Estamos recebendo as luzes de Cristo
sobre o mistério de sua Ressurreição. Mais que conhecimentos, somos queimados
pelo Espírito como foram os discípulos de Emaús no dia da Ressurreição, e como
Pedro no dia de Pentecostes. No dia da Ressurreição, os dois discípulos, que
iam para Emaús, estavam desiludidos por causa da morte de Jesus. Ele entrou em
seu caminho, abriu para eles o tesouro das Escrituras, e explicou-lhes o
sentido de sua Morte. Sua presença de Ressuscitado era para eles uma chama no
coração. Eles traziam, em si, toda a desilusão, diante da perda de toda
esperança. Relatando ao desconhecido os últimos acontecimentos, isto é, a
crucifixão de Jesus, mostram o vazio de sua fé. Falam de Jesus como “um profeta
poderoso em obras e palavras”(Lc 24,19).
Havia a esperança de que fosse libertar Israel (21).
Jesus, para eles, era o vazio do interesse político-nacional. Dizer que “há
três dias que essas coisas aconteceram” (21) significa
que não há mais esperança, pois criam que a alma não retornava mais à pessoa.
Acabou! Nem mesmo o testemunho das mulheres e dos dois que foram ao túmulo, foi
capaz de animá-los: “A Ele, porém, ninguém viu”
(24). Essa visão de fé é dominante em nosso meio: queremos o sensível e
não somos capazes de ler a realidade. O que falta? Perceber que Jesus caminha
conosco, abre-nos os tesouros da Escrituras e pelo seu Espírito, instrui nosso
coração.
Nosso
coração ardia
Chegados que foram à hospedaria,
disseram: “Fica conosco, Senhor, pois cai a tarde e o dia declina”. “Jesus
entrou para ficar com eles. Quando se sentou à mesa, tomou o pão, abençoou-o,
partiu e lhes distribuía” (Lc 24,29-30). Jesus
é o hospede que hospeda. Cristo vivo põe a mesa e parte o pão. Já lhes partira
o pão da Palavra, agora parte o Pão da Vida. Contemplamos, nesse texto, a
resposta à pergunta: Onde está Cristo? Também na Eucaristia, pois estava com
eles quando caminhavam juntos e quando explicava a Escritura. Abrem-se seus olhos
e caminham para anunciar a Ressurreição. Não há mais temor, mas a segurança do
Espírito. Caminhavam na noite da falta de fé e agora, na noite iluminada pela
bela lua de Páscoa, caminham no clarão da fé na Ressurreição. Pedro, cheio do
Espírito que recebera e animado pela mesma fé, faz o primeiro anúncio sobre
Jesus que por um desígnio e presciência de Deus fora crucificado (At 2,23). Não fora um acaso da história. Mas Deus
o ressuscitou. Esse é o anúncio que converte os corações.
Celebrar
com fé
Em nossas celebrações sentimos arder coração. A fé que temos em Jesus,
fortifica-nos quando somos tardos para crer. Ele abre para nós as Escrituras
nas mais diversas páginas da vida: na comunidade, nos acontecimentos dos
tempos, na pessoa do irmão, na beleza do mundo. Ele nos ilumina com sua Palavra
para que, queimados pelo fogo do Espírito, possamos acolhê-lo na hospedaria de
nossa vida, de nossa comunidade e ali partilhar de sua intimidade. Em cada Eucaristia ,
celebrada e vivida no partilhar a vida, Ele abre nossos olhos para vê-lo. O
calor do Espírito assa o Pão da Vida e nos alimenta para que, também nós,
alimentemos o mundo com nossa fé e nossa fraternidade. Esse é o anúncio da Ressurreição
que o mundo espera. Nosso coração, ao sentir a presença amorosa do Senhor em
nosso meio, exclama em suas dificuldades: “Fica conosco, Senhor, pois já se faz
tarde e a noite vem chegando”. Nada como uma chama para alumiar quando sentimos
a noite chegar.
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