A espiritualidade que nasce da liturgia tem sua fonte no Mistério Pascal de Cristo celebrado e vivido. Para celebrar a vida de Cristo em seus mais diversos acontecimentos salvadores, temos os vários tempos litúrgicos, como Natal, Paixão, Páscoa, Ascensão e Pentecostes. Mas, temos também a Páscoa semanal, chamada dia do Senhor, o domingo, e também o primeiro dia da semana. Os testemunhos da Sagrada Escritura mostram como os cristãos se reúnem no primeiro dia da semana. Paulo, em Trôade: “No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para partir o pão” (At 20,7). João tem sua visão no domingo: “No dia do Senhor fui arrebatado em êxtase” (Ap 1,10). Os testemunhos posteriores insistem na celebração no dia do Senhor. Os mártires de Abitene, norte da África, (304) dizem, em seu martírio, que sofreram por terem participado da assembleia dominical: “Não podemos viver sem o domingo. Não podemos viver sem celebrar o mistério do Senhor”. Plínio, o Jovem, (Bitínia) em carta ao imperador Trajano, informa sobre os cristãos que se reuniam em um dia estabelecido: “Afirmavam que toda sua falta e todo seu erro consistiam em reunir-se habitualmente em um dia fixo, antes da aurora para cantar hino a Cristo como a um Deus” e depois tomarem o alimento (Eucaristia ou ágape fraterno). Não se fala nos textos de dia santificado, como era o sábado. Isso será posterior. O dia do Senhor é a Páscoa semanal. A celebração do Mistério Pascal não acontece primeiramente no dia da Páscoa anual, mas no domingo.
Dia da aparição do Ressuscitado
Por que o domingo é o dia do Senhor? Ele é o primeiro e o oitavo dia. As aparições de Jesus se dão no primeiro dia da semana, dia em que aconteceu Sua Ressurreição. Tem-se por tradição que é o dia da criação do mundo. A nova criação, realizada em Cristo se dá no domingo. Esses encontros com Cristo levaram os cristãos a celebrar seu encontro semanal, com que continuando o encontro dos discípulos com o Ressuscitado. Reuniam-se para “partir o pão”, fazer a Eucaristia, como Jesus mandara: “Fazei isso em memória de mim” (Lc 22,19). A refeição ritual, como vemos em Paulo em Trôade, não é uma ceia como a pascal em que Jesus instituiu o sacramento de seu Corpo e Sangue, mas já tem uma conotação mais simples, desligada da Páscoa hebraica, pois não poderiam fazê-la por seu um ritual exclusivamente judeus, proibido a pagãos. A mudança do sábado para o domingo, como dia reservado para o descanso espiritual e corporal, vem por causa da ressurreição.
Dia da comunidade
O Domingo é também o dia do Espírito Santo. Jesus na tarde do primeiro dia da semana, o dia da Ressurreição, apareceu aos discípulos e disse “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,19). A vinda do Espírito Santo em Pentecostes se deu num domingo. O Espírito forma a comunidade na reconciliação, fazendo-a um único corpo, Corpo de Cristo. A comunidade, a partir de então, se reúne para sacramentar essa união. Reunida, celebram a Ceia do Senhor, partem o pão, ouvem a Palavra, rezam e realizam a fraternidade. É dia também do retorno do Senhor. A comunidade celebra a Páscoa semanal, sentindo-se envolvida pelo mesmo mistério de redenção que realiza na celebração da Eucaristia. A Eucaristia realiza a Igreja, como reza o livro da Didaqué (1º catecismo da Igreja): “Assim como este pão repartido estava disperso pelos montes, e depois de recolhido, se tornou um só, assim se reúna a vossa Igreja dos confins da aterra no vosso reino” (Didaqué 9,3-4). A espiritualidade passa pela celebração do domingo, pois é celebração do dia do Senhor.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM JUNHO DE 2007
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