Evangelho segundo S. Mateus 1,18-25.
O nascimento
de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem
vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas
José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em
segredo. Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do
Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua
esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz
um filho, e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus
pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por
meio do profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que
será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». Quando despertou do
sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa. E,
sem que antes a tivesse conhecido, ela deu à luz um filho, ao qual ele pôs o
nome de Jesus.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Homilias sobre as palavras do Evangelho: «Eis que o anjo do Senhor lhe
apareceu», n°2, 13-15
«José, filho de David, não temas receber Maria, tua
esposa»
«José, seu esposo, que era um homem justo e
não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente» (Mt 1,19). Porque era
justo, não queria desonrá-la. Não teria sido justo se se tivesse feito seu
cúmplice depois de a ter julgado culpada, nem se, reconhecendo a sua inocência,
a tivesse condenado. Eis porque tomou a decisão de secretamente a deixar. Mas
porquê deixá-la? […] Pela mesma razão, dizem os Padres, que incitou Pedro a
afastar o Senhor, dizendo-Lhe: «Afasta-Te de mim, Senhor, porque sou um homem
pecador» (Lc 5,8). De igual modo Lhe fechou a porta o centurião, dizendo-Lhe:
«Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto» (Mt 8,8).
José, que se considerava um pecador, dizia para consigo mesmo que
era indigno por ter por mais tempo em sua casa uma mulher cuja excelência e
superioridade lhe inspiravam veneração e temor. Ele viu que Ela carregava em si
mesma o sinal indubitável da presença divina; e, incapaz de compreender o
mistério, queria deixá-la. São Pedro temeu a omnipotência divina; o centurião
ficou atemorizado com a presença da majestade de Cristo. José, enquanto homem,
foi tomado de espanto ante um milagre tão singular e um tão impenetrável
mistério; era por isso que, em segredo, meditava deixar Maria. Não vos espanteis
por José se julgar indigno de viver ao lado da Virgem grávida; santa Isabel
também não conseguiu suportar a sua presença sem ficar tomada de temor e de
respeito: «E donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?» (Lc
1,43) […]
Porquê deixá-la em segredo? Para não dar azo a que se
procurasse a causa de tal separação e para que ninguém viesse exigir
explicações. Que poderia este homem justo ter respondido a […] pessoas sempre
prontas a contestar? Se tivesse desvelado os seus pensamentos, se tivesse dito
estar convencido da pureza da sua noiva, esses cépticos tê-lo-iam votado ao
escárnio, e teriam lapidado Maria […]. José teve portanto razão, pois não queria
mentir nem difamar. […] Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, pois o que Ela
concebeu é obra do Espírito Santo.»
Nenhum comentário:
Postar um comentário