A Bíblia não somente conta
fatos históricos, mas é uma leitura da realidade humana em relação a Deus. Por
essas narrações, compreendemos quem somos nós e qual o caminho que Deus nos
oferece. Vejamos a história de Caim e Abel: Eles continuam dentro de nós e em
nossos relacionamentos. Caim e Abel somos nós. Deus, depois do assassinato,
perguntou a Caim: “Onde está Abel, teu irmão?” (Gn 4,9). Essa pergunta percorre
a história da humanidade. Por um lado é Deus que defende cada homem. Por outro
lado somos nós que temos a ver com o outro. “Acaso sou o guarda de meu irmão?”
pergunta Caim. Além da responsabilidade que temos sobre cada pessoa, cada uma é
parte de nossa experiência de Deus. Não se conhece a Deus se não se conhece o
irmão. João escreve: “Quem não ama seu irmão a quem vê, a Deus que não vê não
poderá amar” (1Jo 4,20). A experiência do irmão é necessária para o
conhecimento de Deus e par o encontro com Ele. Jesus pensava assim, pois a
carta aos Hebreus diz: “Ele não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hb 2,11).
Demonstra esta experiência em sua própria encarnação, pois sua divindade se
aniquila e se esconde sob os véus de nossa carne. Fez-se próximo de cada
pessoa, como na parábola do samaritano. Descendo de seu jumento, abaixou-se
para socorrer o ferido. O homem ferido pelo pecado é o alvo do Filho de Deus.
Busca a ovelha perdida. Ele sabia onde estava seu irmão. Caim, o primogênito da
humanidade contrasta com o primogênito da nova humanidade. E nós, se quisermos
conhecer a Deus, temos de fazer a experiência de ser irmão e de ter irmãos. O
mandamento do amor se resume em que “quem ama a Deus, ame também seu irmão”
(1Jo 4,21).
149. Ver Deus
no irmão
As buscas
de misticismo, mesmo no âmbito católico e evangélico, têm uma tendência a sair
da realidade e viver de fenômenos. Deus, contudo, está mais perto e mesmo onde
tememos que não esteja. Anselm Grünn narra um fato que aconteceu em um campo de
concentração estavam enforcando o menino diante de todos. O pobrezinho se
debatia, demorando a morrer. Um prisioneiro disse: “Onde está Deus?” Outro
responde: “Está lá, sendo enforcado”. A experiência de Deus, de Sua Palavra e
de seu amor acontece quando O vemos no outro. Parece tão distante. No outro,
quem? Cada pessoa é um traço de Deus. Deus está ali todo inteiro, como a
chamar-nos para amá-lO, percebê-lO e senti-lO. Se não sou capaz de vê-lO no
irmão, que certeza tenho de tê-lO encontrado?
150. Ver o
irmão em Deus
O
superior dos trapistas degolados na Argélia, há uns poucos anos, já sabendo que
estavam em riscos, escreve em seu testamento que queria ver seu assassino como
Deus o via. Mais do que ser responsável, temos de ver o irmão como Deus vê. A
contemplação será autêntica quando contemplamos o outro com os olhos de Deus.
Ver com os olhos de Deus é enxergar no outro alguém a ser amado. Nesse alguém o
Pai vê o Filho amado. O documento de Puebla recomenda que vejamos os muitos
rostos de Cristo. Jesus se identifica com cada homem. “Tive fome e me destes de
comer, tive sede e me destes de beber... Todas as vezes que fizestes isso a um
destes pequeninos, por ser meu discípulo, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).
http://padreluizcarlos.wordpress.com/
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