"Eu vos exalto, meu Deus e Rei" (Sl 144, 1). Esta exclamação do Salmista reflete toda a existência da Madre Maria Pilar Izquierdo, fundadora da Obra Missionária de Jesus e Maria: Louvar a Deus e cumprir em tudo a sua vontade. A sua breve vida, apenas 39 anos, pode resumir-se afirmando que desejou louvar a Deus, oferecendo-lhe o seu amor e sacrifício. A sua vida foi marcada por um continuo sofrimento, não só físico, fazendo tudo por amor d'Aquele que nos amou primeiro e sofreu pela salvação de todos. O amor a Deus, à cruz de Jesus, ao próximo necessitado de ajuda material, foram as grandes preocupações da nova Beata. Tinha a consciência da necessidade de catequizar com o Evangelho nos subúrbios e dar de comer ao faminto, a fim de se configurar a Cristo mediante as obras de misericórdia. A sua inspiração fundamental continua a estar viva hoje onde se encontra a Obra Missionária de Jesus e Maria, desenvolvendo o seu labor em conformidade com o seu espírito. Oxalá o seu exemplo de vida abnegada e generosa ajude a empenhar-se cada vez mais no serviço aos necessitados, para que o mundo atual seja testemunha da força renovadora do Evangelho de Cristo.
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação –
04 de novembro de 2001
Maria Pilar Izquierdo Albero, terceira de cinco irmãos, nasceu em Zaragoza, Espanha, no dia 27 de julho de 1906. Na festa de Santa Maria das Neves, dia 5 de agosto, ela foi batizada. Mais tarde ela diria que esse fora o maior dia da sua vida, porque começara a ser filha da Igreja.
Seus pais, pobres de bens materiais, mas ricos em virtudes, inculcaram na criança o espírito de piedade, o amor aos pobres e uma terna devoção à Virgem do Pilar. Desde muito criança brilhou nela um grande amor a Deus e aos pobres. Privava-se às vezes do seu lanche e das suas coisas para ajudar a quem considerava mais necessitado do que ela. Como nunca foi à escola, não sabia escrever nem quase ler, por isso considerava-se “uma tolinha” que não sabia senão “sofrer e amar, amar e sofrer”.
Cedo Maria Pilar experimentou a dor e compreendeu o valor redentor do sofrimento. Aos 12 anos foi vítima de uma doença misteriosa que nenhum médico soube diagnosticar. Depois de quatro anos vividos, por motivos de saúde, em Alfamén, regressou a Zaragoza, onde começou a trabalhar numa fábrica de calçado.
Era muito querida por todos por sua simplicidade, sua natural simpatia, sua bondade e sua laboriosidade. Mas o Senhor queria levá-la por outros caminhos e assim a foi adentrando no mistério da Cruz. De tal maneira Maria Pilar amou o sofrimento, que costumava dizer: “Encontro neste sofrer um amor tão grande a nosso Jesus, que morro e não morro... porque esse amor é o que me faz viver”.
Em 1926, enquanto voltava do trabalho, fraturou a pélvis e em 1929 ficou paraplégica e cega por causa dos inúmeros quistos. Por mais de doze anos peregrinou pelos hospitais de Zaragoza, vivendo na água-furtada da Rua Cerdán, 24. Esta se converteu numa escola de espiritualidade e num lugar de luz, de paz e de alegria para quantos a visitavam, especialmente durante os três anos da guerra civil espanhola.
As orações e a caridade mútua que imperavam ali faziam com que as almas discernissem a vocação a que Deus as chamava. Maria Pilar começou a falar da “Obra de Jesus” em 1936; ela dizia que esta obra haveria de aparecer na Igreja, que teria como finalidade “reproduzir a vida ativa do Senhor na terra através das obras de misericórdia”.
No dia 8 de dezembro de 1939, festa da Imaculada Conceição, de quem era devotíssima, Maria Pilar ficou milagrosamente curada da paralisia que a havia prostrado por mais de dez anos no leito. Os quistos também desapareceram e ela recobrou instantaneamente a visão. Uma vez curada, pôs em marcha sua obra, deslocando-se, junto com várias jovens, a Madrid, onde já tinha sido aprovada a Fundação com o nome de “Missionárias de Jesus e Maria”.
Logo apareceram os que procuram burlar os planos de Deus: ela foi proibida de exercer qualquer apostolado. Em 1942, porém, o Bispo de Madrid erigiu canonicamente a Obra como “Pia União de Missionárias de Jesus, Maria e José”.
Após dois anos de fecundo apostolado entre pobres, crianças e doentes, Deus a fez caminhar novamente pelas vias da Cruz: reapareceram quistos no ventre. A este sofrimento físico se somaram os sofrimentos morais que Deus permite para purificar as almas: calúnias, intrigas, incompreensões, desacreditaram sua obra e afastaram várias jovens que haviam sido fieis.
Aconselhada pelo seu confessor, Maria Pilar se retirou de sua própria obra em novembro de 1944, sendo seguida por nove das suas filhas. Em 9 de dezembro viajou até São Sebastião. Durante a viagem, numa noite gélida e por caminhos cobertos de neve, fraturou uma perna num acidente. Um tumor maligno se manifestou e a feriu de morte, mas não conseguiu apagar a luz da sua fé nem a sua firme convicção de que a obra voltaria a ressurgir.
Abandonada das criaturas, prostrada no leito, alentava suas filhas: “Sinto deixá-las, porque as amo muito, mas lá do céu serei mais útil. Voltarei a terra para estar com os que sofrem, com os pobres, os doentes. Quanto mais sozinhas estiverem, mais perto de vocês estarei”.
Morreu em São Sebastião, aos 39 anos, no dia 27 de agosto de 1945, oferecendo a sua vida pelas Filhas que se tinham separado, e que recordava com dor e com carinho: “Amo-as tanto, que não as posso esquecer; embora me batessem, me arrastassem, quisera tê-las aqui. Não quero lembrar-me do mal que me fazem, mas do bem que me fizeram. Bem sabe nosso amado Jesus que mais, muito mais do que me fazem sofrer quero que lhes dê o céu”.
Confiantes nas palavras da Madre, suas filhas permaneceram unidas sob a direção do Pe. Daniel Diez Garcia, que a tinha ajudado e assistido nos últimos anos de sua vida. Em maio de 1948, o bispo Dom Fidel Garcia Martines aprovou a obra canonicamente com o nome de “Obra Missionária de Jesus e Maria”.
Em 1961 foram aprovadas como Congregação de Direito Diocesano e 1981 de Direito Pontifício. A Congregação conta na atualidade com 230 religiosas em diversos pontos da Espanha, Colômbia, Equador, Venezuela, Itália, México e Moçambique.
No dia 4 de novembro de 2001, Madre Maria Pilar foi beatificada por João Paulo II em solene cerimônia.
No mundo atual, onde às vezes prevalece a busca desmedida do prazer e da utilidade imediata, a figura de Madre Maria Pilar Izquierdo, proclama com sublime eloquência o valor redentor do sacrifício, livremente aceite e oferecido, juntamente com o de Cristo, para a salvação da raça humana. A Beata Madre Maria Pilar Izquierdo foi uma verdadeira apóstola da difusão do Evangelho. Com um grupo de seguidoras, consagrou-se ao seu anúncio nos bairros pobres e marginalizados, sedentos de pão e sobretudo de Deus, num período da sua vida em que não lhe faltaram incompreensões de todos os tipos. Ela nunca perdeu o amor pelo sacrifício, e assim é um exemplo luminoso para quantos, mesmo no meio de numerosas dificuldades, consagram a sua vida à causa do Reino dos Céus.
Papa João Paulo II– 05 de novembro de 2001
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