Jesus tinha uma vida social que lhe possibilitava conhecer as pessoas no seu ambiente. Gostava de usar a imagem do banquete que, se por um lado é um exemplo do Reino de Deus, por outro é um momento no qual se percebe a realidade da pessoa. Toca numa questão na qual ensina a viver em comunidade. Lembra que as atitudes retratam o coração. Podemos falar de etiqueta espiritual que se chama humildade. Esta não é só uma virtude, mas é o próprio ser de Jesus por Sua encarnação. Paulo descreve o que é Sua humildade: “Sendo de condição Divina... assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E achado em figura humana, humilhou-se e foi obediente até à morte e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou grandemente” (Fl 2,6-9). Jesus não suportava o orgulho porque era totalmente contra Sua natureza humano-divina. Ele tinha a tentação do orgulho, como vemos nas tentações do deserto. Jesus não veio dar espetáculo. Escolhe o caminho do serviço humilde. O orgulho é um atentado: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4,5-7). O cerne da humildade está na pessoa de Jesus. O orgulho e a vaidade penetraram de tal modo a sociedade que se transformaram no seu cerne. A vaidade ativa o comércio. Vemos os concursos de beleza, as medalhas de ouro, a concorrência social. Basta abrir uma revista, assistir novelas, ou participar de uma festa. Quando se diz que será elevado ensina que a humildade conduz à ressurreição. A ressurreição não é um estágio final da vida humana, mas é o resultado da humildade. Maria proclama: “O Senhor olhou para a humildade de sua serva. Doravante as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Todo-Poderoso fez grandes coisas por mim” (Lc 1,48-49). Para Jesus, humildade é servir.
O orgulho não tem remédio
Poder, fama e posse são termos que se completam. São um perigo para o homem. Por isso o livro do Eclesiástico dá as receitas de como viver na situação do poder, da fama e da posse com mansidão nos trabalhos. Temos o exemplo de Moisés “que era o homem muito manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm 12,3). “Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade... pois é aos humildes que Deus revela seus mistérios” (Eclo 3,20-21). O autor reconhece que “para o mal do orgulhoso não tem remédio, pois uma planta do pecado está enraizada nele, e ele não compreende” (30). Como no demônio não há verdade, é mentiroso e o pai da mentira (Jo 8,44), assim o mal do pecado do orgulho se enreda em todas as atitudes, mesmo nas espirituais. Certamente que existe a conversão. O orgulho morre só depois da missa de sétimo dia, dizia um santo. A humildade é uma virtude que nos faz agradáveis a todos. É uma virtude ativa, pois procura colocar-se a serviço. Não se trata de encolher-se e dar uma de ingênuo. Humildade é a verdade.
As verdadeiras recompensas
Jesus diz que “quem se eleva será humilhado, quem se humilha será elevado” (Lc 14,11). Esta elevação é a ressurreição dos justos, pois “nos aproximamos da cidade do Deus vivo” (Hb 12,22). A recompensa de ser humilde é viver como pessoa humana em sua integridade e totalidade. A humildade nos põe no banquete vivido na caridade que é prelúdio do banquete definitivo do Reino no qual se degusta o vinho do Reino (Jo 26,29) e se saboreia os manjares do amor que dura (Is 25,6). Os prazeres eternos podem ser antecipados na participação comum da humildade. Na Eucaristia temos o banquete de Cristo. Na humildade realizamos o encontro com Deus. A humildade se concretiza no serviço.
Leituras: Eclesiástico 3,19-21.3031;
Salmo 67;
Hebreus 12,18-19.22-24ª,Lucas 14,1.7-14
1. Jesus usa sua observação sobre as atitudes durante um banquete para mostrar o sentido da humildade. A humildade faz parte do ser de Jesus que por Sua encarnação humilhou-se. Ele tinha a tentação do orgulho. O orgulho penetra toda a sociedade. Ser elevado significa a ressurreição. Humildade é servir.
2. Poder, fama e posse põem em risco o homem. O livro do Eclesiástico ensina a mansidão como remédio. O mal do orgulhoso não tem remedido, está enraizado. A humildade nos faz agradáveis a todos. É uma virtude ativa, pois se põe a serviço. Não é ser ingênuo, pois humildade é a verdade.
3. A elevação do humilde é a ressurreição. O banquete é prelúdio do banquete definitivo do reino. Os prazeres eternos podem ser participados na participação comum da humildade. A humildade se concretiza no serviço
Arrancar com raiz e tudo
Ser humilde não é ser bobo. Quem é dono de si, em qualquer situação está bem. O que faz a pessoa grande não é o poder, mas sua humildade. Diz o livro do Eclesiástico: que quanto maior for mais deverá praticar a humildade. A humildade é o maior grau do amor, como fez Jesus na Ceia lavando os pés dos apóstolos. Ela é um modo de ser e não só de fazer.
O orgulho é um mal danado. É como uma planta que lançou raízes profundas. O pecado está enraizado. Para quem conhece plantas, podemos compará-lo com a guanxuma que só se arranca com raízes se estiver o chão encharcado, senão a raiz fica e brota de novo.
Jesus faz a comparação do banquete no qual as pessoas disputam lugares para aparecer. Se for humilde vai ser exaltado. Fazer agrado para quem agrada a gente, não tem recompensa. O negócio é cuidar com humildade dos necessitados. Aí rende, pois quem paga é o Pai.
Homilia do 22º Domingo Comum (01.09.2013)
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