Os textos da liturgia quaresmal devem ser lidos na perspectiva de preparação para a Páscoa do Senhor. Ela é o centro da vida cristã e modo pelo qual devemos ler a Escritura. Os primeiros cristãos liam as Escrituras não como um texto passado, mas falando de Cristo. O texto do Profeta Isaias e do Salmo dizem que Deus fez maravilhas. Primeiramente abriu “uma passagem no mar e um caminho entre as águas impetuosas” na passagem do Mar Vermelho (Is 43, 16). Mas isso já é passado. Agora serão realidades novas que continuam as maravilhas de Deus: “Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo... Abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca” (19). O Salmo canta esse momento: “Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar” (Sl 125,1). A estrada através das águas do mar e no deserto é figura do que Cristo faz para nossa libertação. Ele passou pelas vagas da morte e, através do mar de seu sangue, nos libertou. Esses fatos são entendidos no gesto de perdão dado à pecadora. O perdão dado concretiza a força libertadora que é oferecida a todos. A maldade traz uma mulher colhida em adultério. Só pela insinuação já era condenada com o apedrejamento. Jesus não nega a lei que manda matar tais mulheres, mas oferece a novidade: “Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante não peques mais!” (Jo 8,11). Aprendemos que Deus não condena, mas oferece sempre o perdão para um caminho novo. A Páscoa não é só um acontecimento do passado, mas acontece no interior e no coração de cada um. Os fariseus e mestres da lei representam o irmão mais velho da parábola do filho pródigo, que quer condenar e não acolher. Jesus continua o caminho do Pai que abre estradas no mar e no deserto oferecendo uma situação nova, uma terra nova. A celebração litúrgica realiza esta verdade.
Caminhar com o mesmo amor
A oração da Eucaristia deste domingo, como vamos ouvir no dia da Páscoa “buscai as coisas do alto”, ensina como viver este momento pascal: “Dai-nos, por vossa graça, caminhar com alegria na mesma caridade que levou vosso filho a entregar-se à morte em seu amor pelo mundo” (Oração). A Páscoa é o seguimento de Cristo em seu caminho de redenção da humanidade. Não é a morte que salva, é o amor que vai até à morte, pois Ele “se fez obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,8). Não é a dor da morte, mas o amor que causa a salvação. Este amor continua o amor de salvação libertadora que Deus ofereceu a seu povo no Egito, no cativeiro da Babilônia e agora oferece à pecadora, símbolo de todo o povo frágil e acusado pelo inimigo. Deus quer a vida e não a morte. “Não quero a morte do pecador, mas sim, que se converta e viva” (Ez 33,11).
Considero tudo como lixo
S.Paulo, na carta aos Filipenses mostra seu caminho pessoal por Cristo. Ele fez opção total por Cristo, a tal ponto, que nada mais lhe interessava: “Por causa dele eu perdi tudo, Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado por Ele” (Fl 3,8). Unir-se a Cristo é experimentar a força de sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos (10). A decisão por Cristo não é um ato que permanece no passado, mas é uma mola propulsora para frente: “Esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está à frente” (13). A Páscoa é caminho, pois isso ela significa passagem para a libertação.
Leituras: Isaias 11,43,16-21;Salmo 125;
Filipenses 3,8-14João 8,1-11
1. Os textos da liturgia estão na perspectiva pascal. Os cristãos, através da pessoa de Jesus, liam as Escrituras. Assim a libertação do Egito e da Babilônia são prenúncios da Páscoa. Eis que faço novas todas as coisas. Deus abre uma estrada no mar e no deserto. São figuras da passagem de Cristo ao Pai. O gesto de Jesus para com a pecadora mostra que Jesus perdoa em totalidade. Páscoa não é um acontecimento do passado, mas acontece no interior de cada um. Há sempre uma terra nova à frente.
2. A oração da missa descreve como devemos caminhar para que a Páscoa se realize em nós: “Com o mesmo amor com que Cristo se entregou por nós”. O amor de Cristo vai até à morte. Não é a dor que salva, mas o amor. Este amor continua o amor manifestado por Deus através da história.
3. Paulo mostra seu caminho pessoal para Cristo. Sua opção é total, a ponto de nada mais lhe interessar. Tudo passou a ser lixo diante do conhecimento de Cristo. Unir-se a Ele é experimentar a força da ressurreição e a participação em seus sofrimentos. A decisão por Cristo não é coisa do passado, mas é força propulsora para frente.
Consertando corações
Cena maravilhosa: “Uma mulher pecadora” jogada diante de Jesus e os “justos”, como se pensavam, usando a vítima para pegar Jesus. Acusam a mulher de adúltera. Onde estava o adúltero? Começa por aí a maldade. Jesus não diz nada e escreve no chão. Que será que escreve? Insistem. Jesus não nega a lei, mas diz: “Quem não tem pecado atire a primeira pedra!”. Saíram de fininho, a começar dos mais velhos... feio, não? Velhinhos safados! Bons para acusar para tampar sua maldade.
Jesus acolhe a mulher, não a acusa, não a descarta, não a condena, mas a conduz a um caminho novo: “Vai e não peques mais!”
É o símbolo do carinho para com cada um de nós. “Ele faz novas todas as coisas” (Is 43,19) de um jeito tão bonito. Aprender dEle é não querer perdê-lo mais.
Paulo ensina, por seu exemplo, que o melhor de tudo é conhecer Cristo e, por Ele, deixar tudo como um lixo. É um conhecimento que cresce sempre. A meta é Cristo.
Homilia do 5º Domingo da Quaresma (21.03.2010)
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