Depois do Tempo Pascal temos diversas celebrações muito queridas do povo de Deus: a Solenidade da Santíssima Trindade, Corpus Christi e a festa do Sagrado Coração de Jesus. A Páscoa celebra os fatos centrais da vida de Jesus. A festa da Ssma. Trindade celebra um dogma básico da fé. As festas de Corpus Christi e do Sagrado Coração são devoções que explicitam os conteúdos salvíficos. Celebrar o Sagrado Coração é celebrar o amor com que Cristo nos salvou. Temos que nos alertar contra o modo de fazer Cristo em pedaços com as devoções. Não celebramos um coração de carne, mas amor de Deus manifestado em Cristo. Ele é a expressão mais clara do amor de Deus para conosco: “Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho Unigênito ao mundo, para que vivamos por meio Dele” (1Jo 4,9). Ao contemplar este amor de Deus somos atraídos pelas inenarráveis doçuras deste amor. Não é possível narrar todas as maravilhas prazerosas que tem Seu amor. Temos o costume de ser só intelectuais quando nos relacionamos com Deus. Deus quer amor. Jesus nos ensinou essa ternura em suas atitudes. Lembramos seu carinho pelos pecadores, pela ovelha perdida e pelo filho perdido e reencontrado. Quem não compreende que o amor de Deus atua e se autentica justamente no encontro com o mal, não entende nada de Evangelho. As parábolas acima nos ensinam que o amor de Deus não é um amor que espera, mas que vai atrás até encontrar. Ele não espera, chega antes, antecipa (V.Pasquetto). A parábola do Pastor é uma descrição deste amor que se torna um modo de vida. Ser pastor significa criar uma relação de afeto, de ternura com cada ovelhas. Depois que encontra a ovelha a põe nos ombros, todo feliz. Não é sem razão que Jesus diz: Eu sou o bom Pastor... Eu conheço minhas ovelhas e elas me seguem.
Mais que uma devoção
No prefácio da missa rezamos: “De seu imenso amor, quando foi elevado sobre a cruz, ofereceu-se a si mesmo por nós. E, de seu lado trespassado, deixando jorrar sangue e água, fez nascer os sacramentos da Igreja, para que todos os homens, atraídos para o Coração aberto do Salvador, pudessem beber nas fontes vivas da salvação”. O Coração é a fonte de onde jorra a vida da Igreja. Esta devoção é um modo de ser Igreja. Temos um modelo de Igreja baseada no aspecto jurídico, funcional, ritual. Tem pouco de mãe. Isso Jesus já condenava na prática religiosa do seu povo. O modo de vida de Jesus não tinha nada disso, como vimos. Do Pai sabemos que é bom para com todos, “sua ternura abraça toda criatura” (Sl 144). Não adianta fazer uma devoção que me garante a salvação, se não aprendo deste Coração sua ternura para com todos. Deus prometeu muitas maravilhas aos que têm devoção. Mas o que prometemos? Sem esse amor, tudo se torna inútil.
Um caminho para o mundo
Nós temos incontáveis momentos da ternura de Deus. A experiência de Deus acontece quando percebemos que Ele nos ama. A ternura desse doce amor se repete constantemente, às vezes de modo divertido. É uma experiência que se pode ter com facilidade. A experiência da doçura do amor de Deus é um momento precioso da vida que a marca para sempre. Ele não é mais um que conheço, mas o Outro que me conhece. Se a sociedade assumisse esse modo de Deus amar, seria um mundo diferente. Aproveitamos de todas as descobertas e estruturas dos bens que um dia acabarão, mas não aproveitamos os bens que duram para sempre e nos fariam mais felizes. Celebrar o Sagrado Coração é trazer para a sociedade as dinâmicas deste amor.
ARTIGO PUBLICADO EM JUNHO DE 2013
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