sábado, 19 de dezembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Por isso Deus o exaltou”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Servo sofredor
Lemos no profeta Isaias os “Cânticos do Servo de Javé”. São poemas que nos trazem a imagem misteriosa de um servidor de Deus, sofredor, que dá sua vida pelo povo. É uma grande missão que cumpre até à entrega total (Is 50,4-7). Esse Servo é identificado com Cristo que entra na Cidade Santa com o esplendor de um rei, como Davi. Ele é manso e pacífico como o Servo. A cena da entrada em Jerusalém é significativa no tempo da Paixão de Cristo; Ele vem, e é acolhido por parte do povo que canta “hosana” . Quer dizer: Salva-nos. É reconhecido como o Filho de Davi em sua realeza. Mas, na mente de Jesus, seu trono é a cruz, sua coroa é de espinhos, seu manto é o sangue, sua glória é ser elevado da terra, crucificado. Ele se oferece ao Pai para que o mundo se abra a Seu amor. Ele mostra até onde vai esse amor. O sofrimento do Cristo vai além das dores. Ele sofre o peso de todos os pecados do universo. Dentro dele fervem dois sentimentos: acolhimento do Pai que perdoa, e a recusa da humanidade. Quando abrem seu lado com a lança, está aberto o caminho para que todo homem possa beber nas fontes da salvação (Is 12,3). Ali, o tentador, pela boca das pessoas, lhe diz novamente: “Se és o Filho de Deus...” - “Que Deus o salve, se o ama!”. O Domingo de Ramos resume em si todo o mistério pascal de glória e cruz, que acontecerá no Tríduo Sacro. Não são dois acontecimentos que se opõem, mas um fato único que mostra que a glória do Cristo é sua vida doada ao Pai na obediência.
Ele era mesmo o Filho de Deus
Os diversos sinais (milagres) que refletimos nessa Quaresma, levam à profissão de fé do miraculado: Jesus pergunta: “Crês no Filho do Homem?” Ele responde: “Creio” (Jo 9,35.38). Mateus anota: “O oficial e os soldados ... ao notarem o que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: ‘Ele era mesmo Filho de Deus”’ (Mt 27,54). Sua fé é a profissão de fé de toda humanidade que reconhece e acolhe a “visita que Deus faz a seu povo”.  Jesus, em sua morte, esvaziou-se totalmente, como nos escreve Paulo na carta aos Filipenses (2,6-11). Esse esvaziamento é o melhor modo de revelar o projeto de Deus. Ele chega ao mais profundo do ser humano para aí redimir o homem, não com palavras, mas com a vida doada. Por isso Deus O glorifica. A espiritualidade se concretiza quando assumimos a atitude de Cristo no esvaziamento. Sem nosso vazio, Deus não nos enche.
                       Chegar à gloria da Ressurreição
Paulo, que viveu o mistério de Cristo no seu esvaziamento, convida a viver como Cristo viveu. Cristo procurou, com todas as forças, realizar o projeto do Pai: “Que não se perca nenhum daqueles que me deu”! (Jo 6,38). Jesus, ao morrer, tinha diante de si um mundo a ser transformado. Seus discípulos, na força do Espírito que ressuscitou Jesus, partiram para anunciar e “fazer discípulos Seus todos os povos”. Hoje, os cristãos estão separados e cuidando do próprio ninho. E o Cristo crucificado, onde está? A religião mais falsa é aquela que usa Cristo para seu proveito pouco cristão. O sentido da entrega de Jesus ao Pai era abrir o caminho da Glória: todos chegarem à Casa do Pai. Celebrando hoje a glorificação de Jesus como Rei que vem a sua cidade, para tomar posse de seu domínio, nós queremos, não colocar ramos, mas nossas vidas para que dela, Ele tome posse. Rezamos na oração da missa: “Concedei-nos aprender o ensinamento de sua Paixão e ressuscitar com Ele em sua glória”. Assim, participando de sua Paixão, que nós possamos chegar à Ressurreição celebrada na liturgia, antecipando assim, a glória.

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