sábado, 27 de agosto de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Festa do Corpo e Sangue de Cristo”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
SACERDOTE REDENTORISTA
NA PAZ DO SENHOR
Memorial da Paixão
 
A festa dos Santíssimos Corpo e Sangue de Cristo é, na liturgia atual, uma extensão da Ceia Pascal sob o aspecto mais devocional Contudo não perde sua característica de memorial da Paixão e Ressurreição do Senhor. Uma das finalidades da festa era o culto público e festivo ao Santíssimo Sacramento que não podia ser realizado na Quinta Feira Santa. Compreende-se essa visão pois havia certa distinção entre Sacrifício da Missa e Sacramento da Eucaristia que se conservava no Sacrário. Era uma expressão delicadamente amorosa do reconhecimento dessa doce presença. Ali, diante do sacrário, e mesmo levando em procissão para os doentes e nas solenidades do Corpo de Deus, o coração fiel deixava jorrar do coração as mais belas efusões de amor. Quantos santos ali passaram grande parte de sua vida! Era um doce paraíso. Esse paraíso é suave porque é memorial do amor de redenção que Jesus nos manifestou na Cruz e garantiu na Ressurreição. Os que realmente amam a Eucaristia, unem-se à Morte e Ressurreição de Jesus. Paulo tem consciência dessa realidade quando afirma que recebeu isso, já como uma tradição na comunidade: “O que recebi do Senhor, foi o que vos transmiti” (1Cor 11,22). O Apóstolo narra, então em seu texto, como se celebrava o rito da Eucaristia. E acrescenta a finalidade do rito: “Todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha” (26). Proclamar a Morte e a Ressurreição não é uma recordação, mas o atestado de uma presença. Estamos diante e dentro de seu mistério de passagem para o Pai. 
Fazeis todos um só coração 
O prefácio da missa insiste que a comunhão faz de todos um só coração. No discurso de despedida Jesus reza ao Pai que todos sejam um (Jo 17,21), que sejam perfeitos na unidade (23). Esta unidade vem da comunhão ao Corpo e Sangue de Cristo, realizada pelo Espírito Santo (Prece Eucarística II). Essa comunhão se realiza também com todos os que se alimentam do mesmo Pão e bebem do mesmo Cálice. O prefácio continua: “Pela comunhão neste sublime sacramento, a todo nutris e santificais e congregais os cristãos na mesma caridade”. Além de ser uma união espiritual divina, é um alimento que nutre o corpo, a alma e ao mesmo tempo santifica, isto é, une a Deus. A comunhão tem sido tomada de modo individualista, preocupado somente com a própria santidade. Pior ainda quando é recebida de modo devocional sem ligação com o mistério celebrado. Não produz os efeitos desejamos. Paulo afirma: “Quem come e bebe sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação. Eis porque há entre vós tantos débeis e enfermos e muitos morreram” (1 Cor 11,28-30). Esse Corpo do Senhor é alimento, cura e vida. 
Eu quisera Jesus adorado 
Há um profundo desejo em cada coração que verdadeiramente ama Jesus Eucaristia, que Ele seja amado por todos. É um sinal claro da finalidade da Eucaristia: anunciar o Senhor que se doa. A Eucaristia é o modo sacramental de continuar entre nós sua presença entre nós. Não podemos chegar a Deus somente pelos pensamentos espirituais, mas podemos entrar em contato corporal e espiritual com o Senhor. Assim foi na Encarnação, assim o é na Eucaristia. O encontro com Cristo leva-nos a fazer comunhão com os outros a continuarmos a multiplicação dos pães, que é a finalidade da Eucaristia, como lemos no evangelho da festa. Jesus parte o pão como símbolo de sua vida que é partida e repartida. Quem ama a eucaristia, ama seu irmão e cuida dele, como Jesus cuida de nós. 
Leituras: Gênesis 14,18-20; Salmo 109;
1 Coríntios 11,23-26; Lucas 9,11b-17. 
1. A festa de Corpus Christi não é só devocional, mas continua celebrando o memorial de sua morte e ressurreição. Houve, em tempos antigos, uma distinção entre sacramento e sacrifício da missa. O que gerou a separação. Paulo, na 1ª Coríntios explica a finalidade da Eucaristia: proclamar a morte e ressurreição do Senhor. Sempre foi fonte de vida. Diante da Eucaristia os santos passaram parte de sua vida. 
2. A Eucaristia faz de todos um só coração, realizando a unidade do corpo de Cristo pela ação do Espírito Santo. Ela nos santifica unindo-nos a Deus. Não pode ser tomada de modo individualista ou só devocional. É preciso discernir o Corpo do Senhor. 
3. Todos que recebem a Eucaristia têm o desejo que Jesus seja amado, pois ela tem como meta anunciar a morte e ressurreição do Senhor. Se comungarmos bem, sabemos partilhar o pão da vida multiplicando a vida para todos.
Lanche de viagem 
Santo Tomás de Aquino escreve um hino que se inicia assim, em latim: “O Esca viatorum”. Tradução: alimento dos viajantes, lanche de viagem, matula - para quem é antigo. Mas diz também “o Panis Angelorum” – Pão dos Anjos. O que nos sacia na caminhada da vida é também alimento para os Anjos. Ter um alimento na hora certa, sacia o corpo e a alma. O povo que seguia Jesus recebe um alimento em sua fome. Jesus multiplicou o pão. Era um sinal da multiplicação que faz do próprio corpo. A vida de Deus, presente no pão da Vida, Eucaristia, é alimento dos Anjos e dos pobres pecadores. Com esse alimento louvamos a Deus, com Ele Deus nos sacia. A estreita ligação de amor torna presente para nós o grande amor que Jesus manifestou para conosco em sua Paixão. Por isso é memorial da Paixão, mais ainda, do amor manifestado na Paixão. Adoramos, mas dele nos alimentamos. O povo diz: “Eu preciso da Eucaristia para viver”. 
Homilia de Corpus Christi
EM JULHO DE 2007

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