Evangelho segundo S. Marcos 4,35-41.
Naquele dia,
ao cair da tarde, Jesus disse aos seus discípulos: «Passemos à outra margem do
lago». Eles deixaram a multidão e levaram Jesus consigo na barca em que
estava sentado. Iam com Ele outras embarcações. Levantou-se então uma grande
tormenta e as ondas eram tão altas que enchiam a barca de água. Jesus, à
popa, dormia com a cabeça numa almofada. Eles acordaram-n’O e disseram: «Mestre,
não Te importas que pereçamos?». Jesus levantou-Se, falou ao vento
imperiosamente e disse ao mar: «Cala-te e está quieto». O vento cessou e fez-se
grande bonança. Depois disse aos discípulos: «Porque estais tão assustados?
Ainda não tendes fé?». Eles ficaram cheios de temor e diziam uns para os
outros: «Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?».
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do
dia:
Santo António de Lisboa (c. 1195-1231),
franciscano, doutor da
Igreja.
Sermões para domingo e dias santos
«E fez-se grande bonança»
Jesus subiu para uma barca. Quando alguém
sobe para a barca da penitência, dá-se uma grande perturbação no mar. O mar é o
nosso coração. «O coração do homem é complicado e doente: quem poderá
conhecê-lo?» diz Jeremias (17,9); «espantosas são as agitações desse mar» (Sl
92,4). O orgulho incha-o, a ambição leva-o para lá dos seus limites, a tristeza
cobre-o de nuvens, os pensamentos vãos lançam nele a perturbação, a luxúria e a
gula fazem-no espumar. Mas só aqueles que sobem para a barca da penitência
sentem esses movimentos do mar, essa violência do vento, essa agitação das
ondas. Os que ficam em terra não se apercebem de nada. [...] O diabo, quando se
sente desprezado pelo penitente, rebenta em escândalos e levanta uma tempestade;
e só se vai embora «gritando e abanando violentamente» (Mt 9,26).
«Jesus
levantou-Se, falou ao vento imperiosamente e disse ao mar: 'Cala-te e está
quieto'». Deus disse a Job: «Quem é que fixou limites ao mar? [...] Eu
disse-lhe: Tu virás até aqui, sem ires mais longe; aqui rebentarás as tuas ondas
tumultuosas» (38,8-11). Só o Senhor pode fixar limites à amargura da perseguição
e da tentação. [...] Quando faz cessar a tentação, diz: « Aqui rebentarás as
tuas ondas tumultuosas»: a tentação cederá diante da misericórdia de Jesus
Cristo. Quando o diabo nos tenta, devemos dizer, com toda a devoção da nossa
alma: «Em nome de Jesus de Nazaré, que ordenou aos ventos e ao mar, ordeno-te
que te afastes de mim» (cf At 16,18).
«E fez-se grande bonança». É o que
lemos no livro de Tobias: «Eu sei, Senhor: aquele que Te honra, depois de ter
sido experimentado nesta vida, será coroado; se sofrer a tentação, será
libertado; se tiver de sofrer, encontrará misericórdia, pois Tu não Te alegras
com a nossa perda. Depois da tempestade, dás-nos a calma; depois das lágrimas e
dos choros, dás-nos a alegria» (3,21-22 Vulg).
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