As palavras com que o profeta Isaías indica a missão confiada por Deus aos seus próprios eleitos exprimem bem a vocação de André Jacinto Longhin, humilde capuchinho que, durante 32 anos, foi Bispo da Diocese de Treviso, no alvorecer no século passado, do século XX. Ele foi um Pastor simples e pobre, humilde e generoso, sempre disponível para com o próximo, segundo a mais autêntica tradição capuchinha.
Chamavam-lhe o Bispo das coisas essenciais. Numa época assinalada por acontecimentos dramáticos e dolorosos, mostrou-se como um pai para os sacerdotes e como um pastor zeloso pelas pessoas, pondo-se sempre ao lado dos seus fiéis, especialmente nos momentos de dificuldade e de perigo. Assim, antecipou aquilo que o Concílio Vaticano II havia de realçar, indicando na evangelização “um dos principais deveres dos Bispos”.
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação - 20 de outubro de 2002
André Jacinto Longhin, bispo de Treviso, nasceu em Fiumicello de Campodársego (Pádua) de humilde família de camponeses, no dia 22 de novembro de 1863, foi batizado no dia seguinte com os nomes de Jacinto e Boaventura.
Aos 16 anos decide fazer-se frade Capuchinho e lutou com o pai que não queria privar-se, no trabalho dos campos, do único filho. Vence Jacinto, vestindo o hábito Capuchinho em Bassano de Grappa (Vicenza), a 27 de agosto de 1879, com o nome de Frei André.
Completou os estudos no convento de Pádua e aí emitiu a profissão solene a 04 de outubro de 1883. Fez os estudos teológicos em Veneza, onde foi ordenado sacerdote a 19 de junho de 1886. Em 1888 foi diretor espiritual e professor no seminário dos Capuchinhos de Údine; em 1889 foi diretor e professor dos clérigos capuchinhos em Pádua e, em 1891, dos clérigos teólogos em Veneza. Foi eleito superior provincial dos Capuchinhos venezianos em 18 de abril de 1902.
Em 16 de abril de 1904, São Pio X o nomeou bispo da sua Diocese natal de Treviso, comprazendo-se por ter "escolhido uma das flores mais belas da Ordem dos Capuchinhos", para a própria Diocese. Qualificou-o a 12 de agosto de 1907: "É um dos meus filhos primogênitos com que presenteei à Diocese predileta, e me exulto todos as vezes em que se me contam seus louvores, que é verdadeiramente santo, douto, um bispo dos tempos antigos, que deixará na Diocese uma marca indelével do seu zelo apostólico".
Consagrado bispo em Roma a 17 de abril de 1904, entrou em Treviso a 06 de agosto, decidido ser o bom pastor, não poupando "nem fadigas nem sacrifícios, disposto a dar" pela sua Igreja todo o seu "sangue e mesmo a vida". Por 32 anos foi "o bom pastor da Igreja de Treviso", continuando a viver austeridade e pobreza Capuchinha.
O anúncio da palavra foi um dos seus mais ambicionados ministérios. Sob o exemplo de São Pio X, teve como empenho apostólico o ensino do catecismo às crianças, nos círculos das associações de jovens e aos homens católicos, com disputas de cultura, jornadas de estudos, escolas de catecismo, dois congressos catequéticos diocesanos, em 1922 e 1932.
Foi tido como o "bispo do catecismo". Amava e acompanhava como pai os seus sacerdotes, tendo deles especialíssimo cuidado desde o seminário, pregando retiros mensais e exercícios espirituais, acompanhando-lhes pelas 213 paróquias em 3 visitas pastorais, iniciadas em 1905, 1912 e 1926, dando-lhes, em 1911, o sínodo tido como uma verdadeira obra de arte em ordem e precisão, vivamente apreciado por São Pio X. Seguiu espiritualmente Santa Maria Bertilla Boscardin, os servos de Deus José Torniolo, Guido Negri, Madre Oliva Bonaldo.
Teve particularíssima amizade com o Capuchinho São Leopoldo Mandic, com São Pio X. Foi condutor de leigos, particularmente dos movimentos jovens, convencido e insistindo também no testamento que "é de santos que hoje necessitam as famílias, as paróquias, a Pátria, o mundo".
Em abril de 1914, declarou sagrado "o direito do operário de organizar-se... em sindicatos para a própria elevação econômica e moral". Em 1920 sustenta as Ligas Brancas, movimento sindical de inspiração cristã, mostrando-se o bispo dos pobres, dos operários, dos camponeses. Em Treviso, em 1920, fundou o colégio episcopal "Pio X", para assegurar aos jovens a formação cristã.
Afrontou com coragem, jamais abandonando o próprio posto e as próprias responsabilidades, a prova da grande guerra de 1915 - 1918, aproximando e encorajando camponeses, fugitivos, soldados, feridos, sacerdotes. Em 27 de abril de 1917, emitiu o voto de levantar um templo a Nossa Senhora Auxiliadora. Chamado "o bispo de Piave e de Montelo", agraciado com a cruz do mérito de guerra, terminada a guerra percorre a diocese, para encorajar à reconstrução das 47 igrejas destruídas, à reconciliação dos ânimos, ao despertar da vida cristã, com intrépidas intervenções para salvar os seus fiéis das ideologias anticristãs e subversivas.
Os bispos do Vêneto o tinham como o seu "Patriarca de campanha", conselheiro, teólogo distinto, apóstolo incansável. Pio XI, em outubro de 1923, reconhece os "grandes serviços" prestados por Longhin: "Trabalhou tanto pela Igreja!" Foi administrador apostólico da Diocese de Pádua em 1923, visitador e administrador apostólico da arquidiocese de Údine, 1927 - 1928. A 04 de outubro de 1928, foi nomeado arcebispo titular de Patrasso.
Em 1929, no 25º ano de episcopado de Longhin, o servo de Deus, Pedro Card. La Fontaine, escreve: "Admiro nele com dileção e edificação uma cópia do bom pastor evangélico, muito semelhante ao original". Golpeado por moléstias, em 03 de outubro de 1935 percorreu o seu calvário por nove meses de sofrimentos, celebrando a missa até 14 de fevereiro de 1936 e depois recebendo, cada dia, a comunhão.
Morreu na sexta feira 26 de junho de 1936.
Em 23 de abril de 2002, no Vaticano, na presença de João Paulo II, é lido e assinado o decreto relativo ao milagre atribuído ao Venerável André Jacinto Longhin. Foi beatificado em Roma, no domingo 20 de outubro de 2002.
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