REFLETINDO A PALAVRA - “Viva S.João!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR

Três santos em festa

O Documento de Aparecida, conclusões da V Assembleia do Episcopado Latino Americano e do Caribe, lembra que “as maiores riquezas de nossos povos são a fé no Deus amor e a tradição católica na vida e na cultura. Esta se manifesta na fé madura de muitos batizados e na piedade popular... (DA 7) ”. Nesse mês de junho temos os três santos populares: S. Antônio, S. João Batista e S. Pedro. As festas dos santos foram assumidas pelo povo com características próprias da cultura. Os portugueses trouxeram estas festas que se firmaram no meio de nosso povo. Os santos celebrados são de fácil compreensão pela sua simplicidade e semelhança com povo. Elas acontecem no tempo mais seco e de dias longos mais frios o que facilita a organização dos festejos e diversos tipos de celebrações. O importante destas festas é a gratuidade e a fraternidade. As pessoas participam na preparação e no acontecimento. Chegam para a festa e já pegam o avental, como diziam nossos pais. E continuamos fazendo assim. Certamente pouco sabem da vida do santo, mas sabem que, se é santo, é sempre bom. Na realidade, a celebração litúrgica, feita em uma língua incompreensível, com ritos distantes da vida, não transmitia o conhecimento. Assim se criou a piedade popular que, em certo sentido, preencheu o vazio da oração e da instrução que a liturgia deve comportar. Agora é o momento de, sem prejudicar a identidade da liturgia e da religiosidade popular, chegar à mútua colaboração para o bem do povo. É um trabalho muito exigente que o Concílio mandou que se fizesse e foi deixado de lado. Mas a festa do povo está aí. 

Piedade popular e fé 

O mesmo Documento de Aparecida afirma que a piedade popular tem a presença do Espírito Santo (DA 263). Esta piedade salvou a fé do povo que estava distante do recurso da Igreja, sem a presença de sacerdotes e separados por longas distâncias. Há valores a serem purificados, sobretudo quando eivados de superstição. A catequese é um elemento fundamental para a orientação da piedade popular e sua promoção. É muito arriscado, aos formadores do povo, provenientes outras cultura, intervirem na cultura considerando-a como inferior e insuficiente para a fé. A sabedoria da piedade popular foi unir a fé à arte e à fraternidade. Sua finalidade é promover o encontro com Deus através de uma linguagem acessível usando das diversas artes e da catequese sempre na promoção da festa na fraternidade. Como esquecer as folias de reis, do Divino, que vão de casa em casa anunciando o nascimento de Jesus. Lembro-me de minha avó ajoelhada na porta da casa recebendo a bandeira dos Santos Reis. Deus visitou o seu povo, cantava Zacarias (Lc 1,78). 

Promoção dos valores 

Somos convocados ao respeito e a promoção das tradições, juntamente com uma evangelização mais profunda que não lhes tire a espontaneidade. O liturgicismo e o biblismo não podem prejudicar a fé que inspirou a fraternidade, a justiça e o respeito aos valores aprendidos no lar. Liturgia e a Palavra de Deus são para nossa vida. Devoções provenientes de outras culturas e religiões não podem destruir o coração do povo. É um valor espiritual e nacional. Um povo que perde suas tradições acaba saindo do mapa. Acontece que responsáveis pelas igrejas e paróquias, estranhos ao lugar, costumam desprezar e eliminar as manifestações populares tradicionais. Não é esse um bom caminho. 

Viva S. João! Viva S. Pedro! Viva Santo Antonio! Viva nosso povo!

ARTIGO PUBLICADO EM JUNNHO DE 2013

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