terça-feira, 19 de novembro de 2019

REFLETINDO A PALAVRA - “Em Memória de Mim”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
51 ANOS CONSAGRADO
44 ANOS SACERDOTE
Isso será um memorial 
Na cultura religiosa judaica nós temos esse conceito de memorial. Os cristãos católicos e orientais também têm esse conceito em sua fé e nas celebrações. O termo memória (anámnesis) não se refere à memória que é uma de nossas qualidades humanas. Nela está armazenado tudo o que aconteceu conosco e em nossa volta. Essa memória é um termo hebraico (zikaron). O termo memória tem um sentimento de presença atuante do fato lembrado e celebrado com ritos. A celebração torna presente e atuante o fato de que se faz memória. No livro do Êxodo, lemos a lei sobre a Páscoa: “Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações” (Gn 12,14). E Acrescenta: “Quando vossos filhos vos perguntarem: ‘Que significa esse rito’ (A Páscoa), respondereis: “É o Sacrifício da Páscoa do Senhor, quando ele passou adiante das casas dos Filhos de Israel no Egito, ferindo os egípcios e livrando as nossas casas” (Ex 12,26-27). Cada judeu se sente libertado pessoalmente do Egito. Sempre há um sentido de presença pessoal ao fato do qual se faz memória. Segue-se também que a ação de Deus se torna presente, como no acontecimento histórico em que ocorreu o fato libertador de Deus. É uma liberdade para sempre. Não celebramos fatos passados, mas o Deus que se faz presente com o mesmo vigor libertador. Há outros fatos com a colocação de um marco memorial, como na passagem do Jordão, quando Josué fez um altar de pedras, para ser um memorial dessa passagem (Js 5,20-24). Assim podemos compreender o sentido de memória. 
Memória sacramental 
Jesus, com seus discípulos, celebra a Ceia Pascal como um Memorial, como o fazem os judeus todos os anos, desde a origem dessa tradição judaica. Essa ceia, em seus diversos ritos, torna presente à libertação do Egito. Jesus faz o mesmo. Mas no momento de fazer a memória dessa libertação, muda-lhe o sentido. Não destrói a aliança antiga, mas a leva à sua maior realização que é a nova e eterna aliança. Diz: “E tomou um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o a eles dizendo “Isto é o meu corpo que é dado por vós. “Fazei isto em minha memória”. “Depois, tomando o cálice: ‘Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue que é derramado por vós’” (Lc 22,19-20). Faz o mesmo rito, mas muda o sentido. Paulo, já conheceu uma tradição estabelecida da Ceia do Senhor. Diz como Lucas e acrescenta: “Pois todas as vezes que comeis deste pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26), utilizando o mesmo termo: “Isto é meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de mim”. Na missa, dizemos o mesmo: “Celebrando a memória da Paixão de vosso Filho, sua Ressurreição dentre os mortos e sua gloriosa Ascensão aos Céus...” (Prece nº 1), realizamos o mesmo mistério. Todo sacramento, presença de Cristo, nos faz participantes de seu Mistério Pascal (SC, 7). 
Memórias de Cristo 
A memória tem também um sentido pessoal. Nós também podemos ser memórias vivas de Jesus Cristo na sua Redenção. Continuamos seu mistério de salvação. Quanto mais vivo o Evangelho e me uno a Jesus Cristo, mais posso ser uma viva memória de sua vida e de seu mistério de Redenção. Nós o realizamos, sobretudo quando vivemos intensamente seu mandamento de amor mútuo. Por que o amor? Porque toda obra da Redenção se fez no amor do Pai que entrega o Filho, que responde ao Pai no amor e nos salva por amor. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo do amor” (Jo 13,1). O amor de entrega de Cristo está presente em todos os sacramentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário