quinta-feira, 24 de setembro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Apareceu um grande sinal do Céu”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Aquela que acreditou
            Desde tempos antigos o povo cristão reconheceu esse privilégio de Maria: ser levada ao Céu em corpo e alma. As narrativas de seus últimos dias nós as encontramos nos apócrifos. No século VIII é atestada a tradição de uma igreja construída sobre a tumba de Maria em Jerusalém, com a conseqüente celebração de sua Assunção. Em Roma, no tempo do Papa Sérgio I (687-701), já se tem notícia da celebração desta festa. Os muçulmanos, desde longínqua data, vão em peregrinação à dita casa de Maria em Éfeso, no dia 15 de agosto. Maria foi sempre o grande sinal que Deus colocou para nós. O texto do Apocalipse dizendo da Igreja, dá também uma Palavra de Deus sobre Maria. Por que esse interesse e devoção por Maria, na sua Assunção? A Igreja vê nela a realização completa da obra da redenção, porque ela acreditou. A fé que Maria demonstrou parte de sua fiel aceitação da ação do Espírito nela. Não só traz em si o Filho, mas é portadora do Espírito que toca Isabel e João em seu seio. Por isso, cheia do Espírito Santo, ela clama: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre” e acrescenta: “Bem aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,41-43). Maria, no ato de fé, reconhece a Deus como o autor de todas as maravilhas que acontecem nela (49), e acontecem na Igreja, que também leva em seu seio o Salvador. A saudação de Isabel a Maria é a proclamação pascal do Cristo Senhor.
Assimilada ao Filho
            O dogma da Assunção é mariano, pois se trata de Maria. Mas, na realidade, é uma Verdade de Cristo que acontece em Maria: “Em Adão todos morrem, assim também, em Cristo todos reviverão [...] é preciso que Ele reine até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Cor 15,22.25-26). Em Maria, como protótipo para toda a humanidade, é realizado integralmente esse plano da redenção. Não precisamos esperar para ver se é verdade. Desde sua concepção imaculada, sua maternidade divina e virgindade integral, Maria, por dom e por obediente colaboração, tornou-se um evangelho do cumprimento das promessas. A festa de hoje celebra a memória da total assimilação da Mãe de Deus a Seu Filho, na glorificação daquela que primeiro foi levada ao Céu e seguiu o Filho na Glória divina. Essa é nossa esperança, já realizada nela. Ao ser proclamada por Isabel “Mãe de meu Senhor”, Maria recebe o reconhecimento de todos os que são movidos pelo Espírito. Ela é templo do Espírito, Arca da Aliança, Cidade do grande Rei. A festa tem sua fonte na Escritura, na santa Tradição e nos Santos Padres.
Missão redentora de Maria

            A Assunção de Maria dá também a certeza de que essa caminhada de glorificação começa, no momento presente, na transformação das estruturas humanas em Reino de Deus. Maria, em seu canto de louvor a Deus (Magnificat), resume o evangelho libertador que Cristo anuncia em Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para evangelizar os pobres, proclamar a remissão dos presos, aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19). Maria propõe a transformação: dispersou os soberbos, derrubou os poderosos dos tronos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu a Israel, seu servo, tudo pela misericórdia de Deus que nos visitou, como reza Zacarias (Lc 1,78). Só celebra bem Maria quem faz memória de Cristo e memória dos sofrimentos dos pobres e da atenção de Deus por eles. 

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