sábado, 30 de abril de 2022

30 DE ABRIL: SÃO TIAGO, O JUSTO – APÓSTOLO E IRMÃO DE SÃO JOÃO, O TEÓLOGO († 42)

Tiago, o irmão do Senhor, o Apóstolo Divino, foi o primeiro bispo de Jerusalém. Sua origem era a Judeia, e era filho de José, o Desposado. Homem piedoso e de fé inquebrantável, além de outras virtudes, Tiago, o Justo, recebeu assim, merecidamente, o codinome de «irmão do Senhor». Como já foi dito, era um dos filhos de José com sua primeira mulher, Salomé. Sendo já de avançada idade e viúvo, José desposou a Maria, virgem antes e depois do nascimento de seu filho. Tiago recebeu primeiro o nome de Joblián, que em hebraico significa «justo», pois ainda criança mostrou ter autodomínio sobre todos os seus sentidos, o que era realmente extraordinário. Seu olhar era dirigido apenas para as coisas boas e lhe foi concedida a misericórdia divina. Seus ouvidos se abriam às santas leituras e sua boca se regozijava com a lei. Estava sempre pronto à caridade e sentia simpatia por todos. Controlava o apetite e não usava nada de supérfluo ou desnecessário. Ao longo de sua vida, não comeu nenhum alimento animal, ou seja: carne, peixe ou crustáceos. Nunca bebeu vinho, somente água para matar sua sede. Subsistia a pão e lágrimas. Por causa de muitas prostrações seus joelhos ficaram desgastados e sua aparência revelava uma vida de extremo ascetismo. Usava uma camisa de crina de cavalo, mas vestia uma túnica de linho quando entrava no santuário. Orava e trabalhava incansavelmente. Era amado pelos familiares, amigos e os desconhecidos estrangeiros que vinham de longe o reverenciam por suas virtudes. Dentre estes, não só haviam os devotos, mas mesmo os pagãos o tinham em alta estima. Tiago, o Justo, foi o primeiro escolhido por nosso Salvador e pelos apóstolos para o episcopado da Igreja de Jerusalém. Era adornado com todas as virtudes, em especial, porém, destacam-se duas: a capacidade de guiar os homens à perfeição, tanto na teoria como na prática; era tanto humilde como moderado. Seu nome o dizia: «Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo». De sua própria experiência pessoal compreendeu a paciência que deriva das aflições e alentava aos demais com estas palavras: «considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações. Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. [Tg 2,2;12]. Corrigia os que afirmavam que o pecado é natural ao homem, pois estava a dizer, assim, que Deus é o autor do mal. Como um excelente médico, curou a estes insensatos com estas palavras: «Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia» [Tg 1,13-14] Ensinava-lhes que Deus não era a causa das enfermidades humanas e lhes advertiu a reconhecerem a própria indolência e fraqueza, a serem humildes e pedirem perdão. Também afirmava que sem a graça divina, somos incapazes de fazer uma coisa boa, pois «toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, do Pai das luzes» [Tg 1,17] Ele Instava a todos a praticar a caridade para com os mais necessitados, a fim de encontrar a misericórdia do juiz na hora do Juízo, e assinalava: «Pois, haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento» [Tg 2,13]. Afirmava ainda que somente a fé não beneficia aqueles que não guardam os mandamentos de Deus, porque sem obras, são considerados mortos, como se o corpo estivesse morto e sem vida. Sobre este ponto, diz: «Queres ver, ó homem vão, como a fé sem obras é estéril?» [Tg 2,20] Também ensinava aos homens a refrear as palavras, a evitar proferir mentiras, palavras em vão, insultos ou julgamentos, mas principalmente, para afastar-se do falso testemunho que é muito prejudicial para a alma. O homem, dizia ele, não deve jurar nem pelo céu nem pela terra, nem por qualquer coisa criada. Estes e muitos outros doces ensinamentos nos vieram da boca do Apóstolo Tiago, bispo e irmão de nosso Senhor, através de sua epístola. Todos os apóstolos veneravam Tiago e consideravam a sua palavra como lei. Sua opinião prevaleceu em diversas situações nos Atos dos Apóstolos, como na questão de saber se era ou não necessário circuncidar aos gentios. Quando os apóstolos e anciãos se reuniram para debater sobre este tema, Tiago disse-lhes, uma vez que já haviam falado Pedro, Paulo e Barnabé: Portanto, julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue». [At 15, 19-20]. Sua voz e seu voto teve grande valor, pois os Apóstolos veneravam este Apóstolo acima de todos. Para demonstrar ainda mais sua proeminência entre eles, São Paulo foi com os outros Apóstolos encontrar-se com Tiago, quando os anciãos estavam presentes, para declarar as coisas que Deus operara entre os gentios através de seu ministério; e logo, glorificaram a Deus. Somente a São Tiago, o Justo, foi dada a permissão de entrar no lugar sagrado, e entrou sozinho no santuário. De acordo com Hegesippus, no santuário somente podiam entrar os sacerdotes da linhagem de Arão, ainda que tenham sido concedidos privilégios sacerdotais aos nazarenos. Muitas vezes o encontraram ajoelhado, oferecendo súplicas pelos pecados do povo, especialmente por aqueles que estavam sob a lei de Moisés; seus joelhos tinham calos como de camelos. O extraordinário Tiago contava realmente com elevado alto favor de Deus para a condução de sua vida. Entretanto, alguns membros das seitas heréticas dos judeus ousaram, numa certa ocasião, por instigação de Ananias, o sumo sacerdote, aproximar-se de Tiago pedindo-lhe que renunciasse sua fé em Cristo. Os inimigos de Cristo lhe perguntaram: «Diga-nos, oh Justo, o que significa que a ‘Porta é Jesus’?» E Tiago respondeu: «Este é Jesus Cristo, o Filho de Deus, uma só essência com o Pai». Na verdade, alguns chegaram a crer graças à pregação de Tiago e aceitaram suas justas palavras da verdade. Alguns membros das várias seitas, no entanto, permaneciam contra ele e o consideravam equivocado, pois não acreditam na ressurreição, ou que todos seriam recompensados por suas boas ações. Houve então um grande murmúrio entre os fariseus e os escribas, convencidos de que estavam diante de um perigo de que todos acreditassem em Cristo. Foram então ao encontro de Tiago e disseram: «Nós te pedimos, oh Justo, que ensines as pessoas, pois se afastaram do caminho e creem em Jesus, afirmando que ele é o Cristo. Então, na festa da Páscoa, quando todos estiverem reunidos, procure convencê-los para que não sejam enganados por um simples homem. Nós te imploramos que realizes esta boa ação, pois todos nós te reconhecemos que és um homem justo e imparcial. Por isso te pedimos, para que subas ao parapeito do templo, onde todos facilmente te verão e ouvirão tuas justas palavras de instrução». Na festa da Páscoa, todas as tribos se reuniram, havendo ali, inclusive, cristãos. Foi então que os mentirosos e embusteiros, acreditando que Tiago compartilhasse de suas crenças, o fizeram parar sobre o parapeito do templo, e para que todos os presentes ouvissem, clamaram em alta voz: «Como todos nós te aceitamos, oh Justo, diga-nos: o que achas de Jesus, que foi crucificado por Pilatos, e que depois disso as pessoas se afastaram do caminho, acreditando que ele é o Cristo e, até mesmo, que ele é Deus? Explica-nos isto e proclama a verdade!» Quando chegou o momento de dizer a verdade contra os falsos, Tiago não retrocedeu por temer a morte nem aceitou negar a verdade, mas, contrariamente às expectativas daqueles, levantou a voz, e com espontâneo espírito e palavra, respondeu: «Por que me perguntais sobre Jesus? Ele está sentado no céu à direita de seu Pai, com os poderes celestiais, e voltará nas nuvens do céu para julgar o mundo com justiça». Tendo testemunhado isto, muitos se convenceram e exclamaram: «Hosana ao Filho de Davi !» Mas os obcecados fariseus e escribas se queixaram de que haviam permitido a Tiago dirigir sua palavra ao público, pois que não tinha proclamado o que pretendiam. Cheios de cólera, se dirigiram à multidão, dizendo: «Até mesmo o Justo se afastou do caminho». Em seguida, foram para o parapeito e o agarraram como bestas selvagens, atirando-o ao chão, mas o bem-aventurado sobreviveu. Começaram então a apedrejá-lo. Mas o Santo recebeu as pedras em silêncio e, como se fosse um precioso tesouro, se ajoelhou e orou: «Senhor Deus e Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem». Oh bendita alma! Oh humildade maravilhosa! Estas foram as palavras proferidas, tanto pelo Mestre na cruz como pelo Protomártir Santo Estevão. Assim também orou Tiago, o puro irmão do Senhor, por seus cruéis assassinos cruéis. Embora alguns tenham conseguido escutar suas orações por eles, os ingratos não tiveram respeito pela sua clemência e continuaram atirando-lhe as pedras. Um dos descendentes de Recab, o filho de Racabim da casta sacerdotal, disse: «Basta! Malvados, o que estais fazendo?O Justo está rezando por nós, injustos como somos e que o apedrejamos!» Então, um dos agressores tomou um bastão usado para bater na lona, e golpeou fortemente a cabeça de Tiago que, não resistindo, o Justo entregou seu espírito a Deus. Seu corpo foi sepultado próximo do santuário. Após sua morte, foi nomeado bispo Simeão, o filho de seu tio Cléofas, porque era primo do Senhor e por um desejo unânime de que ele deveria ser o próximo bispo. Havia alguns judeus compassivos e justos que, secretamente, enviaram uma carta ao tetrarca Agripa, que era o sucessor de Herodes, informando-lhe sobre esta cruel morte. Nela eles pediam que ordenasse a Ananias para que nunca mais convocasse o Conselho sem a autorização deles. O rei Agripa havia nomeado Ananias como sumo sacerdote, mas não havia ocupado o posto por mais de três meses sendo então substituído por outro, Jeshua ben Dammeo. Após a morte de Tiago, muitos judeus consideravam que as calamidades que se abateram sobre eles foram conseqüência da violenta morte deste justo homem; pois, no ano 67 dC., Vespasiano tomou Jerusalém de assalto. Assim conclui esta narração, porque Flavius Josephus registrou os acontecimentos subseqüentes em seus escritos. Portanto, pelas orações de Tiago, Apóstolo, Hierarca, Justo, Mártir e Irmão do Senhor, cuja alma foi adornada com todas as virtudes, ó Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem misericórdia de nós! 
Tradução e publicação neste site com permissão de
Trad.: Pe. André Sperandio 

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