quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “Humildade, ainda vale?”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Deus é humilde
Ser cristão é ser diferente. A humildade é uma das características do seguidor de Jesus. É uma virtude de fama ruim. Nietzsche dizia que ela não é virtude, mas uma nojenta escravidão. Confunde-se o humilde com ser “bobo”, “pobre de espírito” (não no sentido das bem-aventuranças). Humildade é a rainha das virtudes, pois é o modo de o amor existir. Sem a humildade, as demais virtudes se tornam vazias. Imaginemos a oração sem humildade! É a virtude dos grandes homens e mulheres que marcaram o mundo. As pessoas sábias são humildes. Sabem a verdade sobre si, sobre os outros e sobre o mundo. Santa Tereza d’Ávila diz que a humildade é a verdade. Podemos dizer que é a aceitação de todos sem impor restrições. Não basta ser inteligente; é preciso ser sábio. A humildade liberta e não escraviza. É respeito e veneração para com a outra pessoa. Partimos, como sempre, da Virtude que é um raio da divindade. Deus é humildade. Tem todo o Ser e se manifesta como acolhimento de cada ser na sua realidade. O relacionamento no seio da Trindade se faz na humildade do mútuo acolhimento e da mútua entrega, por isso são três que são um: um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. É essa a extrema humilhação: acolher em totalidade a outra Pessoa divina. É acolhimento que é doação. Na Encarnação do Filho de Deus, Jesus Cristo, Deus chegou ao aniquilamento (Kénosis) no qual desapareceu a divindade e só se manifestou a humanidade assumida pelo Filho na Encarnação. A vida do Filho foi vivida na humildade desde o primeiro momento até a entrega na morte e sepultura. Era tido como homem, de uma raça, numa situação histórica e geográfica próprias. Em seu ministério esteve com os humildes, acolhendo-os. Este é o caminho que propõe: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humildade de coração” (Mt 11,29). Em Jesus vemos a Sabedoria e a Inteligência dominadas pela humildade. Assim é o discípulo. 
Humildade nos faz grandes
Deus se inclinou e acolheu. Não se fez dono, fez-se presença. Ao vir a nós, não nos humilhou, mas aceitou nossa condição. Não se desfez do que é, Deus, mas se fez humano como nós. Assim é a humildade: reconhecer a grandeza da pessoa do outro, sem perder a sua. Jesus mostrou face do Pai: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Transmitindo a mensagem do Pai, Jesus muda a concepção de grandeza: “Pois, qual é maior, quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, estou entre vós como quem serve” (Lc 22,27). O serviço humilde dá-nos autoridade e grandeza. “Aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro, seja o vosso servo” (Mt 20,26-27). A humildade desfaz o orgulho, que é uma falsa segurança. 
Atitudes do amor 
A humildade mostra, até nas pequenas coisas, uma mudança de comportamento. Aprendemos a respeitar as pessoas, promover e provocar a igualdade. Um senhor francês, de Tietê, Bernard Fétizon, dizia a sua esposa Beatriz Fétizon, que achava muito bonito os brasileiros chamarem até os mendigos de senhor e senhora, que são títulos de nobreza (agora se diz tio. Pena!). A humildade na vida pública e eclesial ensinará a respeitar o direito do pobre, do humilde, de toda pessoa, com igualdade. As autoridades aprendam de Jesus que era manso e humilde de coração e não apelem para poder antes do serviço. O que dá grandeza ao homem não são os títulos e as roupas, mas pelo coração humilde. Humildade é a ressurreição do ser humano.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM FEVEREIRO DE 2009

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