PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA |
Deus aceita o coração sincero
Vivemos em um tempo de reconhecimento das riquezas das
pessoas, de suas manifestações espirituais e de sua cultura. Há um diálogo
ecumênico que reconhece o que há de bom para construirmos um mundo mais
fraterno. Por outro lado, encontramos os fundamentalismos de grupos muçulmanos,
evangélicos e seitas que, por insistirem em algumas poucas idéias, perdem as belezas
que Deus lhes deu. Parta esta realidade, Jesus se manifesta com uma mensagem
muito bonita dita à cananéia pagã: “‘Mulher, grande é tua fé! Seja feito como
tu queres’. E desde esse momento sua filha ficou curada”. Ela, que implorava a
cura de sua filha, não se importou com as palavras ofensivas de Jesus: “Não se
deve tirar o pão dos filhos para dar aos cães”. Jesus a provou em sua fé. O profeta
Isaias mostra a abertura à fé ao dizer: “Aos estrangeiros que aderem ao Senhor,
... a esses conduzirei ao meu santo monte e os alegrarei em minha casa de
oração; aceitarei seus holocaustos, pois minha casa será chamada casa de oração
para todos os povos” (Is 56,1.7). Estes dois textos revelam
a grande mudança na mentalidade do exclusivismo judaico com respeito à
salvação. Os pagãos eram chamados de cães. Os primeiros cristãos, provindos do
judaísmo, terão sentido dificuldade com a conversão dos pagãos cananeus e
outros que viviam num baixo paganismo. Eles aceitaram o evangelho e se converteram.
Neles não se deve olhar a origem, mas a disposição de fé. Assim serão curados
de seu paganismo, simbolizado na filha doente atormentada, e vencidas suas
maldades. Todos são convidados a glorificar o Senhor, pois Deus aceita o
coração sincero.
Mistério
da rejeição
Os judeus rejeitaram os povos pagãos e, sob instigação
dos chefes, rejeitaram Jesus. Rejeitado o Reino, colocaram-se fora dele. O povo
de Deus, mesmo depois desta opção que fez, não perdeu os privilégios magníficos
que lhe foram outorgados por Deus em sua história, como diz Paulo: “A eles
pertencem a filiação adotiva, as alianças, as promessas o culto, os patriarcas,
.....deles descende o Cristo...” Deus não abandonou seu povo. Se não houvesse a
abertura aos pagãos, a fé cristã teria se identificado com uma tradição, o que
Cristo rejeitou. A Fé está acima da cultura. Nesta questão a Igreja teve
dificuldades durante séculos e mesmo agora. A Igreja não é um produto do primeiro mundo e
nem deve ter como referência só uma classe, ou ideologias, mas estar aberta às riquezas
dos povos e culturas. Não se trata de rejeitar uma história, mas de permitir
que a Fé se desenvolva como semente que produzirá os frutos que Deus oferece.
Escola de oração
Nessa narrativa de hoje aprendemos um modo de rezar:
Rezar não é ler textos ou recitar fórmulas. Também podem existir, desde que
estejam fundados em uma realidade pessoal aberta para Deus. A mulher cananéia reza
a partir de sua vida, dirigindo a Jesus, que a trata com frieza, para
provar-lhe a fé. Ela grita, insistentemente: “Senhor, Filho de Davi, tem
piedade de mim; minha filha está atormentada por um demônio” (Mt 5,22). Jesus ensina que a oração está unida à vida e deve
ser insistente. Conhecemos a parábola do amigo inoportuno que insiste pedindo
pão (Lc 11,5-8). Insistir é ter fé. Rezar não é dizer muitas
palavras, mas dizer muitas vezes a mesma coisa.
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