Evangelho segundo São Lucas 21,12-19.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Deitar-vos-ão as mãos e hão de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome.
Assim tereis ocasião de dar testemunho.
Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa.
Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer.
Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós
e todos vos odiarão por causa do meu nome;
mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá.
Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas».
Tradução litúrgica da Bíblia
São Gregório Magno(540-604)
Papa, doutor da Igreja
Comentário moral ao livro de Job,
10,47-48;PL75,946
«Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas»
«Aquele que, como eu, é escarnecido pelo seu amigo invocará a Deus e Ele o ouvirá» (Job 12, 4 Vulg).
Sucede a alma perseverar no bem, e contudo sofrer a troça dos homens. Agir de modo admirável e receber injúrias. Então, aquele que os elogios poderiam ter atraído para o exterior, repelido pelas afrontas, entra em si próprio, e fortalece-se em Deus tanto mais solidamente quanto não encontra no exterior nada onde possa descansar. Põe toda a sua esperança no seu Criador e, no meio dos ultrajantes ludíbrios, implora o testemunho interior. A alma do homem afligido aproxima-se de Deus tanto mais quanto é abandonada pelo favor dos homens, caindo em oração e purificando-se sob a opressão vinda do exterior, para apreender as realidades interiores. É por isso que este texto afirma: «Aquele que, como eu, é escarnecido pelo seu amigo, invocará a Deus e Ele o ouvirá». Quando estes infelizes encontram armas na oração, voltam a cantar interiormente a bondade divina: esta dá-lhes satisfação porque, exteriormente, estão privados dos elogios dos homens. «Eles zombam da simplicidade do justo» (Job 12,4). A sabedoria deste mundo consiste em camuflar o coração sob artifícios, encobrir o pensamento com palavras, apresentar como verdadeiro o que é falso, provar a falsidade do que é verdadeiro. Pelo contrário, a sabedoria dos justos consiste em nada inventar para se valorizar, transmitir o pensamento com as palavras, amar a verdade como ela é, fugir da falsidade, fazer o bem gratuitamente, preferir suportar o mal do que fazê-lo, nunca procurar vingar-se de uma ofensa, considerar como um benefício um insulto que se recebe por causa da verdade. Mas é precisamente esta simplicidade dos justos que se torna motivo de troça, porque os sábios deste mundo julgam que a pureza é uma tolice. Tudo que se faz com integridade, eles consideram-no, evidentemente, como um absurdo; tudo o que a Verdade aprova na conduta dos homens parece uma tolice à pretensa sabedoria deste mundo.
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