paulo na carta aos Filipenses (2,6-11). Esse esvaziamento é o
melhor modo de revelar o projeto de Deus. Ele chega ao mais profundo do ser
humano para aí redimir o homem, não com palavras, mas com a vida doada. Por
isso Deus O glorifica. A espiritualidade se concretiza quando assumimos a
atitude de Cristo no esvaziamento. Sem nosso vazio, Deus não nos enche.
Chegar
à gloria da Ressurreição
Paulo,
que viveu o mistério de Cristo no seu esvaziamento, convida a viver como Cristo
viveu. Cristo procurou, com todas as forças, realizar o projeto do Pai: “Que não
se perca nenhum daqueles que me deu”! (Jo 6,38). Jesus, ao morrer, tinha diante
de si um mundo a ser transformado. Seus discípulos, na força do Espírito que
ressuscitou Jesus, partiram para anunciar e “fazer discípulos Seus todos os
povos”. Hoje, os cristãos estão separados e cuidando do próprio ninho. E o
Cristo crucificado, onde está? A religião mais falsa é aquela que usa Cristo
para seu proveito pouco cristão. O sentido da entrega de Jesus ao Pai era abrir
o caminho da Glória: todos chegarem à Casa do Pai. Celebrando hoje a
glorificação de Jesus como Rei que vem a sua cidade, para tomar posse de seu
domínio, nós queremos, não colocar ramos, mas nossas vidas para que dela, Ele
tome posse. Rezamos na oração da missa: “Concedei-nos aprender o ensinamento de
sua Paixão e ressuscitar com Ele em sua glória”. Assim, participando de sua
Paixão, que nós possamos chegar à Ressurreição celebrada na liturgia, antecipando
assim, a glória.
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