Todos os anos nós lemos, no segundo domingo da Quaresma, o evangelho da Transfiguração. Não se trata da festa da Transfiguração que se celebra no dia 6 de agosto. Esse texto, apresentando Jesus transfigurado, é a explicação de como será a meta última dos cristãos, dos que tem fé. A comunidade que vem do tempo dos apóstolos passou por dificuldades maiores do que estas que estamos vivendo. Os evangelistas, devido à crise apresentada pelos cristãos diante do fracasso de Jesus, sua paixão e morte, apresentam Cristo Ressuscitado como compreensão desses fatos dolorosos. O Cristo que se transfigura é iluminado pela luz incriada, a divindade. Nesse momento recebe a experiência da Ressurreição. Ele está na esfera de Deus, representada pela nuvem. Jesus não é um simples fato da história, como tantos outros, mas é confirmado pelo Pai como Filho dileto. O Pai, apresentando o Filho, proclama: “Este é o meu Filho, o Dileto”. Propõe que o escutemos para sermos transformados. Os discípulos experimentaram a presença de Deus, tanto que Pedro diz: “É bom estarmos aqui”. O Filho ressuscitado dos mortos, como prefigura a transfiguração, é a solução para todas as dúvidas da comunidade diante do fracasso de Jesus. Hoje continua iluminando com a Ressurreição os baixios de nossa vida.
Um caminho de vida renovada
No mundo atual a comunidade está passando por crises semelhantes à crise da comunidade primitiva. Jesus por mais conhecido que seja, não passa para muitos, de uma figura bonita. O mundo não vê Jesus como vida, luz, verdade e caminho para os cristãos. A situação se torna grave quando Jesus para eles não chega a ser fonte de vida. O Pai manda ouvir seu Filho. Escutar significa tomar uma atitude obediente de vida, isto é, aberta à vida de Jesus em nós. Vamos escutá-lO através da vida vivência do batismo. Seremos assim transfigurados com Ele. Nossa transfiguração com Ele passa pela Liturgia. Nela, celebrando e vivendo os sacramentos, seremos santificados, iluminados. Fazemos desse modo nosso caminho espiritual que, com Ele, passa pela cruz, para chegar à Ressurreição. Nossa fé exige uma prática de vida, mas possui também a presença de Deus que, pelo Espírito, nos encaminha cada vez mais a sermos “cidadãos dos céus” (Fl 3,20), vivendo ainda na terra, esperando a transformação de nosso corpo para sermos semelhantes a seu corpo glorioso.
Muito de humanos e bastante divinos
O tempo da Quaresma coloca diante de nós a realidade do pecado e da graça, da morte e da vida. Refletimos as tentações de Jesus. Em Cristo somos tentados e em Cristo venceremos, como nos diz Santo Agostinho. Não depende só de nós, como um esforço pessoal. A aliança de Deus com Abraão continua dando-nos a certeza de que, fazendo esse caminho, chegaremos à glória de sua Ressurreição. Como Abraão nós somos chamados a entrar em aliança com Deus. Tanto a obscuridade da nuvem em que entram os discípulos, como o torpor em que entra Abraão, são características do encontro com Deus, pois Ele é a luz. Jesus também entra na obscuridade do sofrimento e da morte. Por aí também passa o discípulo. Chegaremos à ressurreição luminosa que vemos em Jesus, passando pela morte com Cristo, em seu Mistério Pascal. Durante a vida somos interiormente transformados, divinizados, para entrar na glória da Ressurreição e luzir ao fim como astros no firmamento.
Leituras: Gênesis 15,5-2.17-18; Sl 26;
Filipenses 3,17-4,1; Lucas 9,28b-36)
1. Nesse 1º domingo da Quaresma lemos o evangelho da transfiguração. A transfiguração de Jesus mostra-nos que Jesus, pela ressurreição supera completamente a obscuridade de sua paixão e morte que tanto assustara os cristãos. Jesus mostra sua vitória antecipadamente. O Pai confirma que Ele é seu Filho dileto e manda que O escutemos para sermos também, assim, transformados como Ele.
2. O mundo atual passa por crises semelhantes à crise da comunidade primitiva. Abala-se a fé em Jesus. Para muitos, Jesus não passa de uma figura e não é fonte de vida. Escutar o Filho significa tomar uma atitude de vida. Fazemos o caminho da Ressurreição.
3. O tempo da Quaresma coloca-nos diante da realidade da vida e da morte. Refletimos as tentações de Jesus. Nele fomos tentados e Nele vencemos. Como Abraão, somos chamados a entrar em aliança com Deus. Entrar na nuvem ou no torpor é uma experiência de Deus. Nós somos chamados a entrar na obscuridade dos sofrimentos de Jesus para, transformados, divinizados, entrar na glória da Ressurreição.
Montanha mágica
Jesus sobe a montanha e lá, tudo vira um sonho. Jesus se transfigura, mostrando em sua humanidade os sinais da divindade. Mais ainda, Elias e Moisés falam com Ele. Os três apóstolos ficam abismados com a beleza e com a bondade da presença de Deus. Entram na nuvem, que significa a presença de Deus. Diz o Pai: “Este é meu Filho, o Escolhido. Escutai o que Ele diz”. De repente tudo desaparece.
Esse momento não é só uma coisa bonita para Ele, mas interessa muito a nós. Como Ele vai passar pela Paixão para chegar à Ressurreição. Assim nós também, crendo na sua Palavra (Ouvi-0, diz o Pai), nós seremos transfigurados como Ele.
Homilia do 2º Domingo da Quaresma
EM MARÇO DE 2007
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