PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
424. Perseverar na oração
A comunidade é Corpo de Cristo com o qual está em contínuo diálogo com
o Pai. Através do Espírito Santo ouve e responde amorosamente ao Pai. Jesus,
durante sua vida na terra, continuava em diálogo com o Pai, isto é, rezava.
Quando voltou para o Pai, deixou-nos sua oração. Não uma oração qualquer, mas
sim, a Sua. Rezamos com Ele ao Pai. Quando ensinou o Pai-nosso Ele não disse
Pai meu, mas nosso. O mesmo Espírito que ora em Cristo, ora em nós com palavras
que não conseguimos falar, pois não temos palavras suficientes para nos
exprimir (Rm 8,26). Jesus insiste que oremos sem cessar, sem esmorecer (Lc
18,1) para estar em diálogo com o Pai. Esse diálogo vai além da misteriosa ação
do Espírito e acontece no dia a dia. É um dom para os filhos de Deus. Eles
podem falar com o Pai de tantos modos. O importante é que continuem orando. A
comunidade apostólica era “perseverante no ensinamento dos apóstolos, à comunhão
fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). Ser perseverante não é ficar
o tempo todo dizendo coisas a Deus, mas ter no interior essa capacidade de
entrar em diálogo com Deus, com palavras próprias ou dos outros. A necessidade
de rezar não vem de uma obrigação, mas de uma exigência de nosso ser
espiritual. É a respiração do corpo. O Corpo de Cristo, unindo todos os membros
pela ação do Espírito, respira pela oração. Por isso tem de ser permanente. É o
ar, pois o Espírito é a respiração. Por ela se mantém vivo todo o Corpo, a
comunidade. Nossa oração é a que Jesus faz diante do Pai. Ela tem a
característica de Filho amado e querido que tem seu “Abba” muito próximo. Abba
quer dizer paizinho. Era íntimo. Imagino que nossas orações perderam essa
dimensão. Por isso se tornam tão insípidas. Não têm o mel do amor filial.
Repetimos fórmulas. Citamos textos. Deus já conhece a bíblia, aliás, andou
escrevendo. Ele quer saber de nós, de nossa vida. Rezar é contar para Deus tudo
o que somos, fazemos e temos.
425. Viver juntos a salvação
A salvação que nos foi conquistada por Jesus não é algo individual.
Mesmo que cada um seja responsável por si e por suas ações, nós nos salvamos
como povo de Deus, como comunidade, Corpo de Cristo. Na realidade, já estamos
salvos, pois Cristo nos salvou. A nós compete acolhermos essa salvação e
vivermos uma vida de salvos, buscando as coisas do alto (Cl 3,1). Essa salvação
é viver a vida no amor, construindo a fraternidade e levando aos outros o
conhecimento dessa vida que Cristo nos conquistou. A vida interior reflete-se
na comunidade em que vivemos. Nós somos responsáveis uns pelos outros. A vida
de Deus em nós torna-se vida para os que estão conosco. Vivemos juntos a
salvação. O fato de nos interessarmos em oferecer-lhes a vida que temos é sinal
que a vivemos. Se anunciarmos aos outros é para vivermos a mesma vida. Rezar é também
falar de Deus aos outros. Isso é salvação. Quem reza se salva e salva os
outros.
426. Construindo a história da Salvação
A história desse diálogo com Deus em
oração regula nossa vida. À medida que nos unimos a Deus pela oração, fazemos a
história da salvação. Continuar a história é levar adiante o modo como Deus nos
salvou: dando-nos o Filho. Deus é amor e doação. Se entrarmos no círculo do
diálogo amoroso de Deus com seu povo, nós o repetimos em nós. Fazemos nossa
essa história do passado que então se torna presente. Como corpo nós salvamos
porque oramos como corpo. Rezar sempre é salvar o mundo.
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