Evangelho segundo S. Mateus 5,1-12.
Naquele
tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os
discípulos, e Ele começou a ensiná-los, dizendo:
«Bem-aventurados os
pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados os que
choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os humildes, porque
possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque
serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles
é o reino dos Céus.
Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos
insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.
Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa. Assim
perseguiram os profetas que vieram antes de vós».
Tradução
litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Beato Guerric de
Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense
Sermão para a Festa de Todos os
Santos, 3.5-6
«Deles é o reino dos Céus»
«Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.» Sim, bem-aventurados aqueles que rejeitam os
fardos sem valor, mas cheios de peso, deste mundo; aqueles que não querem ser
ricos, a não ser pela posse do Criador do mundo, e só por Ele; aqueles que, nada
tendo, por Ele tudo possuem (2Cor 6,10). Pois tudo possuem estes que possuem
Aquele que tudo contém e de tudo dispõe, estes de quem Deus é a parte e a
herança (Nm 18,20). «Nada falta aos que O temem» (Sl 34,10): Deus dá-lhes tudo o
que sabe ser-lhes necessário; e dar-Se-lhes-á a Si mesmo um dia, para que eles
encontrem a alegria. [...] Glorifiquemo-nos, pois, meus irmãos, pelo facto de
sermos pobres por Cristo, e esforcemo-nos por ser humildes com Cristo. Pois não
há coisa mais detestável nem mais miserável que um pobre orgulhoso. [...]
«O reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz
e alegria no Espírito Santo» (Rom 14, 17). Se sentimos que temos tudo isto em
nós, proclamemos com segurança que o reino de Deus está dentro de nós (Lc
17,21). Ora, aquilo que está dentro de nós pertence-nos verdadeiramente; ninguém
no-lo pode arrancar. É por isso que, quando proclama a bem-aventurança dos
pobres, o Senhor não diz: «deles será o reino dos Céus», mas: «deles é o reino
dos Céus». E é deles, não apenas por um direito firmemente estabelecido, mas
também por um penhor inteiramente seguro, que já é uma experiência da felicidade
perfeita. E não apenas porque o reino foi preparado para eles desde o começo do
mundo (Mt 25,34), mas também porque eles já começaram a entrar na sua posse:
eles já possuem o tesouro celeste em vasos de barro (2Cor 4,7), já trazem a Deus
no seu corpo e no seu coração.
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