sábado, 12 de setembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Não sigas sem parar junto a mim”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
O desejo de Deus
            Um dos aspectos que mais nos encanta na pessoa de Jesus é sua densidade humana, que faz perceber o divino. Como Jesus deixava resplandecer a beleza humana de seu coração divino! A liturgia de hoje nos oferece dois textos que refletem esse pensamento. Na leitura de Gênesis 18,1-10 encontramos a visita dos três anjos a Abraão. Ele os recebe com toda a gentileza e os serve. Ao se despedirem prometem a Sara um filho. É o filho da promessa. Jesus, como nos narra Lucas no evangelho (10,38-42), é recebido na casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro. Marta se preocupa com a faina da casa para acolher bem Jesus. Maria, assentada diante de Jesus, escuta Sua palavra. Abraão se abre totalmente ao acolhimento dos viajantes. Maria se faz discípula fiel que ouve e acolhe no silêncio Jesus e sua Palavra. Jesus, aproveita-se de qualquer oportunidade para anunciar. Marta valoriza uma hospitalidade exterior. Maria a interior. Jesus diz a Marta que ela deve parar um pouco e dar valor ao mais importante que é Ele e Sua palavra: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta na lhe será tirada” (41-42). Jesus não desdenha a atividade necessária da vida, mas coloca as coisas no lugar. Atividade sim, mas não só. Ensina-nos, com esse texto, dar valor àquilo que temos dentro de nós: saciar o desejo que temos de Deus. Nas bem-aventuranças Jesus ensina que “os puros de coração verão a Deus”. O desejo de ver a Deus é inato no coração. Essa pureza não é ascética, mas transparência que deixa enxergar Deus. Abraão, inconsciente, vê Deus na sua dedicação de hospitalidade. Maria deseja ocupar-se somente Dele. Dessa atitude nasce a força da atividade humana.
Mística, natural da vida
            Acolher em casa, no sentido do verbo, significa também acolher a Palavra de Deus. As atitudes humanas de acolhimento correspondem ao acolhimento de Deus, como fez Abraão, como fez Maria. O que esse evangelho nos convida a fazer é criar uma mística de vida que seja um modo natural de viver. Mística não significa estar fora da realidade, mas viver a realidade com realidade completa, isto é, com toda a densidade de vida que ela possui. Ser místico não é ser tonto, é ser completo. As atividades não impedem de estar com Deus e fazer Dele o sentido de tudo o que vivemos. Esse sentido é vê-lo presente e atuante naquilo que somos e fazemos. Marta estava diante de Jesus e não o via como Maria. A vida cristã é envolta de atividade e contemplação. Se dermos o primado ao mais importante, estamos armazenando a força da Palavra para dar palavra de vida às atividades. Deus quer vir para nosso cotidiano, como no Paraíso, onde conversava com Adão na brisa da tardinha (Gn 3,8).
Presença de Cristo em vós.
            Ao realizar esse projeto, tornamos grande nossa união a Cristo. O desejo de Deus faz-nos discípulos, como Maria, que está sempre à escuta. Podemos criar essa mentalidade de silenciar o interior e poder ter sempre os olhos fixos em Jesus, como nos exorta a carta aos Hebreus (Hb 12,24). Paulo fala do mistério revelado aos santos (26). As dificuldades virão, pois “completamos em nosso o corpo o que falta às tribulações de Cristo, em solidariedade com seu corpo, isto é, a Igreja” (Cl 1,24). Os homens e mulheres de Deus viveram assim: silêncio, acolhimento, desejo de Deus, atividade e presença de Cristo. Por isso foram atuantes e deixaram um caminho.

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