terça-feira, 26 de abril de 2022

REFLETINDO A PALAVRA - “Se o grão de trigo não morre...”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
54 ANOS CONSAGRADO
46 ANOS SACERDOTE
Nova aliança feita no coração
 
Muitas foram as alianças que Deus fez com seu povo no Antigo Testamento. Cada encontro com Deus é sempre um motivo para uma aliança. Essas alianças foram realizadas mediante ritos de sangue e proclamação de leis. A nova aliança, profetizada por Jeremias (31,31-34), acontece no coração, envolvendo o centro da pessoa num laço de amor, não somente em um ritual. É marcada pelo sangue de Cristo que é Sua vida. Em Cristo o Pai estabelece conosco uma definitiva relação de vida. A lei da nova aliança terá como código o amor de entrega, como Jesus fez na cruz. A aliança vai ser impressa no coração. Assim o conhecimento de Deus não se faz somente por um ouvir dizer, mas por um conhecimento pessoal que provém da união a Cristo em Seu sofrimento. O evangelho diz que os gregos querem ver Jesus, quer dizer, também eles querem crer. Ver significa crer e realizar a aliança. Jesus vive nesse momento a grande tensão com os judeus (os chefes do povo) que querem destruí-lo. Entram assim na lógica de Deus, pois elevar Jesus na cruz é sua glorificação, visto que ali Ele atrai a todos. A humilhação de Jesus na sua paixão leva-o à glorificação. Ser elevado na cruz é ser exaltado. Sua morte leva-o à vida. No profundo da humanidade assumida na obediência ao Pai está sua glorificação e a realização da aliança gravada no coração. Esta aliança acontece por primeiro no coração do Filho que se entrega por amor e depois em nós que entramos nesse ritmo de amor. 
Estrada batida 
O caminho de Jesus passa pela morte, pois ela é a causa de vida. Caminhando para Jerusalém Jesus mostra um atalho: “Se alguém quer me servir, siga-me. Onde Eu estou estará também meu servo”. Que atalho? “Se o grão de trigo não cai na terra e não morre permanece só um grão de trigo, mas se morre, então produz muito fruto” (Jo 12,24). Seguir Jesus e acompanhá-lo em Sua entrega de vida para chegar à Vida: “Quem se apega a sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna”(25). Estes são os caminhos de Deus que diferem tanto de nossos caminhos. A estrada batida para se chegar à vida plena deve fazer o caminho de aniquilação que Jesus fez: entregar-se em amor de aliança. O sofrimento não foi fácil para Ele, como não o é para nós. A carta aos Hebreus (5,7-9) conta-nos como foram dolorosos seus dias: “Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, Àquele que era capaz de salvá-lo da morte [...] Mesmo sendo Filho aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que sofreu” Nessa estrada batida podemos estar unidos a Ele. 
Tornou-se causa de salvação 
Unidos a Ele em Sua morte estamos com Ele em Sua ressurreição que é a causa de salvação do mundo. A carta aos Hebreus (9) continua: “Na consumação de Sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”, os que O seguem. O grão de trigo morto produz muito fruto. A glorificação de Jesus na cruz continua em Sua ressurreição. Somente a fé em Cristo nos faz entender que o sofrimento é o passo de nossa glorificação com Ele. Enquanto não nos dispusermos a viver o seguimento de Jesus na humildade e na entrega, não compreenderemos o caminho de Jesus. Não é o sofrimento pelo sofrimento, mas sim a entrega de vida em pequenos gestos de amor, que mesmo sofridos, são redentores. 
Ficha: 1. As muitas alianças que Deus fez com seu povo estavam ligadas a ritos e normas. A nova aliança é feita no sangue de Cristo que é Sua vida. Em Cristo, o Pai estabeleceu conosco uma definitiva relação de vida cuja lei é o amor de entrega, como Ele fez na cruz. Trata-se de um conhecimento pessoal que provém da união a Cristo em Seu sofrimento. Os gregos pedem para ver Jesus. Ver significa crer. Os judeus querem crucificar Jesus. Realizam assim Sua glorificação que termina na ressurreição. A aliança acontece primeiro no Filho e depois em nós que entramos em Seu ritmo de amor. 
2. O caminho de Jesus é explicado pela comparação com o grão de trigo que morto na terra produz muito fruto. Seguir Jesus é acompanhá-LO em sua entrega de vida para chegar à vida. Perder a vida é ganhá-la. A estrada batida é seguir Cristo em sua aniquilação. O sofrimento para Cristo não foi fácil, como nos conta a carta aos Hebreus: Ele dirigiu preces e súplicas entre clamores e lágrimas. 
3. A morte de Cristo e Sua ressurreição são a causa da salvação. Se o grão de trigo morre, produz muito fruto. Somente a fé em Cristo nos faz entender que o sofrimento é o passo de nossa glorificação com Ele. Seguindo-O na humildade compreendemos Seu caminho. Não é o sofrimento pelo sofrimento, mas a entrega de vida em pequenos gestos de amor que podem ser sofridos, mas redentores 
Síntese: Estrada batida
Caminhando para Jerusalém Jesus mostra um atalho: “Se alguém quer me servir, siga-me. Onde Eu estou estará também meu servo”. Que atalho? Se o grão de trigo não cai na terra e não morre permanece só um grão de trigo, mas se morre, então produz muito fruto. Quer seguir Jesus? Siga-O na sua morte para chegar à vida. 
Homilia do 5º da Quaresma
EM ABRIL DE 2006

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