Evangelho segundo São João 14,27-31a.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem intimide o vosso coração.
Ouvistes que Eu vos disse: Vou partir, mas voltarei para junto de vós. Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu.
Disse-vo-lo agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis.
Já não falarei muito convosco, porque vai chegar o príncipe deste mundo. Ele nada pode contra Mim,
mas é para que o mundo saiba que amo o Pai e faço como o Pai Me ordenou».
Tradução litúrgica da Bíblia
Bulle
Imitação de Cristo
tratado espiritual do século XV,
Livraria Moraes, 1959
Livro 1, cap. 11
«Dou-vos a minha paz»
Grande paz poderíamos alcançar se nos não quiséssemos ocupar das palavras e dos atos alheios e do que não nos diz respeito. Como poderá permanecer em paz aquele que interfere nos problemas dos outros, que busca o que é exterior e, pouco ou muito, raramente se recolhe? Felizes os simples, porque terão grande paz.
Por que razão qualquer dos santos foi tão perfeito e contemplativo? Porque a todo o momento matavam em si os desejos do mundo, de todo o coração pertenciam a Deus e então livremente se ocupavam de si. Mas nós ocupamo-nos muito das nossas paixões e daquilo que passa. Raramente vencemos por completo um defeito, e não conseguimos um progresso diário: assim nos mantemos frios ou mornos.
Se estivéssemos completamente mortos para nós próprios e mais livres por dentro, saberíamos o gosto do divino e alguma coisa da contemplação do Céu. O nosso maior e único obstáculo é não estarmos livres de paixões e desejos e não nos esforçarmos por entrar na perfeita via dos santos. Quando nos sucede qualquer adversidade, imediatamente desanimamos e voltamos às consolações humanas.
Se nos mantivermos quais homens fortes no combate, depressa veremos sobre nós o auxílio de Deus. Na verdade, Ele está pronto a ajudar os que combatem e esperam na sua graça, pois é Ele quem nos favorece as ocasiões de lutar, para que vençamos. [...]
Oh, soubesses quanta paz para ti e alegria para os outros a tua vida santa causaria, julgo que terias mais ardor no teu progresso espiritual.
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