PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
456. Um
ano a ser celebrado
Quando acalmado o burburinho das festas Natalinas, podemos nos voltar
à reflexão de nossa vida. Temos refletido sobre a espiritualidade. Sempre realçamos
que ela se constrói dentro da realidade em que vivemos. Uma espiritualidade
fora da realidade não é só inócua, como pode nos prejudicar. Se “em Deus nos
movemos e existimos” (At 17,28), do mesmo modo dizemos da realidade na qual nos
movemos e existimos. Talvez impropriamente podemos nos fundamentar nas palavras
da criação do homem: “Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para
cultivá-lo e guardar” (Gn 2,15). A realidade é também temporal. Vivemos a
condição tempo que se faz de horas, dias, meses e anos, num ritmo de contínua
novidade. Cada minuto é como um mundo novo que acaba de ser criado. Mesmo que
vivamos a velocidade da vida e não percamos a novidade de cada momento. Por
isso, ao iniciarmos um ano novo, somos convocados a celebrá-lo com toda a
intensidade. A própria liturgia, por mais divina que seja, acontece dentro de
um calendário. Para a filosofia hebraica, aquela que viveu Jesus, o tempo se
repete, mas nunca é o mesmo, é sempre um passo adiante. Celebrar o tempo é
vivê-lo com a fragilidade e a riqueza de nosso coração. A vida, no tempo, deve
ser celebrada como encontro com Deus que acontece no encontro com o irmão. A
espiritualidade colhe desse encontro o alimento que a sustenta nas demais
dimensões. Celebre a vida, que ela agradecerá.
457.
Remexendo o velho baú
Ao iniciar um ano novo, é bom olhar adiante e contemplar o belo caminho
que nos é oferecido. Contudo, é preciso contemplar o caminho realizado. O que
fizemos de bom nesse ano que passou? O que fizemos de menos bom? O que deu certo?
O que falhou? Os erros são sempre a oportunidade de um repensar, reajustar, repropor.
Eles nos dão a oportunidade de crescer. Já dizemos: ‘Se Deus te dá um limão,
faça dele uma limonada’. É um princípio da filosofia: do bem segue o bem, do
mal podemos tirar o mal e também o bem. Devemos olhar o passado de um modo
positivo. Olhar não para lamentar, mas para fazer o exercício da memória
agradecida pelo bem que aconteceu; memória curativa para os males que nos
fizeram sofrer; memória criativa: saber aproveitar-se das próprias faltas. Mexa
o velho baú! Há muita coisa rica que fizemos. Esse exame de consciência dá
muitos resultados. Se formos em frente sem olhar para trás, perdemos muito do
que fizemos. Podemos aprender com Maria que é o arquivo de Deus na terra. Ela,
viveu experiência tão grandiosa. O texto bíblico narra: “Maria, contudo,
conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos, meditando-os em seu
coração”! (Lc 2,19). Lucas visitou esse arquivo e dali retirou tantas riquezas.
É um modelo de vida: ver, recolher, meditar.
468.
Engenharia de um Novo Ano
Adeus, ano velho! Feliz ano novo!
Como poderemos fazer esse ano feliz? É preciso se organizar. Para viver bem é
preciso programar. Não dá para pensar em tudo. Depois de ter
refletido sobre o ano que passou, vimos o que foi bom e o que foi ruim. Já é um
passo. Vamos ver o que vamos modificar para ser melhor o bom, e não piorar o
aspecto menos bom. Tenho uma experiência que me ajuda: cada início de ano, no
campo espiritual, escolho uma coisa a fazer nesse ano. Escolho, por exemplo:
vou ser mais atento quando rezo. Coisa simples. Se insistir nessa, torna-se um
hábito. No ano que vem escolho outro ponto. Aquela escolha anterior continua e
ataco outro. Assim, cada ano, gotejando, vamos melhorando todo o conjunto.
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