Evangelho segundo S. João 1,1-18.
No princípio
era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.No princípio, Ele
estava com Deus. Tudo se fez por meio d'Ele e sem Ele nada foi feito. N'Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas
trevas e as trevas não a receberam. Apareceu um homem enviado por Deus,
chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que
todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar
testemunho da luz. O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo,
ilumina todo o homem. Estava no mundo e o mundo, que foi feito por Ele, não
O conheceu. Veio para o que era seu e os seus não O receberam.Mas
àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se
tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e
habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho
Unigénito, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho d'Ele,
exclamando: "Era deste que eu dizia: 'O que vem depois de mim passou à minha
frente, porque existia antes de mim'". Na verdade, foi da sua plenitude que
todos nós recebemos graça sobre graça. Porque, se a Lei foi dada por meio de
Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. A Deus, nunca
ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a
conhecer.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
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Comentário do dia:
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja
Comentário sobre São João, I, 178s
«O que ouvimos, o que vimos com os nossos
olhos, o que contemplámos e as nossas mãos apalparam acerca do Verbo da vida
[...], isso vos anunciamos» (1Jo 1,1-3). [...] O Verbo encarnado deu-Se a
conhecer aos apóstolos de duas maneiras: eles reconheceram-No, em primeiro
lugar, pela vista, recebendo do próprio Verbo o conhecimento do Verbo; e, em
segundo lugar, pelo ouvido, recebendo do testemunho de João Baptista o
conhecimento do Verbo.
Acerca do Verbo, João Evangelista começa por
dizer o seguinte: «Nós contemplámos a sua glória.» [...] Para São João
Crisóstomo, estas palavras estão relacionadas com a frase anterior do evangelho
de João: «O Verbo fez-Se homem»; o evangelista pretende dizer que a encarnação
nos conferiu, para além do benefício de nos tornarmos filhos de Deus, o
benefício de vermos a sua glória. Com efeito, os olhos fracos e doentes não são
capazes de, por si mesmos, contemplar a luz do sol; mas, quando o sol incide
numa nuvem, ou num corpo opaco, já são capazes de o contemplar. Antes da
encarnação do Verbo, os espíritos humanos eram incapazes de olhar directamente
para a luz que «a todo o homem ilumina». Assim, e para que não fossem privados
da alegria de a verem, a própria luz, o Verbo de Deus, quis revestir-Se de
carne, a fim de que fôssemos capazes de a ver.
Então, estando os homens
«voltados para o lado do deserto, a glória do Senhor apareceu, de repente, na
nuvem» (Ex 16,10); isto é, o Verbo de Deus encarnou. [...] E Santo Agostinho
observa que, para que pudéssemos ver a Deus, o Verbo sarou os olhos dos homens,
fazendo da sua carne um colírio salutar. [...] Eis por que motivo, logo após ter
dito: «O Verbo fez-Se homem», o evangelista acrescenta: «E nós contemplámos a
sua glória», como que para explicar que, mal se aplicou este colírio, os nossos
olhos ficaram sarados. [...] Era esta glória que Moisés desejava ver e da qual
viu apenas uma sombra e um símbolo. Os apóstolos, pelo contrário, viram-na em
todo o seu esplendor.
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