PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Aquela
que acreditou
Desde tempos antigos o povo cristão
reconheceu esse privilégio de Maria: ser levada ao Céu em corpo e alma. As
narrativas de seus últimos dias nós as encontramos nos apócrifos. No século
VIII é atestada a tradição de uma igreja construída sobre a tumba de Maria em
Jerusalém, com a conseqüente celebração de sua Assunção. Em Roma, no tempo do
Papa Sérgio I (687-701), já se tem notícia da celebração desta festa. Os
muçulmanos, desde longínqua data, vão em peregrinação à dita casa de Maria em
Éfeso, no dia 15 de agosto. Maria foi sempre o grande sinal que Deus colocou
para nós. O texto do Apocalipse dizendo da Igreja, dá também uma Palavra de
Deus sobre Maria. Por que esse interesse e devoção por Maria, na sua Assunção?
A Igreja vê nela a realização completa da obra da redenção, porque ela
acreditou. A fé que Maria demonstrou parte de sua fiel aceitação da ação do
Espírito nela. Não só traz em si o Filho, mas é portadora do Espírito que toca
Isabel e João em seu seio. Por isso, cheia do Espírito Santo, ela clama:
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre” e
acrescenta: “Bem aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,41-43). Maria, no ato
de fé, reconhece a Deus como o autor de todas as maravilhas que acontecem nela
(49), e acontecem na Igreja, que também leva em seu seio o Salvador. A saudação
de Isabel a Maria é a proclamação pascal do Cristo Senhor.
Assimilada
ao Filho
O dogma da Assunção é mariano, pois
se trata de Maria. Mas, na realidade, é uma Verdade de Cristo que acontece em
Maria: “Em Adão todos morrem, assim também, em Cristo todos reviverão [...] é
preciso que Ele reine até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus
pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Cor 15,22.25-26). Em Maria,
como protótipo para toda a humanidade, é realizado integralmente esse plano da
redenção. Não precisamos esperar para ver se é verdade. Desde sua concepção
imaculada, sua maternidade divina e virgindade integral, Maria, por dom e por
obediente colaboração, tornou-se um evangelho do cumprimento das promessas. A
festa de hoje celebra a memória da total assimilação da Mãe de Deus a Seu Filho,
na glorificação daquela que primeiro foi levada ao Céu e seguiu o Filho na
Glória divina. Essa é nossa esperança, já realizada nela. Ao ser proclamada por
Isabel “Mãe de meu Senhor”, Maria recebe o reconhecimento de todos os que são
movidos pelo Espírito. Ela é templo do Espírito, Arca da Aliança, Cidade do
grande Rei. A festa tem sua fonte na Escritura, na santa Tradição e nos Santos
Padres.
Missão
redentora de Maria
A Assunção de Maria dá também a
certeza de que essa caminhada de glorificação começa, no momento presente, na
transformação das estruturas humanas em Reino de Deus. Maria, em seu canto de
louvor a Deus (Magnificat), resume o evangelho libertador que Cristo anuncia em
Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para
evangelizar os pobres, proclamar a remissão dos presos, aos cegos a recuperação
da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano da
graça do Senhor” (Lc 4,18-19). Maria propõe a transformação: dispersou os
soberbos, derrubou os poderosos dos tronos e elevou os humildes. Encheu de bens
os famintos e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu a Israel, seu servo,
tudo pela misericórdia de Deus que nos visitou, como reza Zacarias (Lc 1,78).
Só celebra bem Maria quem faz memória de Cristo e memória dos sofrimentos dos
pobres e da atenção de Deus por eles.
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