Iniciando um Novo Ano, perguntamos como conduzir
nossa vida espiritual. Certamente que cada um tem um ritmo. Há, contudo, pontos
comuns. Iniciamos pela oração propriamente dita. A oração não é tanto uma prece
que fazemos a Deus, mas o reconhecimento de que Ele está presente em nós. Um ensinamento diz
que Deus é o mais íntimo de nosso íntimo. Se Deus está tão presente em nosso
interior, a espiritualidade não será buscar um Deus subindo montanha acima,
como que agarrando com as unhas, mas o acolhimento de uma Presença. Não é uma confusão,
mas um mútuo acolhimento que vai além de um abraço. É integração de pessoa à
pessoa. A oração toma uma dimensão que vai além das fórmulas, passando para uma
forma de viver. Eu e Deus formamos uma unidade: “Respondeu-lhe Jesus: ‘Se
alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e
faremos nele morada’” (Jo 14,23). Essa “habitação” de Deus em nós vai além de
uma hospedagem, é uma união de vidas. O diálogo com Deus, que habita em nós, é
vital. Vida à vida. Silenciosamente Ele nos constrói. É um diálogo permanente.
“O Espírito ora em nós com gemidos (palavras) inexprimíveis” (Rm 8,26). Essas
palavras do Espírito passam à palavra que dizemos. Falamos com o Pai, como
Jesus falava. Vemos no evangelho como Ele rezava. Os discípulos se encantavam
com sua oração: “Estava Jesus em certo lugar orando e, quando acabou, disse-lhe
um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos
seus discípulos” (Lc 11,1). S. Afonso escreve que devemos “falar familiarmente
com Deus”. Seria um curtir os acontecimentos em diálogo com Deus, como Maria que
guardava no coração aqueles fatos, meditando-os no coração (Lc 2,19). A vida se
torna uma costura de nossa vida com a vida de Deus.
473. Comungar o irmão
Não comunga com
Deus quem não comunga o irmão. A doce comunhão com Deus só é real quando
comungamos com o irmão. Torna-se complicado dizer que se comungou Jesus, se não
se comunga seu evangelho de amor e doação. Comunhão é ato de amor. Se não
amamos, não comungamos, ou ao menos, falta muito. Não deixa de ser um remédio
que cura. É uma pena ver o quanto perdemos por não aproveitarmos essa união.
Como comungar o outro? Interessar-se pelo outro que faz parte de minha vida. Na
medida em que me dedico estou comungando. Mesmo que eu não suporte ou não goste
do tipo da pessoa, posso estar em comunhão com ela, quando a amo em Jesus, não
em meus sentimentos. Melhor se também esses fossem favoráveis. Quando
condividimos a vida, quando envolvemos o outro em nossas relações com Deus, a
comunhão se aprofunda.
474. Bênção que cura
Essa relação tão especial é um dom a ser repartido. O
amor é para ser partilhado. A presença de Deus em nós não nos eleva para o alto,
mas nos leva ao encontro do coração que tem a mesma sede que saciamos: Ele, o
Deus bom e amoroso. Nossa vida se torna visibilidade desse amor. Deus ama
através de nós. Esse amor é a bênção. Queremos, às vezes, uma bênção especial. Que
mais especial que a presença de Deus? Ele é a bênção que nos foi dada em Cristo
e da qual nos tornamos dispensadores. Somos uma bênção por estarmos unidos a
Deus em Cristo. Nossa
missão principal pela oração é sermos uma bênção que cura, quer dizer, nossa
dedicação dá vida aos irmãos. Assim, costurando nossa vida na vida dEle, nossa
pessoa à pessoa dEle, nossa ação à sua ação, seremos uma bênção para o mundo. Possamos
abençoar, no coração, cada um que vem ao nosso encontro!
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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