Evangelho segundo São Mateus 6,19-23.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não acumuleis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem os destroem e os ladrões os assaltam e roubam.
Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não os destroem e os ladrões não os assaltam nem roubam.
Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração.
A lâmpada do teu corpo são os olhos. Se o teu olhar for límpido, todo o teu corpo ficará iluminado.
Mas se o teu olhar for mau, todo o teu corpo andará nas trevas. E se a luz que há em ti são trevas, como serão grandes essas trevas!».
Tradução litúrgica da Bíblia
(335-395)
Monge, bispo
Os olhos da pomba
«A lâmpada do teu corpo são os olhos»
«Como são lindos os teus olhos de pomba», diz o Esposo [do Cântico dos Cânticos] (Ct 1,15). O louvor que fazemos aos olhos [da Esposa] é dizer que são como de pomba. Eis o que, a meu ver, isso significa.
Quando as pupilas são claras, quem as fixa pode ver nelas a própria face. Com efeito, os especialistas do estudo dos fenómenos da natureza dizem que o olho é impressionado pelas imagens emanadas pelos objetos visíveis e que é assim que se produz a visão. É por isso que louvamos a beleza dos olhos, dizendo que a imagem da pomba aparece na sua pupila: porque recebemos em nós mesmos a imagem daquilo para que voltamos o olhar. Quem não olha para a carne para o sangue, fixa o seu olhar na vida espiritual; como diz o Apóstolo, «vive no Espírito» (Gl 5,25), caminha segundo o Espírito; tornou-se inteiramente espiritual e já não físico ou carnal.
Por isso, a alma liberta das paixões carnais testemunha que possui nos seus olhos a imagem da pomba, ou seja, que a marca da vida espiritual brilha na pupila da sua alma. Visto que tem o seu olhar purificado, tornou-se capaz de receber a imagem da pomba e pode também contemplar a beleza do Esposo. Com efeito, quando a jovem possui olhos de pomba, fixa pela primeira vez a beleza do Esposo: «Ninguém pode dizer "Jesus é o Senhor", senão pelo Espírito Santo» (1Cor 12,3).
E ela diz: «Ah! Como é belo o meu amado. Todo ele é delicioso! (cf Ct 5,16) Desde que [te vi] nada mais me parece belo e afastei-me de tudo o que anteriormente contava como belo; nunca mais o meu juízo sobre beleza se perdeu, a ponto de me levar a encontrá-la fora de ti. A tua beleza é extensiva a toda a eternidade da vida e o teu nome é: amor dos homens».
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