Evangelho segundo S. Marcos 4,26-34.
Naquele
tempo, disse Jesus à multidão: «O reino de Deus é como um homem que lançou a
semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina
e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta,
depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o
permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita». Jesus
dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus? Em que parábola o
havemos de apresentar? É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na
terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de
semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta,
estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua
sombra». Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como
estas, conforme eram capazes de entender. E não lhes falava senão em
parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do
dia:
Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, doutor da Igreja
Comentário sobre o Evangelho de S. Lucas
«As aves do céu podem abrigar-se à sua sombra»
O próprio Senhor é um grão de mostarda.
[...] Se Cristo é um grão de mostarda, como é Ele o mais pequeno e como cresce?
Não é na sua natureza, mas segundo a aparência, que Ele Se torna grande. Quereis
saber de que forma é o menor? «Vimo-lo sem aspeto atraente» (Is 53,2). Aprendei
também como é Ele o maior: «És o mais belo de entre os filhos do homem» (Sl
44,3). Com efeito, Aquele que não tinha atrativo nem beleza tornou-Se superior
aos anjos (Heb 1,4), ultrapassando toda a glória dos profetas de Israel. [...]
Ele é a menor de todas as sementes, porque não Se apresentou com a realeza, nem
com as riquezas, nem com a sabedoria deste mundo. E subitamente, como uma
árvore, fez dilatar o cume elevado do seu poder, de tal maneira que nós dizemos:
«Anelo sentar-me à sua sombra» (Cant 2,3).
Muitas vezes me pareceu, em
simultâneo, árvore e semente. É semente quando dizem dele: «Não é este o filho
do carpinteiro?» (Mt 13,55). Mas foi no decurso da sua própria pregação que Ele
cresceu: «De onde Lhe vem esta sabedoria?» (v. 54). Ele é, pois, semente na
aparência, árvore pela sabedoria. Na folhagem dos seus ramos poderão repousar
com segurança a ave noturna na sua morada, o pássaro solitário sobre o telhado
(Sl 101,8), aquele que foi arrebatado até ao paraíso (2Cor 12,4), assim como
aquele que será «arrebatado juntamente com eles sobre as nuvens» (1Tes 4,17). Aí
repousam também as potências e os anjos do Céu e todos aqueles cujas ações
espirituais lhes permitiram levantar voo. Foi aí que repousou São João, quando
se apoiou no peito de Jesus (Jo 13,25). [...]
E nós, que estávamos longe
(Ef 2,13), espalhados por entre as nações, que fomos durante muito tempo
agitados no vazio do mundo pelas tempestades do espírito do mal, abrindo as asas
da virtude, dirijamos o nosso voo para que esta sombra dos santos nos abrigue do
calor escaldante deste mundo. Já recuperámos a vida na paz e na segurança desta
morada, a partir do momento em que a nossa alma, outrora curvada sob o peso dos
pecados, escapou «como um pássaro do laço do caçador» (Sl 123,7), e foi
transportada para os ramos altos e as montanhas do Senhor (Sl 10,1).
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