PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
415. Individualismo espiritual
Jesus diz que a porta do Céu é estreita (Lc 13,24). Mas deve haver um
jeito que tire esse receio de não conseguir entrar. Não se trata de forçar a
barra, mas simplesmente de admitir que a porta se alarga na medida em que
tomamos a atitude de Jesus que caminha para o Calvário para dar a vida. Se
tivermos as atitudes de Jesus, temos certeza de poder atravessar a porta, pois
Ele é a porta: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo” (Lc 10,9). Há
quem pense que a luta para ultrapassar essa porta seja uma tarefa solitária,
individual, com muitos riscos de não se conseguir. Dá-se a impressão que a
salvação é uma questão exclusivamente pessoal. Como somos indivíduos únicos e
irrepetíveis, todas as nossas atitudes são isoladas. Criou-se uma fé
individualista, tanto que se diz que “religião não se discute”. Tem-se a
religião como algo pessoal. Esse individualismo se reflete também nas palavras:
“Eu não vou à Igreja para rezar, eu rezo em casa”; “Não me confesso a um padre,
confesso diretamente com Deus”. Jesus não queria esse individualismo
espiritual. Ele propõe o amor ao próximo como caminho para a salvação. É amor
de dar a vida. Dar a vida não significa perder a vida com a morte, mas colocar
a vida a serviço. Disse que maior é o que serve: “Eu estou no meio de vós como
aquele que serve” (Lc 22,27). Servir é a base da vida espiritual. Não se trata
de uma religião individualista, onde faço as orações e garanto o Céu. O
aperfeiçoamento mas só acontece no relacionamento com os outros. Jesus foi
sozinho ao Calvário, mas foi para que todos tivessem vida.
416. Vantagens da comunidade
A busca da perfeição cristã passa pelo “eu” que vive em vista do “tu” para
chegarmos ao “nós’. Por isso Jesus diz que Ele estará no meio. Atualmente temos
insistido muito sobre a comunidade. É fundamental para a vida espiritual a
participação de uma comunidade. A Igreja é comunidade, é povo de Deus. No
Antigo Testamento sempre se fala de povo. Encontramos a responsabilidade
pessoal, mas o elemento importante é o povo. Em o Novo Testamento deparamos com
Jesus que cria o novo povo, escolhendo os doze apóstolos, pedras fundamentais
do novo povo, como foram os doze patriarcas para o povo antigo. Nos Atos dos
Apóstolos podemos ler: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma.
Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era comum entre eles” (At
4,32). Os apóstolos constituíam comunidades por onde passavam. Nelas os cristãos
vivem e desenvolvem sua fé. O desenvolvimento se faz pela caridade, como
escreve Paulo: “Agora permanecem, portanto, a fé, a esperança e a caridade,
estas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade” (1Cor,13,13). A vantagem
de se viver juntos, unidos, é praticarmos o que é fundamental para a fé, a
caridade.
417. Descobertas que fazemos
O caminho da história da Igreja
sempre trouxe, como modelo da santidade, a vida de caridade que praticamos.
Vemos que os santos se dedicaram aos irmãos, dos mais diversos modos. Nisso
chegaram a ser imitadores de Jesus. A vida de comunidade leva-nos a descobrir
quem somos nós. Sem ter um espelho, somos cegos sobre nós mesmos. O tu é sempre
um espelho para o eu e uma descoberta do nós. Descobrirmos também que é através
do outro que agradamos a Deus e O servimos, como lemos na parábola do bom
Samaritano (Lc 10,29-37). Jesus, na ceia, faz o lava-pés e no-lo dá como
exemplo a seguir.
parábola do
bom Samaritano (Lc 10,29-37). Jesus, na ceia faz o lava-pés e no-lo dá como
exemplo a seguir.
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