sexta-feira, 22 de julho de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Misericórdia como missão”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
MA PAZ DO SENHOR
Na misericórdia de Jesus
 
O Pai, quando enviou seu Filho ao mundo, o fez imagem de sua misericórdia. Lemos, em diversos textos do Novo Testamento, que Deus “socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia” (Lc 1,54), como cantou Maria em seu Magnificat. Zacarias confirma: “Graças ao misericordioso coração de nosso Deus pelo qual nos visita o astro das alturas” (Lc 1,78). No Antigo Testamento Deus é reconhecido como amor e misericórdia, pois assim reza o salmo: “Todos os caminhos do Senhor são misericórdia e verdade” (25,10). São tantos os textos nos quais se pede a misericórdia e se reconhece ter sido favorecido por Sua misericórdia! Jesus, sendo a expressão completa dessa misericórdia de Deus, manifesta-a sempre para com os pequenos e fracos, pobres e humilhados. Jesus é duro contra o orgulho dos que se fecharam e recusaram a graça de Deus. Mas deixa aberta a porta da conversão. A própria palavra graça de Deus expressa a vontade carinhosa do Pai que quer abraçar para acolher. Jesus quer que tenhamos a misericórdia que nos oferece, como podemos perceber na parábola do homem que foi perdoado de um grandíssimo débito e não foi capaz de perdoar o colega que lhe devia alguns trocados (Mt 18,23-35). Ter um coração misericordioso, que se compadece dos sofredores, é o exercício mais adequado do sacerdócio do povo de Deus. Nessa atitude Ele oferece os sacrifícios espirituais e cresce em sua espiritualidade. 
Inseridos nas dores do mundo 
Quando Jesus dizia: “sinto compaixão desse povo” (Mt 15,32), sugeria que vivia no meio dele e era capaz de sentir o que ele sentia. Sempre se comovia ao ver a dor das pessoas. Seus milagres não vinham primeiro de um poder de cura e de demonstração de força divina, mas eram gerados por seu coração, que lhe doía ao ver o povo sofrendo. Assim também, o povo sacerdotal vai fazer desse dom um caminho rápido de perceber o que o povo sente, pois vive no meio do povo e não pode estar distante dele. O altar onde se oferecem essas vítimas espirituais é o coração sofrido do povo. Sem isso, somos os mais infelizes do mundo: depois de receber tanto de Deus e de ser continuadores de Jesus, nós deixamos de lado o que é mais caro a Seu coração. Jesus disse “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia” (Jo 6,38-39). Quais os que Deus lhe confiou? “Assim também, não é da vontade de vosso Pai que está nos céus que venha a perecer um só destes pequeninos” (Mt 18,14). Todo povo para Ele eram os pequeninos, suas crianças. 
Promotores de vida 
Moisés, diz ao povo: “Escolhe a vida” (Dt 30,19). Tudo o que Deus faz para seu povo em Cristo é para dar vida. Jesus mesmo diz de si: “Vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). O sacerdócio do povo de Deus tem também a finalidade de promover a vida em todos os sentidos, desde a cura dos males do povo até a solução dos grandes problemas que impedem a vida na sociedade. A vida se constrói no amor e na dedicação. Onde há amor, há sempre vida, mesmo nos sofrimentos. Por isso, essa missão sacerdotal do povo torna-se um meio de santificação ao se dedicar em dar a vida. É importante, pois muitas vezes permanecemos somente no aspecto espiritual, necessário, mas não único. É vazia a espiritualidade que não abrimos o coração e não nos envolvemos com os sofredores, sujando nossas mãos, movidos pela misericórdia.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JANEIRO DE 2007

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