Evangelho segundo S. Mateus 16,13-19.
Naquele
tempo, Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e perguntou aos seus
discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?». Eles
responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é
Jeremias ou algum dos profetas». Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu
sou?». Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias, o Filho
de Deus vivo». Jesus respondeu-lhe: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas,
porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está
nos Céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Dar-te-ei
as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e
tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do
dia:
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
3.º sermão para a festa dos santos apóstolos Pedro e Paulo
É com razão, irmãos, que a Igreja aplica aos
santos apóstolos Pedro e Paulo estas palavras do Sábio: «Foram homens de
misericórdia, cujas obras de piedade não foram esquecidas. Na sua descendência
permanecem os seus bens, e a sua herança passa à sua posteridade» (Sir
44,10-11). Sim, podemos, com propriedade, chamar-lhes homens de misericórdia;
porque eles obtiveram misericórdia para si próprios, porque estão cheios de
misericórdia, e porque foi na sua misericórdia que Deus no-los deu.
Vede, com efeito, que misericórdia obtiveram. Se interrogardes o
apóstolo S. Paulo sobre este assunto [...], ele dir-vos-á: «Antes fora blasfemo,
perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância,
sem ter fé ainda» (1Tim 1,13). De facto, pensemos no mal que ele fez aos
cristãos de Jerusalém [...] e aos de toda a Judeia! [...] Quanto ao
bem-aventurado Pedro, tenho outra coisa a dizer-vos, e coisa tão sublime quanto
única. Com efeito, se Paulo pecou, fê-lo sem o saber, porque não tinha fé;
Pedro, pelo contrário, tinha os olhos bem abertos no momento da queda (Mt
26,69s). Mas «onde abundou o pecado, superabundou a graça» (Rom 5,20). [...] Se
S. Pedro pôde elevar-se a um tal grau de santidade depois de uma queda tão
pesada, quem poderá desesperar a partir de então, por pouco que queira sair de
seus pecados? Atentai no que diz o Evangelho: «saindo para fora, chorou
amargamente» (v. 75) [...].
Ouvistes que misericórdia obtiveram os
apóstolos; de então em diante, nenhum de vós será esmagado pelas faltas passadas
[...]. Se pecaste, não pecou Paulo ainda mais? Se caíste, não caiu Pedro de
maneira bem mais grave do que tu? Ora, um e outro, pela penitência, não só
obtiveram a salvação, como se tornaram grandes santos, e mesmo ministros da
salvação, mestres da santidade. Faz portanto o mesmo, irmão, pois é por ti que a
Escritura lhes chama «homens de misericórdia».
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