Uma das frases que me ficaram dos
primeiros anos, quando eu tinha um caderninho de frases bonitas, foi esta: “A
felicidade está onde nós a colocamos, não onde a buscamos”. Ao continuar a
reflexão de Ano Novo – já está quase ficando velho – nós pensamos receitas de
como viver bem. Podemos pensar: ‘Ser feliz é fazer feliz’. Há uma historinha,
que deve ser chinesa, que narra: ‘Havia muita gente para comer. Todo mundo
recebeu a comida, mas os garfos eram muito longos. Ninguém conseguia levar a
comida à boca. Alguém disse: Cada um coloque a comida na boca do outro, assim
todos comem’. Só servindo o outro é que se conseguiu matar a própria fome. Não
é à toa que Jesus diz de Si mesmo: “O Filho do homem não veio para ser servido,
mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10,45). Aquele
bonito gesto de lavar os pés dos discípulos na Ceia, estava explicando o que
significavam sua vida, missão, morte e ressurreição. Esta cena vem antes de sua
morte e no momento da instituição da Eucaristia. Disse: “Se Eu, o Mestre e o
Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros.
Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,
14-15). Sua autoridade não está no poder, mas no serviço. Se Ele assume o
serviço como seu modo de ser e viver, não há outro caminho para quem quer
encontrar a felicidade que Ele encontrou na Ressurreição. A gente acha que é
bobo por servir. Melhor assumir a bobeira dEle do que nossa sabedoria. A dEle
deu certo. Ele vive e é o Senhor! Nossa alegria consista sempre em servir! É o
caminho para o seguimento de Jesus. Vejamos bem como a ganância do poder para
usufruir, mesmo na Igreja, não tem dado bons resultados. Jesus estava dando o
sentido e o modo de vivermos nossa vida. Inútil procurar outro caminho. É esta
a opção das Igrejas?
470.
Dom de acolher
A opção pelo serviço se desenvolve
no dom de acolhimento. Servimos porque sabemos acolher as pessoas. O amor de
Cristo fundamenta nossa opção em
servir. Não se trata de fazer coisas pelo outro, mas
sobretudo de acolhê-lo como Cristo nos acolheu e serviu. Paulo escreve: “Como
Cristo vos acolheu, acolhei-vos uns aos outros” (Rm 15,7). O acolhimento, a meu
ver, é a virtude mais apreciada em o Novo Testamento.
Hospedar, acolher, tem o significado profundo de acolher a Deus. Na carta aos
Hebreus podemos ler: “O amor fraterno permaneça. Não vos esqueçais da
hospitalidade, porque por ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos” (Hb
13,1-2). Acolher não é só uma boa educação, mas um profundo sentimento de fé na
presença de Deus que age no amor. Como acolher Deus, se não o vemos? S.
Agostinho explica: acolhemos Deus visível na pessoa do outro. Quem sabe acolher,
já tem garantido o Céu. Esse amor é a vida eterna: “Deus é amor: aquele que permanece
no amor permanece em Deus e Deus permanece nele”. (1 Jo 4,16)
471.
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