PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
O
dono do mundo
Toda
a questão do clamor dos pobres não é um discursinho afogueado sem compromisso. É
uma e questão que atinge as estruturas que governam o mundo. É Davi contra Golias.
Davi derrubou o gigante com uma pedrinha. Mas não é com água benta que iremos
resolver. Mas tem solução. Diz Papa
Francisco: “A necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode
esperar” (EG 202).
Não bastam as campanhas quando acontecem calamidades que comovem o mundo. O
Papa é claro: “Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos
pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação
financeira, atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se
resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum. A
desigualdade é a raiz de todos os males” (EG202). Aqui o Papa citou Papa Bento XVI.
Vemos claramente que a questão está nos donos do poder do mundo. Quem manda no
mundo é o mercado financeiro. Mesmo as religiões vivem dentro desse esquema.
Podemos nos lembrar que os homens e mulheres que marcaram o mundo foram os que
saíram desse jogo, como é o caso de S. Francisco. Vemos pelo mundo como a luta
pelo poder está voltada para o domínio do mercado. Como mudar tudo, se tudo
está direcionado para se manter esse esquema. É quase impossível sobreviver se
não aceitar o jogo. Quem tem o poder do dinheiro, tem o dinheiro do poder. A
ganância é uma doença que significa saúde. Nessas graves situações que afligem
o mundo e diante da resposta inadequada que dada, não podemos olhar só para
nosso quintal ou pequeno mundo. Há situações terrificantes em países distantes.
E lembramos que são pessoas humanas que sofrem.
A
dignidade da pessoa
“A
dignidade de cada pessoa e o bem comum são questões que deveriam estruturar
toda a política econômica” (EG 203). Essa linguagem desagrada inclusive a gente que se diz
cristã. O assunto é bom, desde que não me toque. Quanta rejeição há quanto se
toca nesses assuntos! Alguns usam essas palavras para granjear atenção e votos.
Mas depois... nada feito. O ser humano amado por Deus deve estar o centro das
soluções. Os grandes temem que lhes seja tirado o lucro. Acontece o contrário.
Pelo bem que faz ao ser humano, o lucro será maior. “O que se espera é que os
poderosos se deixem interpelar por um sentido mais amplo da vida; isto lhe
permite servir verdadeiramente o bem comum com seu esforço por multiplicar e
tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos” (EG 203). Como existe uma estrutura completa para que o
mercado funcione com toda eficácia, igualmente uma nova ordem requer “decisões,
programas, mecanismo e processos especificamente orientados para uma melhor
distribuição de renda, criação de trabalho para uma promoção integral dos
pobres que supere o mero assistencialismo” (EG 204).
Uma
Igreja sem paz
Papa
Francisco conduz sua reflexão, com que numa busca de força, pede “a Deus que
cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise
sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do mundo” (EG 205). A abertura à
transcendência pode iniciar a renovação. Economia e bem comum social não se
opõem. Não falamos de nosso mundinho, mas do mundo. A Igreja não pode estar
tranqüila, pois cai no mundanismo espiritual. O pior pecado que podemos cometer
é encobrir a força do evangelho com interesses e ideologias. A força do
evangelho pode nos mudar. Infelizmente não
é esse o interesse de muita gente da Igreja.
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