Estamos em tempos da Quaresma. Como todo sacramento, ela é sempre um ensinamento novo. Sabemos que ela perdeu muito de seu rigor e de sua importância na comunidade. Só sobraram as cinzas? Ela não domina as massas, mas penetra os corações dos que querem fazer o caminho de Jesus. Não podemos dizer que a sociedade seja cristã, por isso, façamos nossa parte. O importante é descobrir o sentido da conversão e colocá-la em nossa vida. Sem ela, não podemos crescer. Não se trata só de deixar um erro, mas de buscar um crescimento constante. Crescer em uma direção não significa que a situação errada seja anterior. É um desenvolvimento. Podemos crescer sempre. Quando saímos de uma vicinal esburacada e entramos numa quatro pistas cuidada, é uma mudança para melhor. A conversão começa por um chamado. Contemplando a história do povo, entendemos que Deus sempre esteve chamando seu povo. Chama de volta dos caminhos errados, mas também tira das prisões, dos exílios, das dores e dos sofrimentos. Deus está sempre atraindo a Si seu povo. Volta meu povo! Deus chama, insiste e dá os meios para a transformação. Ninguém sai do buraco e busca Deus com as próprias forças. Buscá-lo é já ter sido encontrado por Ele. O desejo da volta já é um toque de Deus, da graça e de sua vontade de não perder nenhum daqueles que ele escolheu (Jo 6,39). A ovelha perdida é buscada com ansiedade (Lc 15,4-6). O caminho da conversão começa no coração de Deus que ama, quer salvar e toca nosso coração para retornar ou firmar os joelhos vacilantes (Is 35,3). O tempo da Quaresma só será útil se fazemos nossa parte.
Deixar-se encontrar
Na liturgia da reconciliação dos penitentes do Pontifical de Guilherme Durand há uma cerimônia em que um ministro vai, diversas vezes, ao fundo da Igreja e volta. Assim está representando as muitas tentativas que Deus faz para buscar o “pecador”. É muito significativo o carinho de Deus insistindo em nos buscar. A proposta é clara: deixar-se encontrar. Fugimos e nos escondemos, mas deixemos um jeitinho de Ele nos pegar. Deus nos procura sem se cansar até que nos encontre e, como a ovelhinha perdida, coloca-a nos ombros e conta, com alegria, a sorte de tê-la encontrado (Lc 15,4-7). A grande iniciativa que Deus toma para buscar a ovelha perdida é o envio do Filho em sua Encarnação. A iniciativa é de Deus, como diz S.Paulo: “Deus demonstra seu amor para conosco, pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8).
Perseverança no caminho
“Aquele que julga estar em pé, tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12). As provações e tentações estarão sempre presentes. Isso não é um mal. Escreve S. Tiago: “Quando deveis passar por diversas provações, considerai isso motivo de alegria, por saberdes que a comprovação da fé produz em vós a perseverança” (Tg 1,2-3). A tentação vem de nós mesmos e por isso o controle depende de nós. Continua S. Tiago: “Cada qual é tentado por sua própria concupiscência (desejo do mal), que o arrasta e seduz. Em seguida a concupiscência concebe o pecado e o dá à luz, e o pecado, uma vez concebido, gera a morte” (14-15). Para vencer a tentação, temos a receita da vigilância na oração, a fuga das ocasiões do pecado, o conhecimento de nossa realidade, a Confissão e a Eucaristia. E para ser fortalecido, o amor que cobre a multidão dos pecados (1Pd 4,8).
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MARÇO DE 2010
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