sexta-feira, 18 de setembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Onde estiver vosso tesouro”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Catequese sobre a riqueza
            Jesus instrui os discípulos enquanto caminha para Jerusalém. Seus ensinamentos se dirigem à vida da caridade, da oração, dos bens materiais. Tudo isso já conheciam pela tradição. Jesus dá um direcionamento novo. Na mentalidade do Antigo Testamento, a abundância de bens era sinal da bênção de Deus. No ensinamento de Jesus o verdadeiro tesouro está no Céu, “onde os ladrões não roubam nem a traça corrói” (Mt 6,19-20). Ele afirma: “Tomai cuidado contra todo o tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância dos bens” (Lc 12,15). Na reflexão do Novo Testamento a cobiça, o egoísmo, a estupidez e a injustiça são males que prejudicam a vida do homem. Paulo chama a cobiça de idolatria (Cl 3,5). Adorar os bens materiais é um grande mal, como lemos nas tentações de Jesus. A ambição desmedida sai do coração do homem e o torna impuro (Mc 7,22). Paulo, aos Romanos, coloca a ambição ao lado dos pecados de imoralidade que obscurecem a mente, não permitindo encontrar a Deus (Rm 1,29). A cobiça dos bens muda os interesses da pessoa, levando-a ao desequilíbrio no relacionamento com Deus, com as pessoas e com a natureza. O homem não pode perder de vista o reto valor dos bens, pois pode perder o sentido da vida e a vida de um momento para outro. A vida não está nos bens (Lc 12,15). Viver bem com os bens é já ressurreição, como escreve Paulo: “esforçai-vos por alcançar as coisas do alto onde está Cristo ... aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres” (Cl 3,1-2).
A fartura que empobrece
A parábola contada por Jesus não condena os bens, mas a loucura de querer pensar só nos bens materiais: “Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come bem, aproveita!’ Mas Deus lhe diz: ‘Louco! Ainda esta noite pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si , mas não é rico diante de Deus” (Lc 12,20). Jesus quer que todos tenham vida e tirem vida para Deus de tudo o que possuem. É belo ver as pessoas progredirem, produzirem fartura. O mundo está cada vez mais pronto para dar fartura a todas as pessoas, mas infelizmente temos conhecimento de que a maior parte da humanidade passa dificuldades. É o desejo desenfreado de ter mais e viver em grande consumismo. O infeliz da parábola amontoa bens para seu prazer. Jesus chama-o de “sem inteligência”. O termo grego “aphoron” significa falta total de inteligência. Inteligente é ser rico aos olhos de Deus. Entesourar para o céu. Tudo isso é vaidade. Santo Agostinho diz: “se amas a terra, serás terra, se amas a Deus serás Deus”. A fartura que empobrece o coração.
Ensinai-nos a contar nossos dias

            O salmo reza: “Ensinai-nos a contar bem nossos dias e assim teremos um coração sábio” (Sl 90,12). A sabedoria ensina-nos a ter sempre a eternidade à vista. O insensato morreu no próprio egoísmo, que é uma das características do homem velho. “Fazei morrer em vós o que pertence à terra: imoralidade, paixão... cobiça... Vós já vos despojastes do homem velho e de sua maneira de agir e vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem de seu Criador” (Cl 3,9-10). Homem novo busca as realidades do céu (13,1). “Que resta ao homem de todos os trabalhos e preocupações que o desgastam debaixo do sol?” (Ecl 2,22). “Ajuntai tesouros no céu” (Mt 6,20a). Na Eucaristia os bens materiais tornam-se Corpo e Sangue de Cristo. Aí sim temos o tesouro e a inteligência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário