O Mais Ortodoxo Grão-Príncipe São Vladimir-Basílio, Igual-aos-Apóstolos e Iluminador (958–1015), foi o primeiro Grão-Príncipe de Kiev, governando as terras russas por 37 anos (978–1015). É considerado iluminador das terras russas e santo por seu papel no Batismo da Rússia. Foi pai dos Santos Bóris e Glebe. A Igreja o comemora em 15 de julho, dia de seu repouso, escolhido para a Festa de Todos os Santos de Kiev e 10 de outubro, durante a Festa de Todos os Santos da Volínia.
Vida
Vladimir era neto de Santa Olga, Princesa de Kiev (945–960), e filho de Esvetoslau I (945–972) e Malucha, Príncipe e Princesa de Kiev. Malucha era filha de Malco, Príncipe dos Drevlianos, cuja vida fora tirada por Santa Olga após sua tentativa de casar-se com ela assassinando seu esposo, Igor I, Príncipe de Kiev (914–945). Malucha e Dobrínia, seus dois filhos, foram adotados pela santa.
Dobrínia tornou-se um valente e bravo guerreiro, dotado de uma mente para assuntos de estado. Mais tarde, ele assumiria os assuntos administrativos de defesa e de estado no grão-principado de São Vladimir. Em Constantinopla, Malucha e Santa Olga converteram-se ao cristianismo, porém isso não evitou que Malucha ignorasse sua mãe adotiva e se casasse com o guerreiro pagão Esvetoslau, filho biológico de Santa Olga. Enfurecida, a santa considerou como impróprio o casamento de seu filho biológico — herdeiro do principado — com sua filha adotiva e expulsou-a para sua terra natal.
Em 958, nasce Vladimir, cujo nome significava “governante pacífico”. Em 970, Esvetoslau parte para uma campanha na qual não voltará vivo, dividindo as terras russas com seus três filhos: Jaropolco, Príncipe de Kiev (972–980); Olegue, Príncipe dos Drevlianos (969–977); e Vladimir, Príncipe de Novogárdia. Em seus primeiros anos como príncipe, Vladimir se mostra como um feroz pagão, conduzindo uma campanha militar contra o cristão[nota 1] Jaropolco pela qual os pagãos simpatizaram-se com Vladimir. Em 11 de julho de 978 ou 980, Vladimir invade Kiev e mata Jaropolco, tornando-se príncipe de toda a Rus' (Olegue já havia morrido).
Embora Vladimir se entregasse a uma vida libertina, o príncipe “pastoreava suas terras munido da verdade, dos valores e da razão”. Como um bom e diligente mestre, ele expandiu e defendeu os limites da Rus' através de várias campanhas militares, pelas quais eram organizados banquetes para todo o povo russo. Mas o Senhor havia o preparado para outra tarefa.
“Onde abundou o pecado, superabundou a graça.” (Romanos 5:20)
Sobre Vladimir veio o Altíssimo, e o Olhar Todo-Misericordioso do Bom Deus o contemplou com o pensamento de compreender a ilusão idólatra e de recorrer ao Deus Uno, Criador de todas coisas, visíveis e invisíveis. O Batismo de São Vladimir estava próximo. Naquele tempo, o Império Romano estava sendo golpeado pelos diversos regimentos dos generais Bardas Esclero e Bardas Focas, que lutavam pelo trono imperial. Nessas condições, os imperadores Basílio II (976–1025) e Constantino VIII (962–1025) pediram ajuda a Vladimir.
Em agosto de 987, Bardas Focas autoproclamou-se imperador e rebelou-se contra Constantinopla. No outono, os emissários de Basílio II dirigiram-se para Kiev, rogando por uma aliança com o príncipe dos russos. Os russos eram inimigos dos romanos, mas mesmo assim Vladimir consentiu com o imperador deposto e formou uma aliança. Em troca, Vladimir pediu a mão da irmã de Basílio II, Ana Porfirogênita, o que era uma audácia aos olhos romanos, dado que as princesas da linhagem imperial não se casavam com os bárbaros, mesmo que fossem cristãos — a mesma, por exemplo, já recebera a proposta de casamento com o filho de Otão I, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico (962–973), a qual foi recusada. Mas teve-se que abrir uma exceção, haja vista do momento no qual Constantinopla se encontrava.
O Batismo de São Vladimir.
Um tratado foi assinado, pelo qual Vladimir haveria de enviar a Constantinopla seis mil guerreiros dos povos varegues para aceitarem o Batismo e comporem a Guarda Varegue a ser concedido a mão de Ana. Assim, através da guerra mundana Deus dirigiu a entrada da Rus' no seio da Igreja de Constantinopla. Em 1º de agosto de 988, o Grão-Príncipe Vladimir aceitou o Batismo sob o nome de Basílio, e enviou o apoio militar ao Império Romano. Com o auxílio dos russos, os amotinados foram derrotados e Bardas Focas, morto. Mas os gregos, atônitos com a impensável vitória, não se apressaram em cumprir sua parte do tratado.
Aborrecido com a falsidade de Constantinopla, Vladimir dirigiu suas tropas para Quersoneso (atual Sebastopol, na península Crimeia), fazendo com que a fortaleza “impenetrável” e o elo econômico e mercantil mais vital do Império Romano no Mar Negro fosse tomado pelos russos. Oito dias levou a preparação da futura Grã-Princesa Ana (989–1011), durante os quais seus irmãos enfatizaram a importância da oportunidade diante dela: iluminar as terras da Rus' e torná-las aliadas perpétuas do Império Romano. Vladimir esperou por ela na mesma península, e Constantinopla concedeu-o um novo título imperial: Czar (César). A Santa Rus' agora estava intimamente presente na história do Império Romano.
Acompanhando a grã-princesa estava São Miguel I (988–992), nomeado para presidir a Sé Russa por São Nicolau II, Patriarca de Constantinopla (984–991). Ele trouxe consigo uma comitiva e seu clero, juntamente com diversas relíquias e itens sagrados. Em Quersoneso realizou-se a coroação do casamento de São Vladimir e Ana, e seguido da devolução da península a Constantinopla. Na primavera de 988, o santo e sua esposa partiram para Kiev pelas terras da Crimeia e de Taman, contornando o mar de Azov. À frente do cortejo, cantavam-se ofícios de Ação de Graças e carregavam-se cruzes, ícones e relíquias.
Em seguida, ocorreu um evento único da história da Rússia: o Batismo dos quievanos nas águas do rio Dniepre. São Vladimir declarou por toda a Kiev: “Aquele que não estiver no rio amanhã, rico ou pobre, mendigo ou escravo, seja meu inimigo.” Os cronistas da época relataram, “toda a Kiev juntou-se para glorificar a Cristo com o Pai e com o Espírito Santo sem murmúrio. Então, as trevas dos ídolos começaram a ser consumidas pela aurora de Jesus Cristo que iluminava toda a terra.”
Em memória deste evento, a Igreja Russa estabeleceu uma procissão anual em 1 de agosto. Mais tarde, a Procissão da Venerável Madeira da Cruz Vivificante do Senhor, celebrada pelas Igrejas Grega e Russa, foi unificada com a do Batismo da Rússia. Nessa junção de Festas vê-se a expressão teológica russa, pela qual tanto o Batismo como a Cruz são inseparáveis.
Por toda a Santa Rus', desde as antigas cidades até os longínquos postos, São Vladimir ordenou a destruição de todos os santuários pagãos (incluindo açoitar os ídolos), e em seu lugar erguer igrejas cujos altares seriam consagrados para o Sacrifício Sem Sangue. Igrejas surgiram por toda a terra, desde o topo das colinas às bacias dos rios. Santo Hilarião, Metropolita de Kiev (1051–1053), em seus Sermões sobre Lei e Graça, exclama: “[Os quievanos] demoliram os templos pagãos e construíram igrejas, destruíram os ídolos e produziram ícones; os demônios fugiram, e a Cruz santificou as cidades.”
Desde os primeiros séculos era costume erguer igrejas sobre as ruínas de santuários pagãos ou sobre o sangue dos santos mártires. Seguindo essa prática, São Vladimir construiu uma igreja dedicada a São Basílio, o Grande, sobre uma colina onde havia um santuário a Perun, e a Catedral da Dormição — que hoje encontra-se em processo de reconstrução — no sítio onde os primeiros santos varegues Teodoro e João foram martirizados. A catedral visava ser a sede do metropolitanato e da Igreja Russa. Suas obras foram concluídas em cinco anos, e foi ricamente adornada com afrescos, cruzes, ícones e cálices sagrados vindos de Quersoneso.
São Vladimir ordenou que o dia da consagração da catedral, 11 de março de 996, fosse agregado ao calendário de festas da Igreja, alinhando o evento com outros eventos comemorados nesse dia, como a Fundação de Constantinopla por São Constantino, o Grande (306–337), e a inauguração da milenar Catedral de Santa Sofia de Kiev. Ao consagrar a catedral sede à Mãe de Deus, São Vladimir seguiu o exemplo de São Constantino em dedicar sua capital à Rainha dos Céus.
Então, São Vladimir declarou: “Oferecerei à Santa Mãe de Deus e ao nosso Salvador a décima parte de todo o meu principado, e também de toda a jurisdição das terras russas um dízimo. Do mercador, um dízimo semanal. Das famílias, um dízimo anual de todo o rebanho ou sustento”, direcionando todo o dízimo russo à catedral, que ficou conhecida também como Igreja do Dízimo. O príncipe também declarou que o clero não estaria sob jurisdição do príncipe nem dos seus oficiais, mas sim do metropolitanato.
O cronista preservou uma oração feita por São Vladimir ao Altíssimo pela consagração da catedral. O que segue é uma tradução livre.
“Ó Senhor Deus, olha, contempla e visita das alturas do Firmamento esta Tua videira, a qual Tua Mão plantou. Faz com que este Teu novo povo cuja mente e coração foram convertidos por Ti venha a Te conhecer, ó Deus Verdadeiro. E olha a esta igreja Tua, a qual Teu indigno servo construiu em nome de Tua Mãe, a Sempre Virgem Mãe de Deus. E àquele que orar nessa igreja, que sua oração seja ouvida, pelas orações da Puríssima Mãe de Deus.”
Para expandir a Fé entre o povo, São Vladimir, São Miguel e São Joaquim, Bispo de Novogárdia (c. 989–1030), construíram escolas e ordenaram que os pais levassem seus filhos a elas, para que fossem alfabetizados. Em pouco tempo, surgiram inúmeros professores e filósofos. São Vladimir também construiu cidades fortificadas, expandindo seu território, e muros contra os povos nômades.
A chave para o sucesso do príncipe foi sua pregação pacífica feita entre os pagãos dos estepes. Em 990, quatro príncipes búlgaros pagãos vieram a São Vladimir para receberem o Batismo. Em 991, o cã pechenegue Cutchugue, do mesmo povo que matara seu pai Esvetoslau I e fizera um cálice com seu crânio, apresentou-se para o Batismo e aceitou a Fé, aliando-se com São Vladimir. Aos enfermos e necessitados, São Vladimir distribuía pão, carne, queijo e barricas de hidromel.
Em 1007, São Vladimir transferiu as relíquias de Santa Olga para a Igreja do Dízimo, e em 1011 sua esposa Ana foi sepultada lá.[nota 2] Em 1010, Jaroslau, filho de São Vladimir quando esse ainda era pagão, é nomeado Príncipe de Novogárdia (1010–1019). Em 1013, descobre-se uma conspiração contra o Grão-Príncipe. Seu filho Esvetopolco, o Maldito, então Príncipe de Turóvia (988–1019), cunhado de Boleslau I, futuro Rei da Polônia (1034–c. 1039), cujos planos incluíam a unificação de todas as tribos eslavas pela Polônia, em conluio com Reinbern, Bispo de Colberga (1000–c. 1007), estaria prestes a tomar o poder do grão-principado.
Embora ambos tenham sido presos, São Vladimir não se vingava daqueles que o odiavam. Reinbern brevemente faleceu na prisão, e Esvetopolco, fingindo ter se arrependido, foi solto. Jaroslau então quebra com seu pai e forma um exército próprio. Entrando em Kiev, ordena que seu pai o pague um imposto e um dízimo. A unidade das terras russas, pelas quais São Vladimir havia lutado por toda sua vida, começava a sucumbir.
Em cólera e sofrimento, São Vladimir dá ordens para que seu exército esteja preparado para uma campanha contra Novogárdia. O santo príncipe, porém, adoece gravemente e entrega sua alma para o Senhor em 15 de julho de 1015 na cidade de Berestove. Esvetopolco, agora Grão-Príncipe de Kiev (1015–1019) tenta esconder a morte de seu pai, mas a nobreza quievana, naquela noite, em segredo leva o corpo do santo soberano à Igreja do Dízimo. João, Metropolita de Kiev (c. 1008–c. 1017), organiza uma procissão e sepulta seu corpo ao lado do da Grã-Princesa Ana.
Pós-vida
Embora o Sermão sobre Lei e Graça já chamasse São Vladimir de “um soberano apostólico”, o santo só foi canonizado oficialmente por Santo Alexandre I, então Príncipe de Novogárdia (1236–1240, 1241–1256, 1258–1259), em memória de sua intercessão na vitória contra os cruzados suecos na Batalha do Neva, em 15 de julho de 1240.
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