Evangelho segundo S. Mateus 7,15-20.
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Acautelai-vos dos falsos profetas, que
andam vestidos de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes. Pelos frutos os
conhecereis. Poderão colher-se uvas dos espinheiros ou figos dos cardos? Assim, toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má dar bons frutos. Toda a árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Portanto, pelos frutos os conhecereis».
Tradução
litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Jean Tauler (c.
1300-1361), dominicano de Estrasburgo
Sermão 7
Dar bons frutos
Numa vinha, revolve-se a terra à volta das
vides e mondam-se as ervas daninhas. Também o Homem se deve mondar a si próprio,
e estar profundamente atento ao que mais poderá ainda arrancar no fundo do seu
ser, para que o Sol divino possa aproximar-se mais de si e em si brilhar. Se
deixares a força do alto fazer a sua obra [...], o sol tornar-se-á brilhante,
dardejará os seus quentes raios sobre os frutos e torná-los-á mais e mais
transparentes. Maior doçura terão, finíssimas se tornarão as suas finas cascas.
Assim é também no domínio espiritual. Os obstáculos de permeio tornam-se por fim
tão ténues, que recebemos ininterruptamente os toques divinos, e de muito perto.
E, sempre que nos voltarmos para Ele, encontraremos no interior o divino Sol a
brilhar com muito mais intensidade que todos os sóis que alguma vez brilharam no
firmamento. E assim, tudo no homem será deificado, a tal ponto que ele já não
sentirá, não experimentará nem verdadeiramente conhecerá com tão profundo
conhecimento mais nada a não ser Deus, e tal conhecimento ultrapassará em muito
o modo de conhecimento da razão.
Arrancaremos por fim as folhas aos
sarmentos, para que o sol possa bater nos frutos sem encontrar obstáculo algum.
Assim será com o Homem: tudo o que estiver de permeio cairá e tudo receberá de
modo imediato. Cairão orações, representações de santos, práticas de devoção,
exercícios. Mas que o Homem se livre de rejeitar estas práticas enquanto por si
próprias elas não caírem. Só então, atingido esse estádio, o fruto se há de
tornar tão doce, de uma forma tão indescritível, que não haverá razão capaz de
tal compreender. [...] Seremos um só com a doçura divina, estando o nosso ser
todo penetrado pelo Ser divino e sendo nós como uma gota num grande tonel de
vinho [...]. Aqui, as boas intenções e a humildade são a mera simplicidade, um
mistério tão essencialmente pacificador, que teremos, até, dificuldade em tomar
consciência dele.
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