Hora de arrumar as gavetas! Acumulamos muitas coisas e é preciso dar uma organizada. Iniciando a Quaresma, com a cerimônia das cinzas, estamos nos abrindo a uma experiência nova. As cinzas em si não têm nada de especial. São símbolo de que estamos entrando em um tempo especial e propício para nos prepararmos para a Páscoa. As cinzas têm um grande poder simbólico. Na igreja antiga havia a penitência pública. No início da Quaresma impunham-se as cinzas para indicar que os pecadores entravam nesses 40 dias de penitência e conversão. Essa cerimônia passou para todos os cristãos. Na Quinta-Feira Santa recebiam o perdão na missa para a reconciliação dos pecadores. Rezam-se, ainda hoje, as palavras: “Lembra-te homem que és pó e em pó te hás de tornar”. As cinzas lembram a fragilidade da pessoa, seu fim e a necessidade de voltar-se para Deus. A finalidade da Quaresma não é só a penitência, mas aproveitar esse tempo propício e intenso de reflexão e oração para nos prepararmos para a Páscoa, ponto central de nossa vida cristã. O número 40 também é simbólico e aparece em diversos lugares. Jesus faz 40 dias de jejum após o batismo. Jesus, indo ao deserto para orar e jejuar, combate e vence o demônio com a Palavra de Deus, como veremos no primeiro domingo da Quaresma. Esta não é só penitencial, mas também batismal. A liturgia é um caminho que conduz à Páscoa de Jesus da qual participamos pelo Batismo. Não estamos deixando de lado o aspecto devocional que nos comove, mas não podemos perder de vista o fundamental: “Se ressuscitastes (pelo batismo) com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está à direita de Deus” (Cl 3,1).
Deixai-vos reconciliar com Deus
O Batismo indica o caminho espiritual que exige uma contínua conversão. Esta não é só uma saída do erro, mas um esforço de buscar um relacionamento com Deus que seja significativo. Paulo estimula-nos a essa conversão. E a Quaresma retoma essa exortação de Paulo: “Deixai-vos reconciliar com Deus, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, é agora o momento favorável, é agora o tempo de salvação” (2Cor 5,5.20.6,1-2). Essa conversão acontece através da participação mais intensa nos momentos espirituais da vida da comunidade, ouvindo a Palavra de Deus e praticando a caridade. A proposta de Jesus é entrar no quarto, no silêncio do coração, recolher os sentidos e olhar mais o próprio interior com tempos de silêncio e serenidade. Não se deve esquecer, contudo, que a maior conversão é a caridade.
Obras de conversão
A leitura do evangelho, escolhida para a Quarta-Feira de Cinzas, apresenta três obras fundamentais para se viver bem a Quaresma: oração, esmola e jejum. Curiosamente há uma relação muito densa entre essas três obras e as tentações de Jesus. Essas obras são o remédio contra a tentação. Vejamos: A oração leva-nos a perceber a importância de Deus e nossa dependência dEle. A humildade da oração combate o orgulho do poder. O jejum quer moderar o estímulo do prazer que, bom por princípio, pode se tornar um veneno quando não usado com o sentido da graça. A ganância do ter, simbolizada no pão, é vencida pela Palavra que ouvimos e colocamos em prática. Todo esse esforço deverá ser feito no recolhimento de nosso “quarto” (coração) onde só Deus vê. À medida que aliviamos nosso ser de seus pesos, ficaremos leves para celebrar a Páscoa. As cinzas colocadas em nossas cabeças sejam símbolo de nossa decisão de fazer uma quaresma rica de Deus. Assim poderemos celebrar dignamente a Páscoa de Jesus em nossa vida.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM FEVEREIRO DE 2007
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