Na última ceia Jesus disse: “Dou-vos um mandamento novo; que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,34-35). Ele é o modelo que os cristãos seguem para viver. Depois das bem-aventuranças, explica como se vive esse mandamento novo do amor. Jesus vai aos detalhes. O amor não é uma idéia, é uma prática. Se quisermos segui-lO, passamos por esse caminho e por esse programa de vida. Lucas escreve como Mateus (5-7). São os mesmos ensinamentos de modo resumido. Nesse texto Jesus dá a virada evangélica e rompe com indicações do Antigo Testamento. Não há outro jeito de ser cristão. Jesus é claro: o discípulo deve amar o inimigo em lugar de odiar e vingar-se o que pareceria natural; deve abençoar quem o amaldiçoa; rezar por quem o calunia. Assim o mal se desenvolveria? É possível uma sociedade com essas leis e princípios que Jesus oferece? Chega-se ao mais prático ainda: dar a face, deixar-se roubar, dar a quem pede, não pedir o que foi emprestado. Não fazer aos outros o que não queremos que nos façam. Jesus explica que o amar só quem nos ama, é obvio e não resolve nada. Se amarmos e não esperarmos recompensa seremos como o Pai que é bom também com os ingratos e maus (35). A novidade de Jesus é colocar o Pai como exemplo. Aí dá certo. Como em Jesus tudo passa pela encarnação, é passando pelo próximo que chegamos a Ele. O mal é não ser bom como o Pai. O jubileu do Espírito é a misericórdia não julga ninguém, não condena; perdoa. Aí a medida vai ser repleta, sacudida e nós a colocamos nas mãos de Deus. Como medimos seremos medidos.
A utopia cristã
Olhando bem esses textos pensamos que isso é uma utopia, palavras bonitas que nunca vão ser realizadas. Não é bem verdade, pois Jesus já o realizou. “Dei-vos o exemplo para que, como vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,15). Jesus morre perdoando os seus algozes: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). É possível implantar esse programa, pois funciona. Paulo afirma: “Não te deixes vencer do mal, mas vencei o mal com o bem” (Rm 12,21). É a loucura da cruz: “Enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós anunciamos Cristo crucificado (...) Pois o que é loucura de Deus, é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Cor 1,22.25). A utopia pode parecer um lugar inexistente, mas ela é o único lugar de encontrar e compreender Jesus e sua missão. Lemos em 1 Samuel 26, o que fez Davi. Conhecemos as loucuras dos santos e deu certo. Trata-se de conhecer os verdadeiros valores. O mundo vive de outros princípios. Nós sabemos que entre nós não deve ser assim (Lc 22,26). Trata-se da inteligência dos verdadeiros valores
À imagem do homem espiritual
Paulo, resume todos esses pensamentos dizendo-nos que devemos “refletir a imagem do homem celeste” (1 Cor 15,49). O homem celeste feito à imagem de Cristo que está em oposição ao homem terrestre, Adão, que foi tirado da terra. O homem espiritual apesar de não ter sido feito da terra, permanece na terra. Jesus levou os discípulos da montanha para meio do povo. Tudo o que é verdadeiramente humano e natural, pertence ao homem espiritual. Cristo não veio a nós como um ser fora do mundo, mas viveu em tudo a condição humana, menos rompendo com o modo de ser do Pai.
Leituras: 1Samuel 26,2-9,12-13.22-23; Salmo 102;
1 Coríntios 15,45-49; Lucas 6,27-38
1. Jesus deu-nos um mandamento novo. Nas bem-aventuranças Jesus explica como vive-lo. O amor não é uma idéia, mas uma prática. Por isso Lucas enumera diversos ensinamentos como em Mateus, que são outros nomes do amor: amar o inimigo, abençoar quem amaldiçoa, rezar por que calunia. Parece ser impossível em nosso mundo. Mas não o é, pois Jesus o viveu.
2. Lendo esses textos pensamos ser uma utopia. Mas Jesus deu o exemplo para que façamos o mesmo. A fraqueza de Deus vai ser sempre um espinho em nosso desejo de milagres ou de sabedoria, como os judeus e gregos.
3. Paulo insiste em que devemos refletir a imagem do homem celeste, em oposição ao homem terrestre. O que é humano e natural faz parte de Jesus e é bom para a pessoa humana. Cristo viveu a condição humana, mas não rompeu com o modo de ser do Pai.
Investindo no amor.
A resposta mais fácil de ser dada à agressão: Ao ódio responde-se com ódio. Jesus faz uma proposta contrária: Responder com o amor e amar mais do que se espera. É para amar quem não merece. Nós fazemos o grupinho aceitável e ali tudo vai bem, vivemos a religião do ‘não me incomoda’. Achamos que basta nos darmos bem com Deus. Basta viver bem com quem a gente se dá bem.
Jesus vai mais longe: amar o inimigo e fazer-lhe bem. Rezar pelos que nos prejudicam, dar a outra face, não cobrar os empréstimos, ser misericordiosos, como o Pai. Não julgar, não condenar e perdoar. Será que isso funciona? Se fizermos bem a quem nos faz bem, morreu o assunto. Não sobra nada para Deus fazer por nós. Viram que Deus não nos cobra nada de tudo do que nos deu? Deus quer que invistamos no amor.
Homilia do 7º domingo Comum
EM FEVEREIRO DE 2007
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