A Diocese de Liège foi o berço das Beguinas graças à vida e à ação de Maria d'Oignies, cujo modo de vida agradou o frei dominicano Tiago de Vitry, seu confessor e discípulo. Quando ele a conheceu, um numeroso grupo de mulheres e homens estavam estabelecidos junto ao priorado de São Nicolau de Oignies, próximo à cidade natal de Maria, Nivelles. O movimento nascera no final do século XII, sendo que o primeiro convento destas religiosas foi fundado por Lambert Le Bègue na Bélgica. Após a sua fundação, espalharam-se pelos Países Baixos, Alemanha e França. As Beguinas eram mulheres piedosas que praticavam uma vida ascética em comum, parecida com a monacal, a maior parte das vezes nos chamados beguinários. Elas dedicavam-se ao cuidado dos doentes e dos pobres, assim como às tarefas caritativas e piedosas, sem estar, contudo, vinculadas a regras de clausura nem a votos públicos. Em 1311, o Concílio de Vienne condenou-as por causa do perigo de heresia que representavam. Posteriormente subsistiram sob a forma de asilos. Encontram-se ainda hoje alguns beguinários muito bem conservados em Bruxelas, Antuérpia, Kortrijk e Gante (Bélgica), bem como nos Países Baixos. Maria d’Oignies nasceu em Nivelles, no Brabante, provavelmente em 1177, numa família abastada. Muito cedo ela nutriu um desprezo pelos prazeres em que normalmente se envolvem as pessoas mais favorecidas; nada lhe agradava tanto como a solidão, onde ela se consagrava inteiramente à meditação sobre as coisas divinas. Quando ela completou catorze anos, seus pais fizeram-na desposar um jovem proveniente duma excelente família, que também possuía grande fortuna, cujo nome era João. Durante algum tempo eles viveram a vida conjugal, mas Maria conquistou seu jovem esposo ao seu ideal de vida religiosa. Juntos, na castidade, eles decidem se consagrar a Deus na pobreza e nas obras de piedade. Para o grande desgosto de seus pais e de seus amigos, eles se instalam no leprosário de Willambroux, onde eles viveram vários anos cuidando dos leprosos. A personalidade brilhante de Maria aliada a uma vida de austera mortificação atraia visitantes que a consultavam sobre questões de vida espiritual. São atribuídos a ela milagres, leprosos são curados. Como ela se tornou muito célebre em Willambroux, sua sede de solidão e de renúncia fez com que, de acordo com seu marido, ela deixasse Willambroux em 1207, e se juntasse à uma pequena comunidade de religiosas beguinas instaladas junto a um mosteiro de cônegos agostinianos recentemente fundado em Oignies (vilarejo da comunidade de Aiseau-Presles, próximo de Charleroi). Sua reputação de santidade e de sabedoria espiritual cresceu: as pessoas vinham de longe para consultá-la. Entre estes visitantes, em 1208, chegou um brilhante teólogo de Paris (mais tarde cardeal), Tiago de Vitry (+ 1240). Ele ficou encantado com a personalidade de Maria. A afinidade foi recíproca. Tiago de Vitry renunciou a uma brilhante carreira em Paris e se instalou em Oignies, onde ele se tornou discípulo, confessor e ‘pregador’ de Maria de Oignies. Ele permaneceu ali até o falecimento da beata em 1213. Eram tempos complexos, a Cristandade era dilacerada pelas lutas contra as heresias dos cátaros e dos albigenses. Embora vivendo quase em clausura, Maria acompanhava os acontecimentos. Passava muitas horas noturnas em oração diante do Santíssimo Sacramento. Um dia teve a premonição de que a festa de Corpus Christi seria instituída. Com efeito, isto aconteceu em 1246, na vizinha cidade de Liège, graças a Santa Juliana de Cornillon. Em 1212, Maria conheceu São Folco, Bispo de Toulouse, quando os albigenses o expulsaram de sua diocese. O Santo se refugiou em Liège e ficou impressionado com a santidade de vida das Beguinas. Naquele ano Maria recebeu os estigmas. No ano seguinte, no dia 23 de junho de 1213, depois de numerosas e especiais graças, morreu na idade de 36 anos. No leito de morte predisse que surgiria uma ordem de pregadores que para o bem da Igreja venceria a heresia. Folco de Toulouse, junto com São Domingos, lutou contra os cátaros e assistiu à fundação dos primeiros conventos dominicanos.Os seus rigores e abstinências obtiveram de Jesus que ela se beneficiasse também de visões celestes, particularmente do seu Anjo da Guarda que lhe aparecia regularmente e a aconselhava. Teve igualmente várias vezes, a “visita” de São João Evangelista que lhe oferecia manjares celestes. Maria d’Oignies tinha pela Virgem Maria uma grande devoção e não hesitava, mesmo durante os rigores do inverno, em visitar um dos seus Santuários; ela peregrinava descalça, em espírito de penitência.
Em 1216, a pedido de Folco, Tiago de Vitry escreveu uma Vida de Maria d’ Oignies que é praticamente a única fonte de informação sobre a Beata. Para Tiago de Vitry Maria d’Oignies é um exemplo da vida espiritual na Diocese de Liège, que ele avaliava como uma terra de santos. Para obter a aprovação para as Beguinas, e a correspondente comunidade masculina, foi para Perugia sede temporária do Papado. Tiago era um pregador ilustre, teólogo e historiador; foi sagrado bispo de São João d’Acre, na Palestina. Em 1226 ou 1228, o corpo de Maria foi exumado e colocado num sarcófago de pedra dentro da igreja do priorado. Em 1609, ocorreu uma nova cerimônia de transladação por iniciativa do Bispo de Namur, Francisco Buisseret. Seus despojos foram repartidos e colocados em três relicários, executados entre 1609 e 1622 pelo ourives Henri Libert, e se conservam respectivamente em Nivelles, Igreja de São Nicolau, em Falisolle e em Aiseau.
Fontes: Jacques de Vitry, Vita B. Mariae Oigniacensis, dans Acta Sanctorum, juin, vol. IV, 1707.
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