sexta-feira, 4 de agosto de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “História da Semana Santa”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
Mãe e mestra de liturgia
            “Que alegria quando me disseram: vamos à casa do Senhor!” Entrar em Jerusalém cantando este salmo foi e é um momento único de compreensão do que significou e significa esta cidade para a História da Salvação.  Celebrar é festejar. Festejamos a Páscoa do Senhor. “As festas são celebrações de acontecimentos que são recordados e atualizados pelos fiéis num clima de ação de graças” (Pe. A.C.O.Souza). Os judeus tinham diversas festas no ano, todas ligadas com a História da presença de Deus no meio do povo. Os cristãos celebram, agora, a partir de Cristo. Daí surgiu o Ano Litúrgico, cujo coração é o Tríduo Pascal. Iniciou-se com a celebração da Páscoa, acompanhando o calendário judaico, celebrando no primeiro domingo depois da lua cheia de primavera (hemisfério norte). Preparando a festa havia o jejum que, com o tempo passou a 40 dias, Quaresma. Em Jerusalém a liturgia assumiu uma característica única: liturgia geográfica. As celebrações eram feitas nos lugares onde havia acontecido o fato histórico da vida de Jesus. Participei da procissão de Ramos saindo de Betfagé até Jerusalém. Foram 3 horas. O centro era sempre a basílica da Ressurreição - Anástasis - onde está o túmulo onde Jesus ressuscitou. Esse modo de celebrar passou para toda a Igreja. Uma monja espanhola, chamada Etéria, pelos anos de 380, fez uma peregrinação por todos os lugares bíblicos. Ela conta como eram as celebrações da Semana Santa em Jerusalém. Conta justamente este aspecto de celebrar onde foi o acontecimento e depois terminar na basílica da Ressurreição. A partir daí esse modo de celebrar se espalhou pela Igreja. O domingo de Ramos repete esta cena da entrada de Jesus em Jerusalém
Piedade popular e liturgia
            Nos primeiros séculos a língua da liturgia era acessível ao povo. Nesse tempo a piedade e a espiritualidade do povo nasciam da liturgia. As devoções ainda não tinham surgido. A devoção estava na participação das celebrações. Depois que a liturgia se distanciou e ficou coisa do padre e o povo distante,iniciou-se então um culto muito forte à humanidade de Cristo. Assim surgiram as devoções do presépio, da Paixão, de Nossa Senhora. Como o conhecimento era fraco, fizeram o que estava a seu alcance. É mais fácil entender. Quem não entende a dor de Jesus, de sua Mãe? É o aspecto mais sensível. Neste tempo se desenvolve o culto dos santos. Daí para frente se tornou o modo do povo viver a fé. Infelizmente a evangelização era frágil. A devoção não exercia a função de conversão. A devoção assim entendida atravessou os séculos e veio até nós. À medida que aprofundamos nossa vida litúrgica, modificamos nosso modo de compreender a devoção. Ela não é ruim, mas precisa ser evangelizada.
Fazendo nossa vez!
            Temos também o folclore religioso que é a devoção feita dentro da cultura popular. Este sustentou a fé do povo durante os muitos anos que viveram sem assistência religiosa. É um modo de viver a fé na realidade do povo. Infelizmente, muitos padres e religiosas que, com boa vontade quiseram evangelizar e acabaram por destruir a piedade popular. Fiz a Semana Santa em um lugar onde os líderes acabaram com tudo que era do povo. Era o último fio de união. Esfriou a fé popular. Por isso temos que procurar fazer bem nossas liturgias e criar modos dela chegar ao povo através do popular. Movimentos e devoções que vieram de outros países ajudam, mas não podem matar a fé do povo. É um crime. Por outro lado precisamos levar a liturgia até o povo para que compreenda e celebre.

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