Evangelho segundo São Mateus 13,10-17.
Naquele tempo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Porque lhes falas em parábolas?».
Jesus respondeu: «Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não.
Pois àquele que tem, dar-se-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado.
É por isso que lhes falo em parábolas, porque veem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender.
Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: "Ouvindo ouvireis, mas sem compreender; olhando olhareis, mas sem ver.
Porque o coração deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para não acontecer que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos e compreendendo com o coração, se convertam e Eu os cure".
Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque veem e os vossos ouvidos porque ouvem!
Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram, e ouvir o que vós ouvis e não ouviram.
Tradução litúrgica da Bíblia
Monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos,n.º2,4ss
«Muitos profetas e justos desejaram ver
o que vós vedes e não viram»
Mesmo antes da vinda do Salvador, os santos não ignoravam que Deus tinha desígnios de paz para o género humano. Pois «o Senhor Deus nada faz sem revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas» (Am 3,7). Esse desígnio continuava oculto a muitos; mas aqueles que pressentiam a redenção de Israel (Is 14,1) anunciavam que Cristo viria na carne e, com Ele, a paz: «Ele próprio será a paz» (Mq 5,4).
Contudo, enquanto eles prediziam a paz e o Autor da paz demorava a chegar, a fé do povo vacilava, pois não havia ninguém para o resgatar e salvar (cf Si 36,15). E queixavam-se desse atraso: tantas vezes prometido «pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos» (Lc 1,70), o Príncipe da paz (cf Is 9,5) parecia nunca mais vir. Era como se, de entre a multidão, alguém respondesse aos profetas: «Durante quanto mais tempo nos mantereis em suspenso? Há já tanto tempo que anunciais a paz e ela não chega. Prometeis maravilhas e só aparecem problemas. E essa promessa foi-nos de novo feita, “muitas vezes e de muitos modos” (Heb 1,1), os anjos anunciaram-na aos nossos pais e os nossos pais falaram-nos dela: “Paz, paz: mas não há paz” (Jr 6,14). Que Deus prove que os seus mensageiros são dignos de fé, se de facto são seus mensageiros! Que venha Ele próprio!».
Daí vêm as suas promessas doces e cheias de consolo: «Eis que o Senhor vem» (Is 33,12), Ele não mentirá; se tardar, esperai ainda, porque com toda a certeza não falhará (cf Hab 2,3). E ainda: o seu tempo está próximo; os seus dias não tardarão. Enfim, da boca daquele que foi prometido saem estas palavras : «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações como torrente transbordante» (Is 66,12).
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