PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Cara ou coroa?
O Evangelho do
29º domingo continua a nos mostrar a situação de tensão entre Jesus e os chefes
do povo que fazem de tudo para prendê-lo. Nesse texto de hoje vemos uma
armadilha política. Querem colocar Jesus ou contra o imperador romano, César,
ou contra o sentimento de nacionalidade do povo que odiava pagar o imposto ao
invasor estrangeiro. Perguntam se devem pagar o imposto ao imperador. Jesus,
percebe sua maldade – “De quem é a imagem da moeda?”, pergunta. - “De César!”,
Respondem. “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” responde
Jesus (Mt 22,20). Jesus explica que o Reino de Deus não se reduz às categorias
humanas de pagar ou não pagar o tributo a César. Jesus diz que se devem cumprir
as obrigações para com Deus sem se esquecer das obrigações civis para com a
sociedade. O dilema que lhe é colocado é uma situação presente no mundo. Os
cristãos vivem em uma situação onde há um estado paralelo ao Reino de Deus. Há
duas realidades nem oposição nem em servidão. Vimos na história tempos em que a
Igreja assumiu o poder civil. Outras vezes o Estado assumiu posições que dominaram
a Igreja, absorvendo o Estado o direito divino.
Um mundo sem coroa
Penso
que a posição de contraposição não é solução. Jesus, como mestre, dá-nos um
encaminhamento de reflexão: em nossa realidade vivemos um tempo de pós-cristandade
em que os países primam pelo distanciamento do religioso. Se por um lado é bom
o distanciamento da tutela religiosa, por outro lado caímos em uma idolatria
selvagem, onde os Estados se fazem donos do mundo, decidido sobre o bem e o
mal, sobre a vida e a morte. O Salmo nos leva rezar: “Do Senhor é a terra e o
que ela encerra, o mundo e seus habitantes” (Sl 24,1), “dai-lhe a glória que
lhe é devida” (Sl 95,7). É absurdo um estado que se ponha como o cume do poder.
Deve levar em conta Deus e os homens. O estado sem Deus é tirano, pois se põe
no lugar de Deus. Não precisa ser fundamentalista, o que seria pior, pois se
faria dono de Deus. Nem por isso Jesus ensina o desrespeito à autoridade
constituída, como expressa Paulo “sede submissos à autoridade superior que
provém de Deus” (Rom 13,1), O profeta diz que se deve reconhecer a Deus:
“Chamei-te pelo nome e não me reconheceste” (Is. 45,4). Deus rege o mundo
através dos homens que devem reconhecê-lo para serem plenos.
Dar César a Deus
O cristão vive
em um mundo com o qual deve se comprometer. Ao mesmo tempo deve comprometer-se
com o Reino de Deus. Essa junção de compromissos vai levá-lo a solucionar o
dilema apresentado a Cristo: “é justo pagar o imposto a César ou não?” Deve dar
a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. E mais ainda: vai dar César
a Deus, transformando as estruturas injustas. O bom cristão será sempre um bom
cidadão. É urgente na Igreja a formação político-social das comunidades para
que possam, em sua condição, ter os fiéis suficientemente preparados para
transformar as estruturas injustas. Dar César a Deus vai exigir um novo modo de
viver o Evangelho e de implantá-lo nas estruturas da sociedade. Somente vivendo
na justiça na fraternidade poderemos, como Jesus, responder às grandes questões
políticas de nossa sociedade.
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